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Teve calote, mas BNDES financiar obras em outros países é sim bom negócio
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Além da polêmica da moeda comum, o presidente Lula lançou outra, na viagem à Argentina. Lula anunciou nesta segunda-feira (23), em Buenos Aires, que o BNDES, o banco de desenvolvimento estatal, deve retomar o financiamento de exportações de empresas brasileiras. A prática é comum a todos os países com algum peso no comércio exterior.
China, Estados Unidos, Japão, Coreia, Espanha, França, Índia e muitos outros países financiam vendas externas de suas empresas por meio de bancos públicos de exportação e importação. As instituições financiadoras nacionais são em geral conhecidas como Eximbanks, como nos EUA e Japão, mas também designadas como agências de financiamento ao comércio exterior, na Alemanha, ou ainda como seguradoras, na Espanha.
Sair dos limites nacionais, dirigindo vendas para outros países, quando se tem capacidade competitiva, é uma forma clássica e recomendável de expandir mercados. Ao ampliar mercados, aumentam-se as possibilidades de faturamento e, na esteira, de expandir a oferta de empregos nos mercados locais originários.
Por isso, trata-se de um equívoco, que se disseminou no Brasil, na carona da operação Lava Jato, acreditar que está sendo financiada a expansão de negócios e empregos no país comprador. O financiamento ao exterior opera exatamente para assegurar a venda de produtos e serviços, com a devida criação de empregos e renda no país vendedor.
Estimativas do jornal digital Poder360 concluem que o mercado global de serviços de engenharia, um dos mais beneficiados pelos financiamentos ao exterior de países exportadores, somava US$ 420 bilhões, em 2020. A China, com 26% do mercado, domina a área, seguida da Espanha, com 15% do total contratado.
Entre as vantagens reconhecidas nas exportações de serviços de engenharia destacam-se:
- . Ampliação de mercados;
- . Expansão do emprego e do recolhimento de tributos;
- . Exportação de produtos de maior valor agregado
A polêmica, no caso brasileiro, se prende a negócios de empresas brasileiras financiadas pelo BNDES que resultaram em calotes dos clientes. Teve calote, sim, mas o negócio é benéfico, desde que a escolha do cliente seja correta, como em qualquer negócio financiado.
O mais notório dos calotes ao BNDES envolve o porto de Mariel, em Cuba, construído pela então empreiteira Odebrecht. Negócios com Venezuela e Moçambique também ficaram com saldo devedor não quitado.
Negócios de empresas brasileiras de exportação de serviços de engenharia, com financiamento ao comprador externo pelo BNDES foram, justamente, o alvo principal da Lava Jato. O combate à corrupção conduzido pelo ex-juiz, depois ministro no governo Bolsonaro e agora senador, deveria punir apenas os executivos corruptos, mas atingiu também as empresas.
PERDAS BRASILEIRAS NO MERCADO EXTERNO
O levantamento publicado pelo Poder360 mostra que, até junho de 2022, foram financiados pelo Brasil US$ 10,5 bilhões, com saldo devedor — e em alguns casos, de calotes já declarados - de US$ 1 bilhão. A inadimplência, portanto, alcança 10% dos financiamentos.
No auge das operações, de acordo com o levantamento, empresas brasileiras respondiam por 3,2% dos negócios globais de exportação de serviços. A presença nacional no exterior, neste segmento, começou a crescer nos governos FHC.
Depois da Lava Jato, em 2019, as exportações de serviços de engenharia caíram para 0,5% das exportações mundiais de serviços de engenharia. No período, ainda segundo o levantamento publicado pelo Poder360, o faturamento conjunto das maiores empresas brasileiras do setor recuou de R$ 108 bilhões, em 2015, para R$ 12 bilhões, em 2019.
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