"Novidade" pode criar bola de neve e destruir suas finanças, diz especialista
SÃO PAULO – Na última quinta-feira (9), a Câmara dos Deputados aprovou uma medida provisória que permite que o trabalhador desconte até 10% de seu salário, direto da folha de pagamento, para pagar a fatura do cartão de crédito. Embora ainda precise ser aprovada no Senado, ela pode trazer diversas consequências para o bolso das famílias brasileiras.
Essa medida, segundo o educador financeiro e presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros), Reinaldo Domingos, é semelhante ao crédito consignado, por permitir que o funcionário faça um empréstimo com a empresa que, posteriormente, será descontado de seu salário. A dúvida remanescente, ressaltada por Domingos, é: “Se a pessoa já não conseguia viver dentro do padrão de vida que 100% do seu salário podia oferecer, como ficará com menos do que isso?”.
Além disso, se o trabalhador se comprometer com as linhas atreladas ao salário - já que já se pode comprometer 30% do salário em crédito consignado -, seus ganhos podem ser reduzidos em 40%. Isso torna praticamente impossível que o assalariado passe o mês sem novos empréstimos e parcelamentos para aliviar e eliminar as dívidas – e, por sua vez, isso levará ao efeito “bola de neve” e a um endividamento cada vez maior.
É uma medida que pode, de fato, acabar com o planejamento financeiro e levar ao superendividamento da população.
“A conta é bem simples: quem ganha R$ 2 mil terá uma redução de R$ 800, ficando com apenas R$ 1,2 mil”, explica Domingos. É uma redução de quase metade da renda mensal do assalariado. Esses R$ 800, ao invés de utilizados para consignado, poderiam ser destinados para investimentos. "Quando temos educação financeira e praticamos o consumo consciente, só há benefícios", afirma.
A medida também possui suas vantagens: com a instabilidade econômica do país, os riscos de inadimplência estão altos e fazem com que os bancos aumentem as taxas de juros, alcançando 290,43% ao ano. Toda a situação, para Domingos, é uma questão de educação e planejamento financeiro.
“Não deveriam estabelecer apenas medidas para crédito, mas também investir em programas de educação financeira, reforçando que o problema não são as ferramentas de crédito, mas sim a forma como são utilizadas”, disse.
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