Lula e Bolsonaro vão protagonizar a luta do século
Toda discussão se reduz a dar ao adversário a cor de um tolo ou a figura de um canalha.
Paul Valéry
Lula e Bolsonaro estarão frente a frente no próximo dia 28, domingo, no debate promovido por um pool da imprensa: Folha, UOL, TV Bandeirantes e TV Cultura.
Os dois candidatos, que polarizam na corrida presidencial, irão protagonizar o que se costuma denominar no boxe "a luta do século". Nenhum debate nos últimos tempos despertou tamanha atenção.
A luta do século passado
Talvez o único a provocar tanto interesse tenha sido aquele realizado em 1981 pelo SBT no período militar. Os dois candidatos ao governo de São Paulo, Franco Montoro (PMDB) e Reynaldo de Barros (PDS), ficaram cara a cara para discutir suas ideias em rede nacional. Todo mundo queria assistir.
Durante muitos anos os brasileiros estavam alijados dos confrontos entre candidatos a cargos eletivos. Era o primeiro debate transmitido para todo o país depois que os militares tomaram o poder. Havia, portanto, grande ansiedade para ver os adversários em ação.
O medo de que os militares pudessem ficar incomodados com o evento era tamanho que Silvio Santos, dono da emissora, havia ameaçado o jornalista Ferreira Netto, mediador do encontro, que retiraria o programa do ar caso alguma ocorrência saísse de controle. Foi um marco na história do jornalismo nacional.
100 milhões a mais
Agora, com a população quase dobrada, de 120 milhões nos anos 1980 para 215 milhões no momento atual, e com os meios de comunicação atingindo praticamente todos os cantos do nosso território, mais gente está aguardando esse tão esperado embate. Vai pegar fogo. Os outros candidatos, embora possam atrapalhar ou ajudar, serão meros coadjuvantes.
Lula tem fama de ser bom orador. Bolsonaro, por outro lado, recebeu o carimbo de não saber se expressar bem. É preciso, entretanto, separar os fatos reais das narrativas que se constroem. Ninguém vence uma eleição presidencial se não tiver boa comunicação. Dilma Rousseff deve ser mencionada por ser a exceção que confirma a regra.
Cada um com seu jeito
Cada um com seu estilo, suas estratégias, sua experiência, se empenhará para vencer essa contenda. Bolsonaro tem suas vantagens e defeitos. Da mesma forma que Lula tem suas virtudes e fraquezas.
Há que se considerar também que uma coisa é falar para a própria bolha de seguidores, que aplaudem e ovacionam tudo o que seu candidato disser. Outra, diferente, é ficar diante do seu antagonista tendo de responder às perguntas capciosas, provocações e até agressões.
O sarcasmo de Lula e a truculência de Bolsonaro
O sarcasmo de Lula, que funciona tão bem com seu eleitorado cativo e deu certo nos debates com Alckmin em 2006, provavelmente não terá o mesmo efeito com seu atual adversário. O petista precisará conter a língua para não acusar, como tem feito em seus comícios, o seu oponente de fascista e genocida, a não ser que encontre forma de sustentar esta tese.
Da mesma maneira, a fala truculenta e áspera de Bolsonaro não deve dar bom resultado nas discussões com o petista. Falar, sem contestação em suas lives e em suas motociatas, que Lula arrebentou o país desviando dinheiro das estatais tem um efeito. Usar esses mesmos argumentos sem a devida cautela nessa discussão poderá ter outro.
Eleitores mais bem preparados
O povo está mais politizado. As pessoas terão condições de analisar se os ataques são gratuitos, apenas com intenção eleitoreira, ou se são consistentes, baseados em fatos que possam ser comprovados. Os dois precisarão medir bem as palavras e se preparar muito para refutar os ataques que irão receber.
Tomara que discutam os programas que desejam implementar caso sejam eleitos. Lula teve oito anos de gestão para mencionar seus feitos. Bolsonaro teve os últimos quatro anos. Parte do que desejam realizar já foi apresentado em seus discursos recentes. Com certeza serão cobrados por essas promessas.
Será que vão ratificar o que estão revelando aos seus seguidores? Ou tentarão mudar o discurso para não se comprometer? O adversário não permitirá que a conversa mude agora no meio do caminho.
Enfim, essa não perco de jeito nenhum.
Superdicas da semana
- Para participar de um debate é preciso estudar e ensaiar bem a linha de argumentação
- Para ter sucesso em um debate é necessário prever os argumentos contrários
- Cada argumento favorável será a tese
- Cada argumento contrário será a antítese
- Do choque entre a tese e a antítese surgirá a síntese, base para o julgamento
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Assim é que se fala", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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