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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Atividade bate no pico com estímulos eleitorais e já está em desaceleração 

01/12/2022 12h50

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A marcha positiva da atividade econômica, no terceiro trimestre de 2022, embora inferior às projeções dos analistas e já em desaceleração, na comparação com trimestres anteriores, representa um momento de pico na expansão da economia. Daqui para a frente, até pelo menos fins de 2023, a tendência é de desaceleração relativamente forte.

Com a expansão de 0,4% sobre o período abril-junho, a variação do PIB (Produto Interno Bruto), em relação ao mesmo terceiro trimestre de 2021, subiu 3,6%, conforme divulgado nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE, ante alta interanual de 3,2%, no segundo trimestre. Para o conjunto de 2022, na comparação com 2021, as estimativas são de crescimento entre 2,8% e 3% — esta com base nas revisões para mais na variação do PIB em 2020, 2021 e 2022 —, evidenciando a desaceleração, que se expressa nas previsões de um crescimento inferior a 1%, em 2023.

Mais uma vez, foram os serviços, turbinados pelo consumo das famílias, os principais responsáveis pelo resultado. Contribuíram ainda o recuo da inflação, refletindo em parte o corte de impostos, sobretudo em combustíveis, que influenciaram a elevação da renda real, e a praticamente completa reabertura das atividades antes limitadas pelos efeitos da pandemia de covid-19.

A expansão dos serviços, via renda e consumo, remete à ampla injeção de recursos despejados na economia, a partir de abril, com o objetivo de apoiar a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Entre auxílios inflados e cortes de impostos, foram mais de R$ 300 bilhões — robustos 3% do PIB, e equivalentes a 60% dos incentivos em 2020, auge da primeira onda da pandemia — que irrigaram a atividade econômica.

Já a partir do início do quarto trimestre, contudo, os impulsos à atividade se esgotaram ou passaram a perder força. Um dos estímulos eleitorais promovidos pelo governo Bolsonaro — a antecipação do 13º salário —, "roubou" estímulos à demanda no fim do ano, e atuará agora para reduzir o crescimento da economia.

As condições financeiras, com inflação retornando ao terreno positivo e taxas de juros mantidas em níveis elevados, pioraram. Ao mesmo tempo, dissiparam-se os efeitos na demanda com a reabertura das atividades e a normalização dos movimentos de pessoas e da produção. Completam o quadro mais adverso a desaceleração da economia global e o consequente recuo nas cotações das commodities.

Resultados desse ambiente menos favorável já podem ser sentidos. A Black Friday de 2022, por exemplo, decepcionou em relação às promoções do ano anterior. Pesquisas preliminares indicam retração inédita nas vendas, com volumes 20% menores. Em razão do resultado frustrante, analistas iniciaram revisões para baixo na movimentação do comércio varejista no Natal.

No mercado de trabalho, os primeiros indicativos de desaceleração também já são visíveis. Os resultados de setembro mostram recuo da taxa de desemprego para 8,3%, melhora significativa ante a desocupação de 12% registrada no mesmo mês do ano anterior. É preciso, porém, considerar que a queda registrada na taxa de participação (percentagem de pessoas em idade de trabalhar na força de trabalho, ocupadas ou desempregadas), contribuem para o recuo mais acentuada da desocupação. Com base na taxa de participação de 2019, o desemprego subiria para 10%.

Os sinais de perda de ritmo na absorção de pessoal no mercado de trabalho podem ser localizados ainda no conjunto de trabalhadores subutilizados ou desalentados. Se fossem plenamente incorporados ao mercado, levariam a taxa de desocupação a 17% da força de trabalho. Para os próximos períodos, as projeções são ainda de queda, mas crescentemente moderada, nas taxas de desemprego.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL