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BC dificulta recuperação da economia ao ser mais agressivo na alta da Selic
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Mesas de operadores no mercado financeiro pressionaram as cotações dos ativos quanto puderam, na tentativa de mostrar ao Copom (Comitê de Política Monetária) que uma alta moderada na taxa básica de juros (taxa Selic), nesta quarta-feira (17) seria insuficiente para acalmar as tendências de alta nas cotações do dólar. Na visão do mercado, acalmar o dólar é o caminho para aliviar efeitos adversos sobre a inflação.
Mesmo com vários fatores, sobretudo no lado real da economia, sugerindo cautela na decisão, o Copom cedeu às pressões de parte do mercado e, para surpresa do quase consenso das últimas semanas, decidiu elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, fixando-a agora em 2,75% nominais ao ano. É a primeira elevação dos juros básicos desde julho de 2015, mas a escalada não deve parar na alta de março.
No comunicado divulgado ao término da reunião do Copom, os diretores do Banco Central informam que outra alta, nessa mesma dose, deve se repetir na decisão de maio. Lá, portanto, a taxa Selic já poderá alcançar 3,5% ao ano, rumo pelo menos a 5%, no fim de 2021, Também surpreendem a mencionar projeção de 5% para a inflação de 2021, acima da mediana de 4,6% da pesquisa Focus e próxima ao teto do intervalo de tolerância, de 5,25%
O recrudescimento da pandemia de covid-19, no começo de 2021, parecia oferecer aos diretores do BC um corredor estreito para a decisão. De um lado, um desemprego recorde sendo alimentado pelas perspectivas de nova retração da atividade econômica, no primeiro semestre de 2021, situação que poderia se agravar com uma alta mais agressiva dos juros básicos. De outro, a convicção, esposada por parte do mercado, de que começando agora com uma correção mais forte, os desdobramentos futuros da política monetária poderiam ser mais suaves.
Um comunicado cheio de idas e vindas, com diversos "por outro lado" permeando o texto, informa que a decisão foi unânime. Ao analisar os efeitos de uma alta mais forte dos juros sobre a atividade econômica, os diretores do BC mostraram hesitação. Depois dessas hesitações, em combinação com as surpresas da alta mais agressiva da Selic e da projeção de inflação para este ano, não poderão reclamar se forem acusados de ter produzido uma comunicação falha.
O Copom avaliou que "em relação à atividade econômica brasileira, indicadores recentes, em particular a divulgação do PIB do quarto trimestre, continuaram indicando recuperação consistente da economia". Mas ressalvou que "essas leituras, entretanto, ainda não contemplam os possíveis efeitos do recente aumento no número de casos de Covid-19."
A conclusão não parece consistente com a elevação mais agressiva da Selic. "Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o primeiro e segundo trimestres deste ano", observa o comunicado.
A disputa entre uma dose mais agressiva de juros e outra mais moderada ocorreu em ambiente de tensão no mercado. Para começar, havia a sombra de uma instabilidade institucional. Embora tenha sido a primeira reunião do Copom depois da aprovação pelo Congresso da autonomia formal para seus diretores, o governo Bolsonaro ainda não confirmou a manutenção do presidente e dos diretores atuais. O prazo para essa confirmação ou não vai até fins de maio.
Ao longo do dia, com Bolsa e dólar subindo leve, era claro que muitos queriam "mais sangue" do Copom. Mas, na parte final das sessões, a Bolsa subiu forte e a cotação do dólar avançou ligeiramente. Um estranho sinal trocado em relação à decisão de elevar forte os juros. A manutenção, nos Estados Unidos, da taxa de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano), também decidida nesta quarta-feira, combinado com a mensagem de que ainda estava longe a hora de pensar em subir juros, seria mais um motivo a sugerir moderação na elevação da Selic.
Foram notadas, nos pregões da quarta-feira, apostas numa alta mais agressiva dos juros básicos. Circularam notícias entre operadores de que alguns fundos zeraram suas posições futuras, preparando-se para altas mais fortes dos juros. Outros montaram posições vendidas em dólar, avaliando que a decisão seria por uma alta mais agressiva da Selic e, portanto, favorável a uma valorização mais intensa do real. Correram rumores de que operadores considerados próximos ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, apostavam em uma alta de 75 pontos.
Com liquidez internacional em alta e perspectivas de recuperação robusta de boa parte das economias nos lugares em que a vacinação contra covid-19 avança rápido, Estados Unidos à frente, as cotações das commodities também têm embicado para cima. Seria natural, nesse quadro, que a economia brasileira fosse beneficiada, já que é grande exportadora de produtos agrícolas e minerais com cotação internacional, inclusive com valorizações do real. Mas não está sendo assim.
A péssima condução pelo governo do enfrentamento da pandemia, reflexo de um negacionismo em relação à gravidade da covid-19, foi agravada pela verdadeira sabotagem, liderada pelo próprio presidente Bolsonaro, da compra e aplicação de vacinas. Nesse ambiente, instabilidades econômicas, sociais e políticas encontram campo fértil para prosperar, gerando incertezas e afastando investimentos, de locais e externos.
Com mais dólares entrando pelo canal das exportações, em combinação com a abundante liquidez internacional, restam dúvidas se seria necessário enfrentar o dilema de aumentar juros, para conter dólar e inflação, e, ao mesmo tempo, impor barreiras ainda maiores à atividade econômica e à recuperação da economia. A verdade é que a desorganização da economia e o clima de permanente tensão, inclusive na crucial área sanitária, promovido por Bolsonaro, no entanto, têm feito o país desperdiçar esses ventos favoráveis. Taxas básicas de juros mais altas - e rapidamente mais altas - ajudam a dificultar a recuperação da economia.
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