Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
BC mantém juros, endurece sobre hora do corte e confronta Lula
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
As condições para o início de um ciclo de cortes na taxa básica de juros (taxa Selic) estão cada vez mais favoráveis. Mas o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, na reunião desta quarta-feira (22), esticar um pouco mais a corda. Não só manteve a taxa básica (taxa Selic), nos 13,75% nominais ao ano em que está desde agosto de 2022, como comunicou que não pretende iniciar o ciclo de corte enquanto as expectativas de convergência da inflação para as metas permanecerem desancoradas.
De acordo com o Copom, mantido o atual nível de juros básicos, a inflação chegaria a 5,7% no fim de 2023 e a 3,3%, no terceiro trimestre de 2024, finalmente dentro do intervalo do sistema de metas que, no ano que vem, vai de 1,5% a 4,5%, com centro em 3%.
Observando o ambiente político em torno da política de juros do Banco Central, pode-se concluir que o BC decidiu confrontar Lula, em reação às pressões e ataques do presidente Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, que até desaguaram em manifestações de rua, inclusive com a queima de retratos de Campos Neto.
Um parágrafo do comunicado, divulgado logo após o encerramento da reunião, deixa claro o endurecimento do lado do BC em relação às expectativas do governo de alívio nos juros básicos:
"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos."
Especialistas na interpretação da linguagem dos comunicados do Copom acham que a tendência é de que só em junho — e não mais em maio — seja possível imaginar o início de um ciclo de cortes nos juros. Mas o tom do comunicado permite apostar que alterações só ocorreriam mais para o fim do ano.
A verdade, contudo, é que as condições para iniciar o corte dos juros básicos no Brasil, que já estavam favoráveis, ficaram ainda mais favoráveis depois do resultado da reunião do Fed (Federal Reserve, banco central americano), também nesta quarta-feira, sobre os juros de referência na economia americana.
Apesar de ter aumentado o nível dos juros em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 4,75% e 5%, abaixo do 0,5 pp projetado antes antes da quebra de alguns bancos médios americanos e do Credit Suisse, o Fed também indicou uma possível pausa nas altas.
Há pelo menos quatro razões principais que recomendam iniciar um ciclo de cortes na Selic:
- Condições financeiras mais apertadas - Desde a crise da Americanas, ficou visível que a situação do crédito tinha deteriorado no Brasil. As condições financeiras estão mais "apertadas", segundo o jargão do mercado, como se os juros básicos tivessem subido mais do que já subiram. As consequências de uma retração da demanda por crédito, em parte pelo endividamento e inadimplência recordes de pessoas e empresas foram reforçadas pelo aumento da seletividade dos bancos na concessão de financiamentos. A contração no crédito registrada corresponderia, em termos práticos, a uma elevação dos juros estimada entre 0,25 ponto percentual e 0,5 pp.
- Inflação e atividade em queda - Embora as projeções ainda não apontem fracamente para baixo, a inflação dá sinais de alívio, até porque a atividade econômica apresenta indicações de desaceleração. Depois de avançar quase 3% em 2022, a atividade econômica, em 2023, não teria forças para ir além de 1% a 1,5%, e de uma forma muito desequilibrada, puxada quase na totalidade pelo setor agropecuário. Assim, se um recuo da atividade econômica já está em curso, não haveria necessidade de manter a taxa Selic nos níveis atuais. Em termos reais, as taxas básicas estão próximas a 8%, as mais altas do mundo.
- Regras de controle fiscal a caminho - A falta de uma âncora fiscal, que substitua o teto de gastos, e que tem sido motivo de incertezas em relação ao controle das contas do governo e da trajetória da dívida pública, deve ser preenchida com uma nova âncora fiscal, em fase de finalização no Executivo. Esse novo instrumento, ao lado da apresentação de uma proposta de reforma tributária, que simplifique o sistema e lhe dê mais eficiência, deve contribuir para, em alguma medida, reduzir os riscos e temores na área fiscal. Com isso, haveria alívio sobre as projeções da marcha da inflação e da trajetória das cotações do dólar.
- Situação internacional mais adversa - De um lado, a tendência de os bancos centrais aliviarem suas políticas de juros, no combate à inflação, a exemplo do que decidiu o Fed nesta quarta-feira. De outro, perspectivas desinflacionárias e recessivas previstas para a economia mundial em 2023. Os dois movimentos combinados também favorecem o início do corte dos juros básicos no Brasil.
A ver a evolução da contenda política entre Lula e o BC, para se ter ideia de quando os juros básicos começaram a cair.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.