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Reinaldo Polito

A fascinante história de um dos maiores oradores do mundo

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Imagem: Shutterstock

Colunista do UOL

29/06/2021 04h00

Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.
Voltaire

Se algumas pessoas acham difícil falar diante de uma câmera na comunicação a distância hoje, imagine, então, se tivessem de se apresentar para mais de 23 mil ouvintes, no final dos anos 1800, sem o auxílio de microfone. E mais, discursar com tanta competência que nem todos os interessados conseguissem lugar para assistir.

Essa história, que mais parece cena de ficção, é real e muito inspiradora. Estou falando de um dos maiores oradores da história mundial, Charles H. Spurgeon, conhecido como o "Príncipe dos pregadores". Ele nasceu em 19 de junho de 1834, em Kelvedon, na Inglaterra, e faleceu em 31 de janeiro de 1892, em Menton, na França.

Começou bastante jovem

Quando tinha 15 anos de idade, em 1850, após assistir a uma pregação de um diácono chamado John Eegle, Spurgeon se converteu ao cristianismo. Somente um ano depois, contando com apenas 16 anos, já pregava o seu primeiro sermão. Desde cedo defendeu a tradição Batista reformada.

Aos 20 anos já atuava como pastor na Capela Batista de New Park Street, em Londres, que viria a ser o Tabernáculo Metropolitano. Durante quase 40 anos, Spurgeon pregou de oito a doze sermões por semana. Sua produção foi tão intensa que se juntássemos todas as suas pregações, preencheríamos com facilidade uma enciclopédia.

Falava sem microfone

Todas as semanas, somando os cultos, cerca de 10 mil pessoas compareciam para assistir às suas pregações. Chegava a falar para mais de seis mil pessoas em um único dia no final de semana. No encerramento de suas pregações, ele pedia aos fiéis que não comparecessem na semana seguinte para que outros, que não haviam conseguido entrar, pudessem assistir.

O mais impressionante é que Spurgeon falava para milhares de pessoas sem poder contar com o auxílio do microfone, já que esse aparelho só foi inventado em 1876 por Emile Berliner, e aperfeiçoado um ano depois por Alexander Graham Bell, que adquiriu a patente por 50 mil dólares.

Para que suas mensagens pudessem ser ouvidas no Tabernáculo, e em todos os locais, nos mais diversos países, onde era convidado a pregar, ele se valia apenas do poder de sua voz e da acústica das salas. E encantava a todos os que o assistiam.

A maior plateia reunida para ouvir sua pregação foi de 23 654 pessoas, no The Crystal Palace, de Londres, em 1857. Durante duas horas, "o último dos puritanos" falou com energia e muito entusiasmo para aquela verdadeira multidão. O culto foi em uma quarta-feira à noite, e seu esforço para manter a atenção do público foi tão desgastante que precisou dormir até na sexta-feira pela manhã para recuperar as forças.

Os sermões eram a palavra de Deus

Spurgeon julgava que os sermões eram inspirados por Deus, portanto, a própria palavra do Senhor. Tanto que certo dia, como sofria de gota e reumatismo, teve de se ausentar da pregação, mas mesmo assim compareceu a uma capela próxima de sua casa. Por coincidência o pregador falava para os fiéis usando um dos sermões de Spurgeon.

No final, ao reconhecê-lo, ficou bastante constrangido, e se desculpou. Spurgeon não se incomodou. Disse que importava apenas a palavra de Deus, e ela estava naquele sermão. Até hoje seus sermões são repetidos em todos os cantos do mundo, e inspiram outros pregadores a seguirem os seus passos.

Neste mês de junho, não apenas os Batistas, mas também fieis das mais diferentes religiões celebram os 187 anos de nascimento desse extraordinário pregador. Ele deixou um legado que tem servido para reforçar a fé e dar esperança a inúmeras pessoas.

Superdicas da semana

  • Quando nos apaixonamos por uma causa, nunca é cedo demais para começar
  • Podemos aprender a falar bem estudando os maiores oradores da história
  • Não há dificuldade que não possa ser superada com estudo e disciplina
  • A palavra de Deus é a mesma para todos os que creem Nele

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Oratória para líderes religiosos", publicado pela editora Planeta. "Como Falar Corretamente e sem Inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.