IPCA
0,83 Mai.2024
Topo

Graciliano Rocha

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Na reta final, Faria Lima já trata virada de Bolsonaro como remota

Lula e Bolsonaro disputam o 2º turno no próximo domingo - REUTERS/Carla Carniel; e CLÁUDIO REIS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula e Bolsonaro disputam o 2º turno no próximo domingo Imagem: REUTERS/Carla Carniel; e CLÁUDIO REIS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

27/10/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Na reta final da campanha, muitos gestores de renda variável pró-Jair Bolsonaro (PL) ainda tentam manter a chama da esperança na reeleição acesa, mas, aos poucos, vai se disseminando uma percepção de que o quadro da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possa ter se tornado irreversível.

O balde de água fria veio no último domingo, quando Roberto Jefferson (PTB) disparou tiros de fuzil e jogou granadas contra policiais federais no interior do Rio. Na segunda (24), o Ipec mostrou Lula com 50% e Bolsonaro com 43% dos votos totais.

O sintoma mais aparente dessa decepção é a pancadaria das ações de empresas estatais. A Petrobras derreteu mais de 10% nos três pregões desta semana. O Banco do Brasil caiu 12%. Em linguagem de gente: as ações das empresas estatais estão caindo porque há uma percepção de que aumentou a chance de o PT ganhar a eleição e um governo do partido tende a ter mão pesada para intervir nas empresas controladas pela União.

A Petrobras está perdendo valor agora, assim como teve uma disparada de quase 10% na segunda-feira seguinte ao primeiro turno, quando os 51 milhões de votos obtidos por Bolsonaro o puseram num patamar muito acima do previsto pelas pesquisas eleitorais. Os juros DI (Depósito Interfinanceiro), outro indicador de risco, também sinalizam alta antes da eleição. O contrato para janeiro de 2024 fechou em 12,97%; para janeiro de 2025, em 11,89%, e em 11,675%, para janeiro de 2027.

Agora, o tempo vai se esgotando e não há evidência empírica (ao menos por enquanto) de que a campanha e as políticas tocadas pelo governo no segundo turno (como aumento dos beneficiários do Auxílio Brasil e consignado da Caixa) sejam suficientes para cobrir os 6,2 milhões de votos que Lula teve de dianteira. Um outro temor é uma contestação do resultado da eleição por Bolsonaro. Nos últimos dias, a campanha do presidente fez alegações de que rádios levaram ao ar mais propaganda de Lula do que do presidente.

É um engano comum enxergar quem trabalha neste pedaço da zona oeste de São Paulo —um retângulo de 450 mil metros quadrados, que equivale a um terço do Ibirapuera— como uma coisa só. Se em 2018, houve uma adesão maciça do mercado a Bolsonaro, hoje gestores locais tendem a ser mais pró-reeleição de Bolsonaro do que quem consegue ter acesso ao dinheiro de investidores estrangeiros.

Neste último grupo, há um entendimento que, se o PT não promover nenhum cavalo de pau na economia, o Brasil tem condições de receber um fluxo de investimento externo maior, porque vai se livrar da incômoda pecha de pária em questões importantes para o capitalismo global, como a preservação da Amazônia. É uma posição compartilhada por grandes investidores e membros dos conselhos de empresas listadas na B3, que têm se aproximado de Lula nas últimas semanas, após o voto em Simone Tebet (MDB) no primeiro turno.

Há fatores estruturais que favorecem a tese de fluxo de capital externo em ativos brasileiros com o provável aperto nas taxas de juro dos Estados Unidos no futuro próximo. Para quem olha de fora, o Brasil é o único grande mercado emergente que combina tanto uma grande indústria de exportação de commodities (agro e mineração) com taxas de juros de dois dígitos. Tanto no mercado de títulos de dívida quanto no câmbio, o Brasil tem atraído mais atenção do que os pares emergentes.

A grande questão é que, para um pedaço do PIB que tem conversado com interlocutores do PT, Lula ainda não fez uma sinalização concreta de como será a condução da economia em um novo mandato. O discurso do ex-presidente —lembrando que teve superávit em seus dois mandatos e mantendo a inflação sob controle— é considerado propositalmente vago.

O que existe é uma gigantesca bolsa de especulações sobre quem será o próximo ministro da Economia, com base nas conversas entre empresários, banqueiros e o próprio Lula ou emissários do PT, como Fernando Haddad e o ex-ministro Alexandre Padilha —este último um dos nomes tidos como mais fortes para atender a fórmula de ter "político" no comando do ministério e uma equipe de técnicos logo abaixo.

Enquanto o próprio Lula não falar (porque é assim que as coisas funcionam no PT), os nomes ventilados para comandar a economia são apenas espuma. Falta, é claro, também combinar com o eleitor no domingo.