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Greve de atores de Hollywood: sindicalismo está voltando à moda nos EUA?

A greve dos atores de Hollywood contra as plataformas de streaming, deflagrada na semana passada, reforçou a impressão de que um espectro ronda os Estados Unidos: o sindicalismo. Os sinais estariam por toda a parte.

Para além do já histórico movimento que paralisa a glamourosa indústria do audiovisual, diversas categorias ameaçam cruzar os braços se não conseguirem aumento de salário e melhores condições de trabalho: dos metalúrgicos da GM, Ford e Stellantis aos entregadores da UPS — a maior empresa de logística do país.

Por um lado, há indícios de que a mobilização coletiva por direitos está voltando à moda na maior economia do mundo. Por outro, o número de trabalhadores filiados a entidades representativas nunca foi tão baixo. Logo, é preciso tomar cuidado com análises apressadas.

Simpatia por sindicatos em alta

A aparente primavera do sindicalismo norte-americano tem como um de seus principais porta-vozes o próprio presidente da República. Num episódio bastante conhecido, Joe Biden chegou a dar um pito em público na big tech Amazon por tentar melar a formação de entidades representativas dos funcionários de seus armazéns.

Duas pesquisas de opinião recentes também apontam que os sindicatos estariam em alta por lá. Em agosto do ano passado, o instituto Gallup estimou em 71% a parcela de norte-americanos simpáticos à atuação dessas entidades, o nível mais elevado desde 1965.

Em abril, um estudo do Pew Research Center chegou a conclusão semelhante: seis a cada dez cidadãos do país enxergam como uma "coisa ruim" a perda de poder das organizações de trabalhadores. Entre pessoas de baixa renda, esse sentimento é ainda mais forte.

De acordo com dados do National Labor Relations Board (Conselho Nacional de Relações Trabalhistas), os pedidos de criação de novos sindicatos no ano passado foram os maiores desde 2016. Além disso, denúncias de "práticas trabalhistas injustas" cresceram 19% em relação a 2021.

Menor taxa de sindicalizados da história

À primeira vista, essa avalanche de dados parece demonstrar que o movimento sindical vai de vento em popa nos Estados Unidos.

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No entanto, há dados substantivos que colocam em perspectiva a convicção de que a classe trabalhadora estaria, por meio de representações coletivas, insurgindo-se contra décadas de concentração de renda e achatamento de remuneração.

Nos anos 1950, três a cada dez trabalhadores estavam associados a alguma entidade coletiva. Por volta de 1980, essa proporção caiu para dois a cada dezena. Em 2022, ela chegou a 10,1%. É o menor nível da história, segundo dados oficiais do Bureau of Labor Statistics (Departamento de Estatísticas sobre o Trabalho) — a agência federal que compila dados sobre o tema.

Para ser preciso, no ano passado, o número absoluto de pessoas filiadas a associações de classe cresceu em 273 mil e atingiu o total de 14,3 milhões. Porém, o contingente de empregados não sindicalizados avançou num ritmo consideravelmente superior.

A análise dos dados permite uma constatação e uma dúvida. Quando até a nata de Hollywood se engaja em mobilizações coletivas contra companhias super poderosas, fica claro que o chamado equilíbrio de forças entre capital e trabalho parece longe do funcional.

Em outras palavras, há tempos não se via um clima tão favorável à atuação de sindicatos nos Estados Unidos. Mas ainda é cedo para dizer se existe de fato uma nova tendência em curso, com tração para reconfigurar a economia da principal potência mundial.




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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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