Dez erros que destroem uma live
O que mais assusta em um insano é a sua conversa sã.
Anatole France
As lives vieram para ficar. Gosto muito de lives, não só para assistir, como também, e principalmente, para participar. Nessa época de pandemia, já fiz quase uma centena. Uma mais desafiadora que a outra. Algumas dão resultado tão positivo que as pessoas pedem para repetir. Agora, na próxima quinta-feira, 29, às 20h30, no meu Instagram, por exemplo, farei a quinta com o Max Gehringer. O tema será "A vida de palestrante".
Algumas lives, entretanto, são detestáveis. Dá para observar pelo contador de audiência que as pessoas vão desistindo de assistir desde os primeiros minutos. Já vi situações desesperadoras, com a audiência chegando a praticamente zero. Por que será que essas conversas não conseguem segurar a atenção e despertar o interesse?
Vamos ver quais os principais motivos que levam essas apresentações a se tornarem desinteressantes. Vou me ater à live em dupla. Ela pode ser considerada ruim quando:
1 - O conteúdo é fraco, desestimulante ou inexistente
Esse talvez seja um dos motivos mais fortes para que uma live não desperte o interesse das pessoas. Se não apresentar conteúdo relevante, como poderia prender a atenção durante uma hora? Não prende mesmo. A não ser que um dos participantes, ou até os dois, sejam pessoas engraçadas, bem-humoradas, boas contadoras de casos e consigam transformar a conversa em excelente entretenimento. Por sinal, essa leveza deve estar presente sempre que possível.
Por isso, se alguém se dispuser a fazer lives apenas por fazer, espantará a audiência. É preferível fazer menos a correr o risco de desgastar a imagem. O excesso torna os assuntos repetitivos, sem ritmo e sem atrativos. Mesmo que um tema seja reprisado, os pontos abordados deverão ser distintos daqueles já discutidos em lives anteriores.
2 - O tema proposto não é cumprido
Algumas pessoas fazem publicidade da live com títulos muito chamativos. Ocorre que o assunto discutido não chega nem perto do que foi prometido. Quase sempre nos interessamos por uma live porque o tema nos é atraente. Ora, se a conversa começa a se distanciar do que foi anunciado, nos sentimos traídos e temos a tendência de nos ocuparmos de outras tarefas.
Há situações em que a conversa toma um rumo diferente, mas o próprio ritmo do diálogo demonstra que aquela nova abordagem se tornou até mais interessante. Se isso acontecer uma vez ou outra, tudo bem. O que não pode é querer usar sempre esse artifício apenas com o objetivo de atrair audiência.
3 - As pessoas não sabem se comunicar
Ninguém precisa ser orador excepcional para conversar numa live. Esses eventos pedem até diálogos mais espontâneos, sem a comunicação grandiloquente dos palcos onde se apresentam os palestrantes. Se, entretanto, aquele que se expressa, apresenta muitos vícios de linguagem e se vale dos irritantes né? tá? no final das frases, ou dos não menos chatos ããã, ééé durante as pausas, vai se transformar num espantalho de audiência.
Da mesma forma, a live perde o encanto se a pessoa falar com muitos problemas de dicção, volume de voz muito elevado, ou muito baixo; contar histórias muito longas, interromper o interlocutor o tempo todo, truncando as ideias, impedindo que o raciocínio seja concluído.
4 - A iluminação é deficiente
Por falta de cuidado, de conhecimento, ou de experiência, alguns deixam a luz atrás da sua imagem, e a fisionomia praticamente desaparece. Ou até nem usa a luz atrás, mas também não ilumina de forma conveniente o semblante. Esse é um detalhe que tira a atenção e desmotiva as pessoas a acompanharem a conversa.
Ninguém precisa se preocupar com iluminação profissional, mas deve cuidar para que sua fisionomia possa ser vista. Às vezes, só o fato de aproximar a luz, ou trocar a lâmpada por outra um pouco mais forte pode ser suficiente para resolver o problema.
5 - A internet é fraca
Se a internet não tiver qualidade, a imagem começa a travar, o som se torna inaudível e o pensamento fica truncado. Esses fatos podem ocorrer eventualmente, mas se as pessoas perceberem que é um problema constante, por falta de qualidade técnica, acabam perdendo o interesse.
Há ocasiões em que é preferível desligar o Wi-Fi e deixar apenas com o 4G, por exemplo. Vale a pena fazer o teste para verificar o que funciona melhor. O contrário também pode ocorrer. Por isso, é importante experimentar o funcionamento pouco antes de iniciar a live.
6 - O parceiro de live não tem timing
O meu amigo Mário Romão, lá de Lisboa, tem uma expressão muito boa para definir alguém que sabe dar ritmo a uma conversa. Ele diz que essa pessoa tem "pedalada". É aquele que não deixa o assunto morrer. Ao perceber que o interlocutor está terminando o que pretendia falar, entra com uma pergunta, ou conta uma história curiosa.
Em algumas lives, o interlocutor não tem esse jogo de cintura, e os assuntos vão morrendo, um atrás do outro. A não ser que o parceiro seja uma pessoa muito comunicativa e espirituosa para dar conta sozinho do recado, a live fracassa.
7 - O horário não é cumprido
Um pequeno atraso por questões técnicas é até perdoável, mas atrasar por descuido ou descaso, é condenável. As pessoas aguardam um tempo, esperando que tudo se resolva, mas ao não receberem nenhuma notícia do ocorrido, desistem e vão procurar o que fazer. E depois que saem dificilmente retornam.
Por isso, é sempre conveniente dar um toque em quem vai participar da live pouco antes do início. Se, por acaso, houver algum problema, um dos participantes deverá iniciar, falando do tema que será discutido até que seu parceiro possa chegar.
8 - Um dos participantes fica aguardando sem falar nada
Nem sempre as pessoas entram exatamente no mesmo horário para participar da live. Aquele que iniciar, enquanto o companheiro não pede para participar, como já sabe qual será o assunto a ser discutido, deverá falar sobre o tema como se estivesse fazendo uma introdução.
Muito melhor que adotar aqueles inícios chatos: "estamos aqui aguardando o fulano", "e aí, será que ele está com algum problema?", "já, já ele estará aqui, vamos aguardar". E ali, na frente da câmera, sem dizer nada, com aquela cara de chateado, sem saber bem o que fazer. É um convite para que as pessoas desistam.
9 - Não há assunto para o tempo determinado
Não é tão incomum assim. Em certas lives, depois de quinze, vinte minutos, meia hora no máximo, o assunto já está esgotado. Fica nítido que ninguém tem mais nada a acrescentar. Como solução, começam a conversar sobre nada, tornando o diálogo desinteressante. O contador de audiência despenca rapidamente.
O ideal é sempre levar um roteiro com várias questões que poderiam ser discutidas, e deixar essas informações à mão. Ao perceber que os primeiros tópicos já foram cumpridos e que ainda falta muito tempo para o término da conversa, os assuntos adicionais poderão ser a salvação.
10 - Os participantes se comportam com artificialismo
A live tem por característica básica a conversa espontânea. É como se duas pessoas estivessem trocando ideias em uma sala de visitas. A audiência acompanha como se também participasse da conversa. É por isso que se expressar de maneira afetada, caprichando demais na pronúncia das palavras, usando termos que não são muito comuns no dia a dia, tiram a leveza da live.
Outro ponto importante é a necessidade de o parceiro de live reagir de acordo com o clima do momento. Assim, se o companheiro disser algo engraçado, deve reagir com um sorriso ou até com gargalhadas, dependendo do caso. Para isso, é preciso prestar bastante atenção para que a reação seja imediata e natural.
Superdicas da semana
- Prepare muito bem o conteúdo da sua live
- Escolha parceiros que tenham o que dizer e que sejam bons de conversa
- Teste tudo com antecedência
- É preferível fazer menos lives, mas sempre com conteúdo atraente
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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