Lula arruma confusão quando se envolve em questões diplomáticas
Reservo-me com firmeza o direito de contradizer-me.
Paul Claudel
Quando visitei Israel, fiquei surpreso ao descobrir que na área central de Jerusalém havia uma praça com o nome do brasileiro Oswaldo Aranha. Esse gaúcho, natural de Alegrete, ocupou cargos importantes de 1930 a 1954. Foi governador do Rio Grande do Sul, ministro da Agricultura, da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores. Atuou também como Embaixador nos Estados Unidos.
Ficou notabilizado, porém, por ter sido presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas entre os anos de 1947 e 1948. Devido à sua atuação neste órgão, especialmente pelo fato de adiar por três dias a votação que garantiu a aprovação da partição da Palestina britânica, contribuiu para a criação do Estado de Israel em 1948. Por isso, a homenagem recebida.
Reconhecendo
Além dessa participação de Oswaldo Aranha, o Brasil também estreitou laços com os judeus por ter sido um dos primeiros a reconhecer o Estado de Israel. Se não bastasse, em 1951, foi criada a Legação do Brasil em Telavive, que no ano de 1958 seria elevada à categoria de Embaixada.
O Brasil também reconhece a existência do Estado Palestino. Foi Lula, em 2010, que, atendendo ao pedido feito pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, fez o reconhecimento.
Receptivos
Ao visitar a Palestina, pude sentir a consideração daquele povo com os brasileiros. Atenciosos, cordatos, nos tratam com gentileza e muita amabilidade. A minha experiência com os dois países foi, enfim, muito positiva.
Lula, entretanto, com seus pronunciamentos, em vez de ajudar, atrapalha. Suas palavras não têm colaborado com a diplomacia brasileira. Em visita à Espanha, meteu os pés pelas mãos. Sem medir bem as palavras, disse:
Veja que a ONU (Organização das Nações Unidas) era tão forte que em 1948 conseguiu criar o Estado de Israel. Em 2023, ela não consegue criar o Estado Palestino.
André Lajst, presidente-executivo da StandWithUs Brasil, não se conteve, e refutou:
Ao contrário do que disse o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje em Madri, Israel não foi criado pela Organização das Nações Unidas. Em 1947, o que a Partilha da ONU preconizou foi a criação de dois países, um para os judeus e outro para árabes. Os judeus aceitaram, os árabes, não.
E para deixar mais clara a situação, complementou:
O Estado de Israel foi fundado depois de uma guerra empreendida pelos exércitos do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque contra os judeus.
Outra entidade, o Instituto Brasil-Israel, que atua na divulgação de Israel e no combate ao antissemitismo, também emitiu nota de repúdio. Afirmou não concordar com A imprecisão dos fatos descritos.
Essa visão poderia provocar uma incompreensão sobre o conflito entre Israel e Palestina. É um tema complexo e o caminho para a paz exige, também, profundo conhecimento da situação.
Pronunciamentos infelizes
Lula não tem mesmo sido muito feliz em seus pronunciamentos mundo afora. Há pouco tempo havia arrumado outra confusão, dessa vez com os ucranianos. O presidente disse:
Assim como a Rússia, a Ucrânia tem responsabilidade pela guerra.
E como não fosse suficiente derrubar o pão, deixou que fosse ao chão com a manteiga voltada para baixo: Os Estados Unidos e Europa contribuíram para a continuidade do conflito. Ou seja, descontentou quase o mapa-múndi todo.
Reações
As reações negativas chegaram de todos os cantos. O porta-voz de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, entre indignado e irônico afirmou: O Brasil está papagueando a propaganda russa e chinesa. Era tudo o que não precisávamos ouvir.
Por parte dos ucranianos também não houve silêncio. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko disse:
Colocar a vítima e o agressor na mesma escala, e os países que ajudam a Ucrânia a se defender das agressões mortais como acusados de encorajar a guerra, não corresponde à situação real.
Mudança de tom
Diante das repercussões negativas, ao perceber o tamanho da encrenca em que havia se metido, Lula tentou consertar. Mudou o tom e condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia. Em discurso lido, afirmou:
Ao mesmo tempo em que o meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito.
Pois é, a nossa diplomacia, que sempre foi admirada por sua conduta irrepreensível, agora é obrigada a apagar esses incêndios provocados por declarações equivocadas e inadequadas.
Tomara que sejam apenas enganos passageiros e que em breve possamos desdizer o que foi dito e, quem sabe, passar uma borracha nesses episódios.
Superdicas da semana
- Podemos até desdizer, mas o que foi dito fica
- Em diplomacia, basta uma palavra para provocar ressentimentos
- Em circunstâncias importantes é preciso pensar bem antes de falar
- O discurso lido pode ser uma consideração à relevância do momento
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e sem Inibições", "Comunicação a Distância", "Saiba Dizer Não", "Os Segredos da Boa Comunicação no Mundo Corporativo" e "Oratória para Advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para Líderes Religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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