Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pablo Marçal: o coaching neopentecostal é a essência do bolsonarismo
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Na última sexta-feira (14), o coach, empresário e influenciador digital Pablo Marçal teve sua eleição para deputado federal confirmada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
Apesar de ter recebido 243 mil votos no pleito de 2 de outubro, número suficiente para assegurar uma vaga no Congresso Nacional, a candidatura de Marçal estava pendente por causa de problemas de documentação.
Inicialmente, ele havia se lançado à Presidência da República pelo Pros. Porém, a direção do partido se juntou à base aliada de Lula e gerou um racha na legenda que levou o coach a desistir da corrida ao Planalto. Marçal, então, passou a apoiar Jair Bolsonaro em sua busca por um novo mandato.
Fenômeno nas redes sociais, com milhões de seguidores no YouTube e no Instagram, o influencer já bateu boca com figuras importantes do bolsonarismo, como o pastor evangélico Silas Malafaia.
Também já foi chamado de "coach malandrão" por Carlos Bolsonaro, o cabeça por trás da estratégia digital da campanha do pai.
Apesar das desavenças com expoentes do conservadorismo do país, é difícil imaginar que o agora deputado federal pudesse optar por outro lado, que não o do atual presidente.
Teologia da Prosperidade e empreendedorismo freestyle
Assistir aos vídeos do coach é mergulhar de cabeça no espírito bolsonarista: uma mistura da Teologia da Prosperidade, típica das igrejas protestantes neopentecostais, com um empreendedorismo freestyle.
Marçal se define como alguém que nunca se vitimiza. Nascido e criado em Goiânia, estudou em escola pública e ganhou suas primeiras moedas como guardador de carros.
Começou sua carreira profissional trabalhando como operador de telemarketing na Brasil Telecom. Com o tempo, virou liderança na empresa. Depois, graduou-se em Direito e investiu no mercado imobiliário, paralelamente à carreira de coach e influenciador digital.
Como todo bolsonarista que se preza, Marçal cultiva uma obsessão pelo fantasma do comunismo, temperada a todo momento com passagens bíblicas. Por exemplo: pela leitura do deputado, Jesus jamais dividiu o pão (coisa de esquerda) — ele tão somente o multiplicou (como faz a direita).
Em uma de suas palestras intituladas "Como gerar riqueza do zero", com mais de dois milhões de visualizações no YouTube, Marçal questiona: "Por que o Senhor não coloca coisas na sua mão?" Ao que ele responde de bate-pronto: "Porque você é improdutivo".
Individualismo meritocrático e coletivismo seletivo
A receita de Marçal para a prosperidade se baseia em duas frentes que apontam para direções contrárias, mas que se retroalimentam.
A primeira é a do puro individualismo meritocrático: se você não chegou lá, a culpa é única e exclusivamente sua. Já a segunda até sinaliza para o coletivo, mas de forma seletiva: para chegar lá, Deus quer que você valorize acima de tudo "os seus" — ou seja, os diferentes não são necessariamente bem-vindos.
O que faz de Marçal tão popular é conciliar maneirismos à la Steve Jobs com dinâmicas de cultos neopentecostais. O resultado é a reprodução do empreendedorismo "fé em Deus e pé na tábua", tão característico do bolsonarismo.
O coaching neopentecostal de Marçal também depende de uma boa dose de autoconfiança. De fato, isso o deputado federal por São Paulo tem de sobra. Por ora, sua ideia é virar presidente da Câmara para travar a pauta do aborto. Já para 2026 o plano é subir a rampa do Palácio Planalto.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.