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Porta dos Fundos, Barbixas e Café com Bobagem ensinam o negócio do humor

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/09/2013 06h00

A popularização da internet e o acesso a equipamentos tecnológicos mais baratos favoreceram a criação de produtoras de vídeo como Porta dos Fundos e Cia. Barbixas de Humor.

Hoje, segundo especialistas, é possível começar a produzir vídeos com um investimento a partir de R$ 10 mil. O valor inclui a compra de uma câmera e um computador para edição. 

De acordo com Anderson Bizzochi, sócio da Cia. Barbixas de Humor, o YouTube é um canal de entrada para quem pretende começar um negócio no humor. 
 
“Na internet é o humorista quem manda. Pelo menos uma ou duas vezes por semana ele tem de colocar vídeo novo no ar para manter o acesso do canal, senão as pessoas não vão acompanhá-lo”, diz.
 
Um exemplo da força do YouTube é o canal Porta dos Fundos, comandado por Fábio Porchat, Antonio Pedro Tabet, Gregório Duvivier, Ian SBF e João Vicente de Castro, que vem conquistando internautas.
 
As esquetes (vídeos curtos) lançadas duas vezes por semana rendem ao grupo uma audiência mensal de 60 milhões a 70 milhões de acessos no YouTube, segundo levantamento feito pela própria produtora.
 
O canal na internet conta com 5,4 milhões de assinantes, que recebem um aviso de cada vídeo postado. 
 

A Porta dos Fundos, no entanto, não é o único exemplo de humoristas empreendedores. O apresentador do “Agora É Tarde”, da Band, Danilo Gentili é sócio de Rafinha Bastos no bar Comedians, em São Paulo (SP).

Oscar Filho, do “CQC”, e os integrantes do Casseta & Planeta mantêm empresas para cuidar de suas carreiras artísticas.

O grupo Café com Bobagem também produz programas de rádio, TV e teatro desde 1989, e a Cia. Barbixas de Humor mantém um canal no YouTube para divulgar vídeos de suas peças teatrais.

De acordo com Ian SBF, um dos sócios da Porta dos Fundos, a empresa levou oito meses para sair do papel. No plano de negócios, a expectativa era que cada vídeo tivesse, em média, 50 mil visualizações.

Para surpresa do grupo, a maioria das esquetes ultrapassa 3 milhões de acessos. “Usamos as redes sociais e parceria com sites de humor para divulgar nossos vídeos”, diz.

Os sócios não divulgam valores de investimento e faturamento, mas afirmam que as despesas com a produção dobraram desde o início do projeto.

“Não dá para ficar gravando em casa. O público quer mais qualidade, quer superproduções”, declara Fábio Porchat.

Segundo Porchat, todo o equipamento de gravação é próprio. O custo é com locação de espaço e figurino. A receita da empresa vem da audiência no YouTube, com a produção de vídeos para empresas e com a venda de camisetas do grupo.

“Para começar um negócio no ramo de humor, é preciso ser engraçado e ter talento para a comédia. Mas para se manter nesse mercado é preciso ter objetivos e uma visão maior da coisa. É nisso que estamos ‘quebrando a cabeça’. Ao mesmo tempo em que é excitante, também é desafiador”, diz Porchat.

Entre as metas da Porta dos Fundos estão o lançamento de DVDs, séries para a TV e filmes. Tudo isso sem abandonar a internet, garantem os sócios.

Companhia de teatro divulga peças na internet

A Cia. Barbixas de Humor nasceu como um grupo de teatro, em 2004, mas foi a internet que impulsionou o negócio dos humoristas Anderson Bizzochi, Daniel Nascimento e Elídio Sanna.

Em 2007, os sócios lançaram um canal no YouTube para divulgar vídeos com trechos de seu principal espetáculo: “O Improvável”, baseado em jogos de humor improvisados a partir de sugestões da plateia. Hoje, o canal conta com 1,5 milhão de assinantes.

“Além de mostrar ao público como é o espetáculo, também usamos os vídeos como portfólio para fechar apresentações nos teatros de todo o Brasil”, declara Bizzochi.

Segundo ele, na época, foram investidos cerca de R$ 10 mil na compra de computadores e equipamentos de filmagem. Por semana, são realizadas sete apresentações com público médio de 600 pessoas.

A receita do negócio vem, principalmente, da bilheteria do teatro e da audiência no YouTube. O faturamento não foi divulgado.

Grupo produz conteúdo de humor para rádio e TV

O grupo Café com Bobagem, criado em 1989, é formado pelos humoristas Oscar Pardini, Ivan de Oliveira, Zé Américo, Enio Vivona, René Vanordem e Robson Bailarino. A equipe escreve e produz quadros para programas de rádio e TV, além de se apresentar em shows e teatros.

As principais participações do grupo, atualmente, são na “A Praça É Nossa”, do SBT, e na rádio Transcontinental FM. “Distribuímos conteúdo de humor para dezenas de emissoras de rádio e até para telefonia celular”, afirma Pardini.

Sobre o sucesso da empresa, ele afirma que o mais importante é se atualizar e estar atento às mudanças de gosto do público.

“Manter-se no topo é muito difícil. Essa onda de ‘stand-up comedy’ trouxe muita gente boa e também muitos decoradores de piadas que vão sumir depois de um tempo. Minha preocupação não é em ser melhor do que eles, mas sim melhor do que eu mesmo a cada dia”, afirma. O grupo não divulgou investimento inicial nem faturamento. 

Empresário pode produzir vídeo com investimento de R$ 10 mil a R$ 50 mil

Segundo a sócia da produtora Sagaz Filmes Silvia Sivieri, cada vídeo demanda planejamento e custos próprios. Enquanto um vídeo produzido em casa quase não tem gastos, uma produção que envolva locação de espaço, transporte e figurino pode sair por R$ 50 mil.

"O barateamento da tecnologia favoreceu o surgimento de muitas produtoras. Hoje, com R$ 10 mil dá para comprar uma câmera, um computador e produzir os próprios vídeos. No entanto, somente aquelas que tiverem qualidade permanecerão no mercado", diz.

Para Sivieri, vídeos de humor têm bastante acesso na internet, principalmente quando estão ligados a uma crítica social ou abordam problemas do dia a dia.

"O pessoal da Porta dos Fundos faz isso muito bem. Não é o humor por si só, os vídeos carregam uma mensagem que repercute em outras mídias, como a TV", declara.

Repertório precisa de constante atualização, diz consultor

O talento para o humor é a porta de entrada para este mercado, segundo o consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de São Paulo) Marcelo Sinelli. No entanto, para empreender na área, é preciso constante atualização do repertório de piadas e ter visão de negócio.

De acordo com Sinelli, muitas piadas são temporais e perdem o sentido ou a graça depois de um determinado período. "Fazer rir é muito difícil. E mesmo para aqueles que sabem como fazer é preciso ter visão de negócio e planejamento para que a empresa vá para frente", diz.

O consultor do Sebrae-SP afirma, ainda, que no plano de negócios da empresa é importante determinar o quanto será cobrado pelo serviço, seja para produzir um vídeo publicitário, uma apresentação de teatro ou de "stand-up comedy".

"Na hora de falar sobre o negócio, deve-se separar o humor da empresa. O empresário precisa estudar cada local de apresentação e cada empresa que lhe pedir um vídeo para saber se vai ser vantajoso para ele", declara.