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Título de capitalização não é bom porque a renda é zero, diz economista

Aiana Freitas

Do UOL, em São Paulo

05/09/2013 06h00

Não vale a pena investir em títulos de capitalização porque o rendimento deles é sempre zero, e ainda perdem da inflação. A única vantagem é se for sorteado e ganhar o prêmio prometido (mas a chance de isso acontecer é menor do que morrer atingido por um raio).

A avaliação é do economista Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP).

Estudo feito por ele mostra que uma aplicação de R$ 720 por quatro anos na poupança rende quase 13% e chega a R$ 811,47. Num título de capitalização, não rende nada e fica nos mesmos R$ 720.

"O cliente não ganhou juros, e a inflação ainda comeu boa parte do que ele aplicou", diz Samy Dana.

"A conclusão é que, enquanto a poupança atualmente garante um rendimento de pelo menos 6,17% ao ano, os títulos são como guardar dinheiro embaixo do colchão: não rendem nada e ainda podem dar prejuízo quando a inflação está alta."

A Federação Nacional de Capitalização (Fenacap), no entanto, diz que os títulos são interessantes para quem não tem disciplina para guardar dinheiro.

COMPARE O TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO COM A POUPANÇA

APLICAÇÃO PELO PRAZO DE 48 MESES

 TÍTULO ITAÚ PIC 48POUPANÇA
VALOR APLICADOR$ 720R$ 720
VALOR RESGATADOR$ 720 (zero)R$ 811,47 (+12,7%)

APLICAÇÃO PELO PRAZO DE 60 MESES

 TÍTULO BRADESCO 20POUPANÇA
VALOR APLICADOR$ 1.200R$ 1.200
VALOR RESGATADOR$ 1.200 (zero)R$ 1.395,40 (+16,28%)
  • Fonte: Samy Dana, professor da FGV, e bancos. Considerou-se que a rentabilidade da poupança é de 0,5% mais TR (índice aplicado sempre que a Selic está acima de 8,5% ao ano).

Capitalização, sorteio e carregamento

O professor estimou os ganhos dos clientes de dois títulos de capitalização diferentes: o Itaú PIC 48 e o Bradesco 20.

Quem opta pelo Itaú 48 PIC faz um contrato de 48 meses, ou quatro anos. No exemplo usado pelo professor Samy Dana, a aplicação é de R$ 15 mensais (o valor médio aplicado nesse título, segundo o banco).

Nem todos os R$ 15 depositados mês a mês vão para o título propriamente. Uma parte, ou 1,74% do valor, é usada para a cota do sorteio, ou seja, "compra" o direito de o cliente concorrer a prêmios. Outra parte (de 3,89% a 88,26%, dependendo do mês) é usada para pagar a taxa de carregamento, que é uma espécie de taxa de administração.

A terceira parte é que vai para a capitalização, em percentuais que variam de 10% a 94,77%, dependendo do mês. Nos primeiros meses, geralmente a maior parte do valor depositado vai para a cota e para a taxa, e a menor parte fica na capitalização. Com o passar do tempo, essa lógica se inverte.

Ao fim do prazo, retorno é igual a zero

As regras determinam que o aplicador tem o direito de receber de volta o valor investido com correção de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial.
 
Só que, na prática, a correção do dinheiro é calculada de tal forma que dá zero em relação à aplicação original.
 
Pelas contas do economista, no exemplo acima, ao fim dos 48 meses, o consumidor teria pago R$ 12,53 pela cota do sorteio, R$ 66,99 pela taxa de carregamento e R$ 640,48 para a capitalização em si.
 
Ele resgataria, então, esses R$ 640,48 mais a correção, o que daria R$ 720 (no final das contas, o mesmo valor que ele aplicou). Se a inflação do Brasil ficar dentro da meta nos próximos anos (4,5% anuais), o título nem acompanharia a alta de preços.

Caso tivesse aplicado o dinheiro na poupança, esse mesmo cliente ganharia bem mais. Todo o dinheiro aplicado seria corrigido por 0,5% ao mês (o rendimento da poupança quando a taxa Selic está acima de 8,5% ao ano, como agora) mais TR. Ao final, ele teria R$ 811,47.

É mais fácil ser atingido por um raio

O cenário é o mesmo para o consumidor que optar pelo título de capitalização Bradesco 20. Nesse caso, foi considerada uma aplicação de R$ 20 por 60 meses, ou cinco anos.

Ao fim do período, dos R$ 1.200 que ele teria investido, R$ 26,16 teriam ido para a cota de sorteio, R$ 134,78 para o carregamento e R$ 1.039,06 para a capitalização em si.

Em cinco anos, o valor de R$ 1.039,06 teria sido corrigido em 0,5% ao mês mais TR (zero), resultando em R$ 1.200, exatamente o valor total que ele aplicou.

Na poupança, se aplicasse os R$ 20 mensais, ou R$ 1.200 no total, esse cliente teria, ao fim de cinco anos, R$ 1.395,40.

Todas essas simulações consideram que o cliente teria deixado o dinheiro aplicado no título até o fim do contrato. Se optasse por resgatar o dinheiro antes, o título se mostraria ainda pior, porque, nesse caso, o consumidor precisaria pagar uma espécie de "multa" pela desistência.

As simulações também não levam em conta a possibilidade de o cliente do título ser sorteado e ganhar prêmios em dinheiro, o que tornaria a aplicação, certamente, muito mais interessante do que qualquer investimento.

As chances de um consumidor ser sorteado, no entanto, é mínima: uma em 500 mil nos casos de títulos com 500 mil participantes, por exemplo. É mais fácil morrer atingido por um raio (nesse caso, a chance é de uma em 126 mil).

"Muita gente ainda opta pelo título de capitalização porque falta educação financeira e porque o brasileiro gosta de jogar", diz o economista Samy Dana.