Dono da Riachuelo teve lições na política e quer ser Steve Jobs das roupas
Há quase dez anos à frente do negócio fundado por seu pai, o empresário Flávio Rocha, 56, promoveu profundas mudanças na administração da Riachuelo, que possui 270 lojas no Brasil. A principal delas foi integrar todos os elos da cadeia produtiva do Grupo Guararapes, controlador da marca, que detém, além das lojas, empresas de confecção, transportadora e financeira.
Inspirado por Steve Jobs, que inovou ao oferecer serviços completos na Apple, da venda do aparelho ao armazenamento de dados em nuvem, diz: "Pretendemos ser a Apple da cadeia têxtil". Para isso, segundo ele, é necessário ter uma visão completa e não fatiada do negócio.
Durante palestra na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), no último dia 30 de junho, ele falou a empresários sobre suas estratégias de gestão e sobre o plano de expansão da Riachuelo, segundo ele, o mais agressivo em 70 anos de empresa. Em 2014, o faturamento foi de R$ 6,1 bilhões.
Seus relatos mostram a experiência em uma grande empresa, mas as dicas podem ser aproveitadas também por micro e pequenos empresários, diz Arão Sapiro, professor de gestão e empreendedorismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Veja alguns pontos a seguir:
1. Não se deixe levar pelo poder
O dono da Riachuelo teve dois mandatos como deputado federal entre as décadas de 80 e 90 e afirma que a política ajudou a moldar seu estilo gerencial.
"A política é uma grande escola de humildade, ensina a conquistar pelo convencimento. Tira o mofo de onipotência que a empresa privada dá. Temos muito poder dentro de nossas empresas, podemos demitir, admitir, pintar as paredes de vermelho a hora que quisermos. A política é o oposto disso", declara Rocha.
Esse conceito pode ser aplicado em empresas de qualquer tamanho, segundo o professor Sapiro. A ideia de que o dono pode tudo é limitada.
"Mais do que mandar, o empreendedor deve ser uma fonte de inspiração. Essa é a cultura de negócios que está florescendo em mercados inovadores. O que vale não é o poder do capital ou da autoridade, mas da paixão pelo o que se faz", declara o professor.
2. Conte com a ajuda de um mentor
Para integrar todos os elos da cadeia produtiva da Riachuelo, o empresário contou com a ajuda do consultor de negócios Eliyahu M. Goldratt, israelense autor do livro "A Meta". Ele incentivou Rocha a buscar o melhor resultado para a empresa como um todo e não em suas unidades de negócio independentes.
Os bônus nas remunerações dos funcionários também passaram a seguir essa lógica e, com isso, a empresa atingiu melhores resultados, segundo Rocha. "Foi uma mudança mágica. O pessoal de logística passou a dar sugestões de melhorias para o varejo e assim por diante."
Uma empresa pequena também pode contar com um mentor, diz Sapiro, do Mackenzie. Ele pode trazer outra visão. "Nem sempre a pequena empresa tem condições de contratar um coach, mas é importante buscar inspiração em leituras, vídeos, histórias de outros empresários, cursos. É necessário ter uma base conceitual e análise crítica, para saber como aquilo pode se aplicar a sua empresa."
3. Desafie conceitos de negócios
"Nós ousamos desafiar solenemente o que aprendemos na primeira aula de marketing, que é a segmentação", diz Rocha.
Em 2013, a Riachuelo inaugurou uma loja na rua Nova, centro de comércio popular em Recife, e bateu recorde de vendas em inaugurações naquele ano, que foi superado quatro dias depois com a abertura da loja na rua Oscar Freire, endereço chique de São Paulo. "Estava demonstrada a versatilidade do nosso modelo de negócio", afirma o empresário.
O professor do Mackenzie diz que pequenos empreendedores podem desafiar conceitos já estabelecidos do mundo dos negócios, como faz a Riachuelo. No entanto, isso deve ser uma decisão estratégica e não um tiro no escuro.
"O empreendedor tem que ousar, buscar um modelo de negócio que seja diferente, que traga um valor que ninguém ainda percebeu. Mas precisa avaliar sempre se o cliente está disposto a pagar por isso, se terá fornecedores, por exemplo."
4. Tenha um propósito
Para o dono da Riachuelo, encontrar o propósito da empresa faz que com todos os envolvidos trabalhem para atingir este objetivo.
"A missão da Riachuelo é democratizar o acesso à moda. É por meio deste propósito que os funcionários terão seus salários maximizados, que os executivos terão bônus robustos, que os dividendos dos acionistas serão maiores e que os fornecedores encontrarão uma relação de ganha-ganha e de longo prazo. Na ausência de propósito, prevalecem os interesses", diz.
Segundo o professor de gestão e empreendedorismo Arão Sapiro, é importante que os funcionários compartilhem do sonho da empresa. "Eles devem se ver como parte da missão, senão, não vão desempenhar seu trabalho como desejado", afirma.
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