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José Paulo Kupfer

Dinheiro de sobra e otimismo lá fora fazem Bolsa subir e dólar cair

05/06/2020 17h51

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A primeira semana útil de junho está terminando gloriosa para os mercados de ativos financeiros no Brasil. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caminha para uma valorização acumulada de 10%, acima de 95 mil pontos, melhor resultado semanal desde abril. Também o mercado cambial registra um momento positivo, com o dólar acumulando desvalorização de quase 8% ante o real, cotado abaixo de R$ 5, desempenho semanal que não se via há uma dúzia de anos.

Embora haja espaço para otimismo, principalmente no caso do mercado de ações, vale a pena lembrar que essas boas perspectivas têm pouco a ver com a real situação da economia brasileira. A condução pouco eficaz do governo federal e dos estados no controle da Covid-19, e falhas na oferta de suporte à atividade econômica sinalizam contração mais acentuada e retomada mais lenta da atividade econômica. Por isso, a percepção generalizada é a de que, nesse atual episódio de alta dos mercados de ativos financeiros, a Faria Lima descolou da produção e das vendas, como não é tão incomum.

As causas que os operadores de mercado enumeram para explicar o ambiente mais animador do momento estão fora do país ou derivam de mecanismos de funcionamento próprios dos mercados. A primeira explicação para a alta na Bolsa e a baixa no dólar é a mais singela. A Bolsa está subindo porque já tinha caído muito e o dólar está caindo porque já subira demais.

Em relatório a clientes, o banco Goldman Sachs, gigante americano com atuação global, deixou claro que a Bolsa brasileira voltou a ser a preferida porque teve o pior desempenho, nos mercados emergentes, do começo do ano até agora. É o mesmo argumento que, no detalhe, serve para justificar a valorização, nos últimos dias, de ações de companhias aéreas e de empresas de turismo, que estão entre as mais afetadas até agora, no pregão brasileiro.

Com excesso de dinheiro, e precisando se posicionar em ações, aumenta a procura por ativos com preços atraentes, mesmo sem fundamentos, argumenta um operador da Bolsa brasileira. "Excesso de dinheiro" é outro fator considerado relevante para explicar a reação dos mercados nativos, neste momento.

Os bancos centrais mundo afora - e o BC brasileiro não foge à regra - estão inundando os mercados com um bombeamento nunca antes visto de recursos. Fazer tudo o que for possível para evitar o colapso da atividade e impulsionar a retomada é a nova lei vigente entre os responsáveis pela condução da política monetária. O esforço, pelo menos neste primeiro momento, está sendo bem sucedido, e as economias dos países mais maduros, sobretudo os que adotaram medidas de isolamento mais cedo e com mais disciplina, começam a dar sinais de recuperação mais rápida e consistente.

Essa "surpresa" positiva é outro elemento de peso na explicação para o renovado otimismo do momento. Ainda que o tombo tenha sido grande, a retomado está melhor do que o previsto. Nesta sexta-feira (5), por exemplo, os mercados foram impulsionados pelos números do mercado de trabalho americano em maio.

Nos primeiros meses da pandemia, mais de 30 milhões de postos de trabalhos foram destruídos, nos Estados Unidos. Mesmo que a "recuperação", em maio, não tenha passado da adição de 2,5 milhões de novas vagas, o fato de não se ter concretizado a expectativa de novas perdas em torno de 8,5 milhões deu forte alento aos pregões, inclusive no Brasil.

A taxa de câmbio elevada e a taxa de juros doméstica, com perspectiva de novos cortes, completam a lista dos fatores capazes de explicar a reversão favorável nos mercados de ações e cambial. Juros baixos incentivam a destinação de aplicações ao mercado de ações e câmbio alto reduz o preço dos papéis em dólar.

No caso do mercado de câmbio, além do otimismo com a reabertura das economias mais maduras, a fraqueza do dólar ante as demais moedas, inclusive de emergentes, é um ponto de relevo na explicação para a atual tendência de valorização do real. Na conta dos operadores, porém, também pesa muito a relativa distensão no ambiente político doméstico, experimentada nesta semana. A desvalorização mais acentuada do real ante as moedas de outros emergentes tem sido atribuída ao ambiente político brasileiro contaminado por um estado de crise permanente.