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Reinaldo Polito

Por que ainda zombam de discurso de Dilma? Falta algo essencial: contexto

16/10/2018 04h00

Contexto. Para facilitar a nossa compreensão, vamos recorrer à definição de contexto dada pelo dicionário Houaiss: "inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação". Se pensarmos em termos de discurso, o mesmo dicionário define como sendo: "o conjunto de palavras, frases, ou o texto que precede ou segue a determinada palavra, frase ou texto, e que contribuem para o seu significado; o encadeamento do discurso".

E para não ficarmos em apenas uma definição, o Aurélio define como “conjunto; todo, totalidade”. No linguajar do cotidiano é “o que tem a ver”. Tanto que, quando alguém se refere a um fato fora de contexto, o comentário imediato que se ouve é “isso não tem nada a ver”.

Aprender a contextualizar é uma arte que se desenvolve com estudo, com a observação e com a prática. O primeiro passo é aprender a se perguntar sempre: em que contexto se insere esse fato ou essa informação? A noção do todo nos ajuda a compreender especialmente a relevância do que está sendo tratado.

Poucos se motivariam a aprender a falar bem, por exemplo, sem ter noção do contexto em que se insere essa competência. Tudo passa a ter outra dimensão, entretanto, quando esse aprendizado é contextualizado. A motivação passa a ser outra quando a pessoa sabe que a habilidade de falar em público terá utilidade fundamental para que se saia bem em praticamente todas as atividades, seja na vida corporativa ou no relacionamento pessoal.

Assim ocorre com tudo o que nos cerca. As matérias escolares seriam vistas com outros olhos se os estudantes soubessem qual a aplicação prática daqueles conceitos aparentemente tão abstratos. Se fossem informados de como cada um deles teria aplicação ao longo da vida. Afinal, por que é importante aprender a fazer raiz quadrada, análise sintática ou conhecer a história dos países europeus?

A primeira definição de contexto do dicionário Houaiss talvez seja a mais interessante para a nossa reflexão. É preciso saber inter-relacionar os fatos e as informações às mais diferentes circunstâncias com as quais tenham ligação direta ou indireta. Até fatos vistos à primeira vista como absurdos poderiam ser avaliados de forma positiva se associados a informações consistentes.

Vamos tomar como exemplo um fato que foi e ainda é motivo de zombaria. Certa vez a ex-presidente Dilma Rousseff levantou a hipótese de que o vento poderia ser ensacado e guardado para usos posteriores. Ela mesma se antecipou afirmando que isso seria impossível, mas os críticos não perdoaram. Até hoje quando se comentam sobre as gafes que ela cometeu essa é uma das primeiras a ser lembrada.

Se Dilma tivesse colocado essa informação dentro de um contexto histórico, poderia ser vista como mais verossímil. Provavelmente a reação das pessoas seria diferente. Se antes de aventar a possibilidade de que ensacar vento seria uma solução para a geração de energia, recorresse à mitologia grega, contando uma das passagens mais interessantes da Odisseia, talvez não fosse ridicularizada. Poderia ter dito, por exemplo:

Infelizmente a solução dada pelos gregos não passa de uma fantasia, e, portanto, não se aplica na realidade. Como a maioria sabe, de acordo com a mitologia grega o vento pode ser armazenado. Em uma das passagens da Odisseia conhecemos a história em que Odisseu permaneceu por um mês na ilha de Eólia.

Durante sua estada, o viajante contou suas aventuras e recebeu de Éolo um saco feito com pele de um novilho de nove anos de idade. Dentro desse saco de couro, estavam armazenados todos os ventos, exceto o vento do oeste, que ficara solto propositalmente para que Odisseu pudesse retornar para casa.

Os homens que acompanhavam Odisseu não resistiram à cobiça e abriram o saco. Imaginando que dentro dele pudesse haver metais preciosos como prata e ouro. Com os ventos soltos, acabaram por se afastar do destino que era Ítaca e retornaram a Eólia. Éolo ficou furioso e os expulsou da ilha.

E poderia completar dizendo, por exemplo: vejam que nem na história fantasiosa grega os ventos puderam permanecer presos. Nós, muito menos, poderíamos ter essa pretensão na nossa realidade. Talvez o resultado de seu discurso tivesse sido outro.

Por isso, pense sempre em contextualizar o que disser ou realizar. Um projeto, por exemplo, seria avaliado com mais interesse se não fosse exposto apenas pela sua importância em si, mas sim se ficasse evidente sua relevância dentro dos objetivos maiores da empresa.

Há pelo menos três formas para se contextualizar um fato ou uma informação:

- Associá-los a outras informações no tempo que possam tornar clara sua relevância. São importantes nessa situação os exemplos históricos.

- Juntar as partes para que sejam compreendidas no todo. Por exemplo, como o bom funcionamento dos diversos departamentos contribui para o sucesso da organização.

- Explicar o todo para que as partes sejam compreendidas. Aqui o raciocínio é inverso. No mesmo exemplo, como o sucesso de uma organização pode ser explicado pelo bom funcionamento dos diversos departamentos.

Ao tomar decisões ou comunicar informações importantes, analise sempre como elas poderiam ser explicadas dentro do contexto para que sejam mais bem compreendidas e recebidas.

Superdicas da semana:

  • Procure incluir todos os fatos e informações no contexto adequado
  • Reflita sempre se seus projetos ou propostas estão bem contextualizados
  • Analise se o que realiza é parte de um todo. Mostre como se dá o contexto
  • Aprenda a avaliar sempre o motivo do que faz ou pretende fazer

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; “Vença o medo de falar em público”, “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", “Superdicas para falar bem”, “Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM”, “As melhores decisões não seguem a maioria” e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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