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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sumido na confusão dos combustíveis, Guedes vira boneco de posto Ipiranga

Getty Images
Imagem: Getty Images

21/06/2022 15h24

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Na grande confusão armada pelo presidente Jair Bolsonaro em relação aos preços dos combustíveis e à gestão da Petrobras, há um silêncio que chama a atenção. Nada se escuta do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o tema. Grande falastrão em outros momentos, Guedes está recolhido, falando o menos que pode, sem abordar as pautas quentes do momento, quando não consegue escapar de se pronunciar.

Essa quase mudez atual reflete uma trajetória descendente inimaginável há pouco mais de três anos. Guedes assumiu concentrando amplos poderes, concretizados num hipertrofiado Ministério da Economia. Para confirmar que o ministro faria valer a denominação de Posto Ipiranga, Bolsonaro reuniu sob o comando de Guedes as pastas da Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior, além de parte do Ministério do Trabalho.

Mas o fato é que Guedes decaiu de Posto Ipiranga de Bolsonaro, que tudo sabia e tudo podia na área econômica do governo do ex-capitão e deputado do baixo clero, para uma espécie de boneco do Posto Ipiranga, aquele artefato inflável e insuflado de ar, que agita os braços para chamar a atenção, mas não sai do lugar.

A derrocada de Guedes, expressa, entre outros sinais, por sua crescente mudez, avança na razão inversa da exacerbação do populismo e do voluntarismo de Bolsonaro. Quanto mais a perspectiva de derrota eleitoral no pleito presidencial de outubro se apresenta, mais o presidente sugere ou promove intervenções diretas e improvisadas no funcionamento da economia, e mais Guedes se encolhe.

Agarrado ao cargo, Guedes quer aparentar indiferença à paulatina perda de credibilidade que vem sofrendo. Do economista de história e fama ultraliberal, que, ao assumir o superministério da Economia em 2019 prometia "R$ 1 trilhão em privatizações", Guedes está terminando seus primeiros quatro anos de governo como o ministro intervencionista que pediu a empresários do setor de supermercados o congelamento de suas tabelas de preços até o fim do ano, numa tentativa artificial de controlar a inflação.

No meio do caminho, o ministro contribuiu para a implosão da regra de controle fiscal do teto de gastos, tida, na visão do mercado financeiro e de seus economistas, como a última linha de proteção das contas públicas contra os ataques populistas e eleitoreiros de Bolsonaro. Desde a promulgação da PEC dos Precatórios, em dezembro de 2021, avolumaram-se os furos e as tentativas de furar o teto de gastos, sob as bênçãos ou o silêncio do Guedes.

Agora, na "crise da Petrobras", Guedes tem notabilizado pelos dribles no tema. Embora seja o responsável pela indicação de seu ex-secretário de Política Econômica Adolfo Sachsida para o Ministério das Minas e Energia, e também do novo indicado para a presidência da Petrobras, Caio Paes de Andrade, seu atual secretário de Desburocratização, o ministro não tem aceitado falar sobre a interferência nos preços dos combustíveis, insistentemente pretendida por Bolsonaro.

Nas poucas aparições públicas que fez nos últimos dias — um evento da Eletrobras e outro no BNDES —, Guedes não tocou no assunto. Mais uma indicação, entre tantas já acumuladas, de que o Posto Ipiranga virou boneco inflável.