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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inflação se espalha pela economia e vai acelerar, com pico em setembro

09/09/2021 16h28

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A inflação em agosto, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi menor do que a de julho, mas não indicou alívio consistente algum na marcha dos preços. Subiu 0,87% no mês, muito acima das previsões, em torno de 0,7%, ante 0,96% no mês anterior.

Agosto bateu na trave, e a inflação subiu a 9,68%, em 12 meses. Pelo menos por enquanto, o pico está previsto para setembro, com uma alta de 1% no mês, levando a inflação em 12 meses a 10,07%, como prevê o economista Fabio Romão, experiente especialista em inflação da LCA Consultores.

Tarifas de energia elétrica, agora na bandeira "escassez hídrica", estarão entre os itens de maior pressão de altas. Serviços, com o crescente relaxamento das medidas de restrição à circulação de pessoas, também estarão impulsionando o IPCA.

Apesar da explosão inflacionária em setembro, mantidas as condições conhecidas no momento, a tendência, em 12 meses, é de recuo na inflação. Previsões confiáveis mais recentes, depois dos resultados de agosto, são de que o IPCA de 2021 fecharia com variação próxima de 8,5%. Essa nova previsão para o ano já é um avanço em relação aos 7,5% previstos em julho, e pressões de alta nos preços persistem.

Movimentos de alta de preços estão se disseminando com rapidez, e as indicações são claramente de elevações fortes até o fim do ano. É preciso destacar também que não estão computadas prováveis influências negativas sobre custos e preços importantes dos bloqueios de rodovias por caminhoneiros, em desdobramento dos eventos de 7 de setembro.

Chamam a atenção a escalada mais recente do índice de difusão - que mede o número de itens na cesta de produtos e serviços do IPCA com preços em alta - e dos núcleos de inflação - índices que eliminam variações de preços ocasionais. Estão ambos em alta intensa.

O índice de difusão bateu 71,9% em agosto deste ano, bem acima do índice de 55% registrado há um ano. A média dos núcleos avançou 0,68% no mês passado, e foi a 6,08% em 12 meses, quase o dobro do centro da meta de inflação. O fato de que a média dos núcleos subira 0,1% em agosto de 2020 dá uma ideia da atual escalada dos preços.

A alta de preços está disseminada e, não só por isso, mas também por algumas peculiaridades da inflação atual, o cenário é preocupante. Há grande ênfase em alimentos consumidos em casa, mesmo com desemprego muito elevado e, sobretudo, renda/massa salarial em baixa.

Significa que a inflação, neste caso, tem origem em aumentos de custos, causados por elevação no preço dos insumos ou redução de oferta. É o que explica a inflação em bens industriais. As projeções para 2021 são de alta de dois dígitos, num salto em relação à subida de 3,2% em 2020.

Em agosto, mais uma vez, alta de preços da alimentação foi destaque. A elevação foi de 1,6%, quase o triplo do que subiu em julho. Seca e geadas se combinaram com pressões vinda da alta de preço dos combustíveis, que pesam nos custos de distribuição da produção "in natura", para explicar essa elevação tão forte.

Com peso de 15% no IPCA, a alimentação no domicílio registra 16,6% de alta em 12 meses, enquanto os preços dos combustíveis, com peso de 7,1% no IPCA, subiu mais de 40%. A explosão dos preços mostra que a população, principalmente a mais vulnerável, está sendo duplamente castigada - ao mesmo tempo em que a renda está mais baixa, os preços de produtos básicos da cesta familiar ficaram mais altos.

Pressões inflacionárias também começam a se disseminar, a partir da flexibilização da circulação de pessoas, no setor de serviços. Projeções para alimentação fora do domicílio, um indicador de como se encontra a demanda por serviços, são que a inflação mais do que dobre este ano, em relação ao ano passado, podendo chegar aos dois dígitos de alta.

Tendência firme de alta da inflação fará com que o Banco Central intensifique as elevações da taxa básica de juros (taxa Selic) para contê-las. Como parte do problema não diz respeito, diretamente, à demanda, a potência da intervenção do BC terá de ser aumentada, para que surta o efeito de conter as pressões inflacionárias.

Os analistas já estão prevendo um impulso de 1,25 ponto percentual na Selic, na reunião de setembro do Copom (Comitê de Política Monetária), quando a taxa iria para 6,5% nominais ao ano. Embora o Boletim Focus ainda estime Selic a 7,6% no fim de 2021, já há apostas em torno de 10%, no fim do ano. É uma péssima notícia para a recuperação da atividade econômica.