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'Fator Bolsonaro' acelera deterioração das condições econômicas
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O ritmo de deterioração das projeções para a economia brasileira, no futuro próximo, está galopante. A descida da ladeira vinha numa toada mais gradual, mas pegou velocidade com os impasses fiscais causados pelo "meteoro" dos precatórios a serem pagos em 2022, e acelerou ainda mais depois das ameaças de explodir pontes institucionais, feitas pelo presidente Jair Bolsonaro nas manifestações que ele promoveu em Sete de Setembro.
Previsões para a inflação, em 2021, sobem, consistentemente, há quase seis meses. Estão agora acima de 8%, e já superam o dobro do estabelecido como centro da meta pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), deixando para trás, e de muito, o teto do intervalo de tolerância para alta dos preços. Na direção oposta, a do recuo, rodam as projeções para a expansão da atividade econômica. De 5,5%, em 2021, marcando uma recuperação cíclica diante do mergulho de 4,1% em 2020, já desceram a 5%, e podem encolher mais, o que significa que a economia, na melhor das hipóteses, ficaria estagnada no segundo semestre.
Mais preocupantes são as expectativas para 2022. Semana após semana, as projeções de crescimento econômico para o ano eleitoral registram quedas. De 2,5%, inicialmente, as estimativas agora já se aproximam de uma expansão limitada a 1%, com episódios recessivos no meio do caminho. Contribui para isso a taxa básica de juros, que vai subir pelo menos a 8% este ano, devendo ficar nesse patamar ao longo do ano que vem, o que atuará para frear eventuais impulsos de crescimento.
Vários elementos têm pesado para a consolidação desse quadro econômico medíocre, que contribuirá para manter elevados o desemprego, a subutilização e a informalidade da mão de obra. Rolos fiscais, escassez de suprimentos industriais, crise hídrica, com seus riscos de apagões e racionamento, menor impulso do comércio exterior, dólar em alta, incertezas em relação à pandemia, se combinam para dificultar um deslanche da atividade.
Um fator limitativo ponderável - e desnecessário -, porém, não pode ser desprezado - o "fator Bolsonaro". O "fator Bolsonaro", com a geração de turbulências políticas e sociais promovidas pelo presidente, exemplificado pelo negacionismo em relação à pandemia e a recusa em combatê-la com as armas da ciência, inclusive com a inexplicável campanha pessoal contra as vacinas, já influenciavam, negativamente, a marcha econômica. Agora, depois das ameaças golpistas de Sete de Setembro, esse elemento ganhou notoriedade e peso.
Não mudou em nada, para o cenário econômico, o aparente recuo de Bolsonaro, configurado pela sua assinatura num pedido de desculpas aos demais Poderes, principalmente ao Judiciário, escrito pelo ex-presidente Michel Temer. Se, eventualmente, acalmou gente no Congresso e mesmo no mercado financeiro, foi insuficiente para aliviar as perspectivas adversas computadas pelos especialistas em análise de conjuntura econômica.
Nos últimos dias, na verdade, as expectativas têm piorado. A ameaça de golpe institucional é veneno e freio para qualquer plano de investimento. A decisão natural, em ambientes tóxicos, como os alimentados por Bolsonaro, é adiar a ampliação dos negócios ou a modernização dos que já estão em operação. Resultado, a economia sofre cortes nos combustíveis que a alimentam e impulsionam.
O fato é que o cenário econômico, que já não era animador, definitivamente agregou novos riscos e temores. Isso se deve à convicção generalizada de que, a qualquer momento, depois de mais um recuo, Bolsonaro dará mais um passo à frente, em seu projeto autoritário.
Se o mercado financeiro também fala por suas projeções, a mensagem de descolamento dos "projetos" de Bolsonaro é inequívoca. O mais relevante indicador do momento, o do crescimento da economia em 2022, de acordo com a média das previsões, entrou numa zona de alta turbulência, em que a possibilidade, não de expansão muita fraca, mas de uma recessão, ainda que temporária, vai ganhando consenso.
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