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Cuidado: personalidade controladora pode afundar a empresa

Marco Roza

Do UOL, em São Paulo

17/12/2014 14h16

É muito comum empreendedores de primeira viagem adotarem (ou deixarem aflorar) uma personalidade controladora. São profissionais bem intencionados que de absolutamente controlados nos seus empregos anteriores, ou por algum problema psicológico não superado, se tornam gestores que não deixam escapar uma vírgula quando abrem a própria empresa.

São onipresentes, sempre atentos, sempre cobrando resultados. Num primeiro momento, quando ainda estão na organização inicial da empresa, até funcionam.

Pois checam tudo, conseguem negociar os melhores preços para equipamentos e suprimentos. E distribuem com justiça as respectivas responsabilidades. São respeitados pela eficiência.

Mas...

Mas depois de tudo devidamente nos lugares, o que faz uma empresa ser-bem sucedida são as pequenas invenções diárias, os desvios (intencionais ou não) que ao serem corrigidos faz com que a equipe ache ou esbarre numa solução inovadora.

Esse comportamento mais ou menos aleatório de todos nós, mesmo quando atuamos com a melhor das intenções, faz surgir uma organização flexível, capaz de estimular e combinar os resultados de várias equipes ou as contribuições diferenciadas de vários funcionários.

Ou seja, o resultado final será sempre uma média que escapará, na imensa maioria das vezes, de uma previsão e de um controle rigorosos.

É aí que os gestores maníacos por controle começam a perder o comando da própria empresa. Vão descobrir, aos poucos, que a sua autoridade é continuadamente desafiada pela realidade. E sua onipresença e rigor ao exigir resultados faz acontecer o fenômeno que os metalúrgicos chamam de “espanar a rosca”, que ocorre quando se aperta demais um parafuso.

Aí o dono em vez de virar um líder, vira um chato. E os melhores profissionais que confiaram na sua capacidade organizativa inicial, começam a olhar para outras vagas fora da empresa.

O pior, com o tempo, menos de um ano, a equipe toda percebe que o dono da empresa não sabe mobilizar e motivar talentos. Percebe também que, apesar de ser um profissional competente, tem dificuldades imensas para harmonizar uma equipe.

É o início do fim.

Se cair a ficha, o dono pode se afastar do gerenciamento diário e delegar a função para um profissional da própria equipe. Mas, se predominar a personalidade controladora, os desencontros, as ordens não cumpridas, a tensão interna chegará a níveis impossíveis de serem administrados.

Aí, o alívio geral virá, infelizmente, só mesmo com o fechamento ou venda da empresa.