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Reinaldo Polito

Roberto Jefferson rompeu com Bolsonaro?

Roberto Jefferson - Valter Campanato/Agência Brasil
Roberto Jefferson Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil

Colunista do UOL

02/11/2021 04h00

Em política, convém curar os males, nunca vingá-los.
Napoleão

Uma notícia explodiu como autêntica bomba: Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB, e ferrenho aliado de Bolsonaro, havia rompido com o chefe do executivo. Pelas informações veiculadas, Jefferson estava decepcionado com as atitudes do presidente. Disse que "o povo saiu às ruas para dizer, eu autorizo. Não havia volta, não havia transigência com as velhas práticas. Mas, por algum motivo, Bolsonaro fraquejou".

A informação mais relevante dessa carta, que teria sido escrita de dentro da cadeia por Jefferson, tem o teor de verdadeiro tsunami: "Bolsonaro e seu filho Flávio (senador pelo Patriota - RJ) se viciaram em dinheiro público". Por esse motivo, estava conclamando o partido a lançar candidato próprio à presidência. Iriam convidar para concorrer o atual vice-presidente Hamilton Mourão.

Uma última questão que merece análise. Disse que "Bolsonaro se cercou de viciados, como Ciro Nogueira e Valdemar da Costa Neto, e que se tornou um deles - quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio".

Quem acompanhou os pronunciamentos e entrevistas do presidente do PTB no último ano, por vários motivos, estranhou essas críticas, que mais pareceram um rompimento nas relações com Bolsonaro.

Motivo tardio

Primeiro, por que Jefferson teria se manifestado sobre o comportamento de Bolsonaro somente agora? Afinal, de 7 de setembro para cá já se passaram quase dois meses. É tempo demais para se revoltar com relação a um tema tão relevante.

Não rouba e não deixa roubar

Segundo, e ainda mais importante. Qual o motivo de tentar ligar o nome do presidente ao vício de dinheiro público? Não nos esqueçamos de que ele, dia sim, outro também, dizia em alto e bom som que Bolsonaro havia se postado na porta do cofre com a firme determinação de "não rouba e não deixa roubar".

Mudança de candidato

Terceiro, por que resolver lançar um candidato próprio neste momento? O que o presidente do PTB e praticamente todos os membros da agremiação afirmavam é que convidariam Bolsonaro para se filiar ao partido e, assim, concorrer com eles à reeleição. Se, por acaso, não houvesse essa filiação, o PTB daria todo o apoio à sua candidatura em qualquer partido que estivesse.

Vivência política

Quarto, se fosse um político ingênuo, de primeiro mandato, vá lá. Ocorre que Jefferson cumpriu seis mandatos como deputado federal pelo PTB. Está mais que acostumado com os "acertos" nos gabinetes da Câmara. E quando falo em "acertos" não me refiro necessariamente a dinheiro, mas sim a cargo, poder, relevância política. Nada mais natural que se aproximar dos políticos influentes para viabilizar seus planos de governo. Ele sabe disso, pois vivenciou e, como presidente de partido, vivencia essa realidade.

O que aconteceu?

O que teria acontecido na prisão ou no hospital para que Roberto Jefferson mudasse tanto de opinião? Teria ele se sentido abandonado? Concluiu que esses aliados foram ingratos? Pensou nesses meses de reclusão ter sido traído ou desconsiderado pelo presidente, depois de colocar seu pescoço na corda defendendo as mesmas causas que Bolsonaro, expressa ou tacitamente, defende? Depois das cirurgias e com o tempo de confinamento, ficou abalado emocionalmente?

Uma explicação, aparentemente, plausível foi dada pela presidente em exercício do PTB, Graciela Nienov. Disse que se tratou apenas de um desabafo. Em momento algum falou-se em rompimento com o presidente Jair Bolsonaro. E que continuavam dando apoio a ele, já que se trata de um homem de bem.

É possível que, quando tiver condições, Jefferson venha a público para esclarecer exatamente o que pretendeu dizer. Não duvido que no final até fique o dito pelo não dito. Por enquanto é esperar para ver.

Seja qual for a explicação a ser dada por Jefferson, pela repercussão de sua mensagem, dá para fazer uma constatação - ele continua sendo uma forte influência nos destinos políticos do país.

Superdicas da semana

  • Na política, como em tudo mais, precisamos contar com uma parcela de energia e com outra de jeito - Gustavo Capanema
  • Os políticos não amam, nem odeiam - Dryden
  • A arte do político consiste em fazer com que cada um tenha interesse em ser virtuoso - Helvétius
  • A política é quase tão excitante como a guerra, e não menos perigosa. Na guerra a gente pode morrer uma vez, mas na política diversas vezes - Winston Churchill

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar os outros" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.