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Por que a crise dos bancos bate mais fraco no Brasil do que lá fora
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A quebra do Silicon Valley Bank, nos Estados Unidos, e a crise de liquidez que levou o Credit Suisse à lona vão bater mais fraco nos grandes bancos brasileiros do que em instituições no exterior. A regulação mais pesada do Brasil ajudou a minimizar o risco de contágio dos bancos locais pelo pânico com o setor bancário global.
O colapso do SVB, banco conhecido por ser muito forte no ecossistema de startups na Califórnia, foi rápido e trouxe à tona um risco subestimado dentro do mercado americano.
Quando as taxas de juros estavam baixas e os preços dos ativos estavam altos, o SVB comprou muitos papeis de longo prazo. Mas o Federal Reserve (a autoridade monetária dos Estados Unidos) passou a aumentar as taxas de juros no ritmo mais forte desde os anos 1980, fazendo os preços destes títulos despencaram. O banco então se viu com um enorme mico na mão e quebrou.
Nos Estados Unidos, a maioria dos bancos não é obrigada a contabilizar a queda no preço dos títulos que mantém até o vencimento. Somente os maiores bancos devem fazer essa conta, tecnicamente chamada de marcação a mercado. Mas, como teve problemas de liquidez (falta de dinheiro, em linguagem de gente), o SVB teve de vender títulos na baixa e as perdas não reconhecidas em balanço se tornaram reais.
É o medo da incerteza sobre a quantidade de títulos que perderam valor dentro da contabilidade de cada banco mundo afora um dos vetores do susto dos investidores com o sistema bancário.
Um relatório de analistas do JPMorgan, obtido pela coluna, considera que o risco de contaminação dos grandes bancos brasileiros é baixo por duas razões:
1) a queda nos preços dos títulos disponíveis para venda, detidos pelos bancos, já está refletida no valor contábil dos bancos. A Circular nº 3068 de 2001, que estabelece critérios para registro e avaliação contábil de títulos e valores mobiliários, manda que os bancos façam a marcação a mercado.
2) Para os analistas do JPMorgan, mesmo as perdas embutidas mantidas até o vencimento -fonte da encrenca nos EUA- não são relevantes para os maiores bancos brasileiros. A exposição a perdas com esses títulos no balanço dos bancos era pequena em dezembro de 2022, segundo o relatório:
- Itaú Unibanco: R$ 5 bilhões em perdas embutidas (3,4% do patrimônio líquido).
- Bradesco, R$ 4 bilhões (2,4%)
- BTG Pactual, R$ 250 milhões (0,6%)
- Banco do Brasil, R$ 500 milhões (0,4%)
- Santander Brasil, R$ 200 milhões (0,2%)
O relatório, datado de 10 de março, conclui a análise: "Vemos bancos de grande capitalização no Brasil em posições líquidas e os debates pairando mais sobre o custo subindo com o aumento da Selic do que sobre a escassez de recursos".
No mesmo caminho, foi a agência de classificação de risco Moody's, estendendo a análise para o restante da América Latina nesta quinta-feira (16): "Apenas o Bradesco e Banco de Crédito e Investimentos do Chile têm operações próprias nos Estados Unidos e os riscos destes bancos estão relativamente contidos dado que se tratam de operações pequenas".
***
Se você é acionista de um grande banco brasileiro, há outras razões para estar amuado. Desde o início do ano, o valor de mercado ("market cap", em dialeto faria-limer) de Itaú Unibanco, Bradesco, Santander Brasil e BB já encolheu R$ 74 bilhões (-11%, no total).
Há o fator das perdas com as Americanas, que pegou os bancos de surpresa em janeiro. A ação do Santander, por exemplo, atingiu seu pico este ano no dia 11 de janeiro, véspera da varejista surpreender o mercado com o anúncio do rombo de R$ 20 bilhões.
Mas a baixa nas cotações dos bancões é, sobretudo, um reflexo da fuga dos títulos de renda variável para a renda fixa com uma Selic alta (taxa básica de juros, hoje em 13,75%). Isso fez com que alguns títulos de renda fixa com bom rating (baixo risco) cheguem a oferecer uma remuneração do IPCA (inflação) mais 7% ao ano.
O lendário investidor Warren Buffett tornou famosa a frase "Never bet against America" (Nunca aposte contra a economia americana, em tradução não literal). Na Faria Lima foi feita uma adaptação um pouco mais amarga: "Nunca aposte contra a Selic."
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