Vilão número 1 da inadimplência no Brasil são os juros
O vilão número 1 dos juros no Brasil é a inadimplência! Dizem os bancos...
Eu argumento que o vilão número 1 da inadimplência são os juros! Exatamente o oposto. Essa discussão parece a propaganda daquele biscoito (ou bolacha) que "vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais". Quem lembra disso?
A verdade é que o Brasil tem o segundo maior spread bancário do mundo, atrás apenas de Madagascar, segundo dados divulgados pelo Banco Mundial no ano passado. Na comparação com outros países da América Latina, esse spread (diferença entre a taxa de juros paga e a cobrada pelos bancos) é quase quatro vezes o do Paraguai, três vezes o da Argentina ou 27 o do Chile. Na comparação com o resto do mundo, então, nem se fala.
Se as famílias que moram em Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha ou outro país desenvolvido tivessem que utilizar crédito com as taxas de juros do Brasil, certamente a inadimplência nesses países seria muito maior.
Capítulo 1 - O que dizem os bancos -e suas ideias polêmicas
- Bancos fazem livro para baixar juros, mas especialistas criticam
- O que é o spread bancário e o que ele tem a ver com os juros?
- Opinião: De quem é a responsabilidade pelos juros altos?
Capítulo 2 - O que se deve fazer para reduzir juros mesmo
- Para juros caírem de verdade, seria preciso haver concorrência e educação
- Vilão número 1 da inadimplência no Brasil são os juros
Capítulo 3 - A concentração bancária
- Sem concorrência, de cada R$ 10 depositados, R$ 8,50 ficam em só 5 bancos
- Entenda o que é verticalização e como ela afeta juros e preços
- A desverticalização está vindo aí
Capítulo 4 - Governo Bolsonaro e os bancos
- Guedes ataca concentração bancária, mas tema fica fora da meta de 100 dias
- Senado pede apuração de juros no Cade; Congresso tem projetos engavetados
Capítulo 5 - O efeito no bolso do consumidor
- O que os consumidores podem fazer para escapar dos juros altos?
A inadimplência é consequência de uma situação que, para ser solucionada, exige que se encarem diversos desafios. Entre eles, o chamado custo Brasil com sua carga tributária enorme, sua burocracia e ineficiência, sua insegurança jurídica advinda de uma série de leis e regras conflituosas. A burocracia, a ineficiência e a insegurança jurídica interferem em todos os negócios, inclusive no crédito.
Mas o sistema financeiro, que ficou complicado demais ao longo dos anos, também precisa passar por uma racionalização, com aumento da eficiência e da competição. Os bancos se acomodaram com o discurso de que "a vilã é a inadimplência". Mas, na verdade, como a competição é pouca e as margens são altas, pois todos os custos são repassados para a sociedade, os bancos acostumaram-se a não ter que ser eficientes em seus processos.
A pergunta é: se um banco ou uma fintech puder saber que uma pessoa ou empresa não tem condição de pagar um empréstimo e por consequência ficará inadimplente, por que esse banco ou fintech emprestaria dinheiro para esse cliente? Simplesmente para cobrar mais caro dos outros clientes que honrarão seus compromissos?
O volume de crédito no Brasil tem chance de ser ao menos duas vezes maior e funcionar como um motor da economia, mas isso não acontece porque o crédito é caro e ineficiente, levando o brasileiro a enxergar o crédito de uma forma muito negativa, e não como uma ferramenta em benefício dele, como acontece na maior parte dos outros países. Na Alemanha ou nos Estados Unidos, por exemplo, a primeira iniciativa de uma pessoa que vai abrir um pequeno negócio é ir ao banco pedir empréstimo. No Brasil, esse mesmo empreendedor não poderia se comportar da mesma forma.
É preciso gradativamente trazer as taxas a patamares mais aceitáveis, em que o crédito possa ser usado como ferramenta e que as famílias, as empresas e a sociedade em geral comecem a enxergar e a utilizar o crédito de uma forma positiva. E também é preciso melhorar o uso das informações de avaliação de crédito, para evitar que o consumidor adimplente pague pelo inadimplente, como vem acontecendo.
A inadimplência é uma bomba-relógio que já explodiu há anos. Um país que tem 60% de sua força economicamente ativa com restrição de crédito tem algum problema estrutural que precisa ser resolvido.
Os bancos sempre trataram o cliente como sendo deles, numa relação em que o banco dominava. A tecnologia, o avanço da mobilidade e a explosão dos smartphones empoderaram o consumidor, que agora tem instrumentos e plataformas concorrentes para conseguir taxas de juros mais baratas, acesso a produtos melhores e de forma mais rápida e menos burocrática.
O brasileiro, por sua vez, precisa aprender a utilizar o crédito de forma consciente e abandonar a percepção de que, como os juros são altos, é melhor já deixar a bola de neve crescer para renegociar depois.
Esses comportamentos que estavam institucionalizados começaram a mudar, e tenho convicção de que veremos mudanças drásticas cada vez mais rápido. E quem se beneficia com isso? Toda a nossa sociedade!
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