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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fed alivia na alta dos juros e dá tempo ao BC para ajustar Selic

04/05/2022 19h54

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Ainda que tenha promovido a maior alta em mais de 20 anos em sua taxa de juros de referência, elevando-a em 0,5 ponto percentual, para 0,75% a 1%, nesta quarta-feira (4), e dado início ao enxugamento dos recursos injetados na economia, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) passou uma mensagem de que manterá uma política monetária cautelosa ao longo de 2022. Com isso, os mercados financeiros respiraram mais aliviados e os principais índices das bolsas de valores ainda abertas — a americana e a brasileira entre elas —, viraram de queda para alta.

Com a adoção pelo Fed de uma posição considerada mais branda em relação ao futuro ("dovish", no jargão do mercado financeiro), era difícil que o Banco Central brasileiro não confirmasse a expectativa de que elevaria a taxa básica de juros (taxa Selic) em 1 ponto percentual. A decisão, unânime, levou a Selic de 11,75% para 12,75% nominais ao ano.

Aumentaram, porém, as apostas de que, diferentemente das mensagens que vinham sendo transmitidas por seus diretores, o BC não encerrará agora em maio o ciclo de altas dos juros básicos, alongando-o pelo menos até junho. O ciclo de altas, iniciado em março de 2021, prosseguiria com um ajuste da política de juros brasileira ao ritmo do Fed.

Em princípio, a expectativa é de mais uma elevação de 0,5 ponto, estacionando a Selic em 13,25%, no mês que vem. No comunicado emitido no final da reunião, o Copom (Comitê de Politica Monetária) sanciona essas expectativas. Com um ritmo mais lento de elevação da taxa de juros americana, o BC brasileiro ganha tempo para ajustar a taxa básica e manter a cotação do dólar na fronteira dos R$ 5.

As viradas nos pregões foram fortes. As bolsas americanas registraram altas próximas a 3%, as maiores em dois anos. Na bolsa brasileira, o Ibovespa, seu principal índice, reverteu uma queda de 1% antes do anúncio da decisão do Fed para alta em torno de 1,5%, na parte final do pregão. Ao mesmo tempo, as cotações do dólar recuaram, com a taxa de câmbio operando a menos de R$ 5.

Na comunicação ao mercado, reforçada pela entrevista de Jerome Powell, presidente do Fed, o BC americano aliviou, pelo menos temporariamente, preocupações em relação a altas de 0,75 ponto nos juros de referência, no futuro próximo. Powell confirmou que o Fed não cogita altas nesse nível e vai procurar levar a política de juros a um pouso suave.

No Brasil, com inflação projetada pelo mercado para 2022 nas alturas de 8% — muito acima do centro da meta, de 3,5%, e mesmo no teto do intervalo de tolerância, de 5% —, o BC mira agora a inflação de 2023. Nas previsões atuais dos analistas, a inflação no ano que vem, prevista atualmente em 4,1%, também ficará acima do centro da meta, fixado em 3,25%. No comunicado, o BC menciona exatamente o risco de desancoragem das expectativas em prazo mais longo ao estender o ciclo de altas da taxa básica de juros.