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Inflação entra em fase moderada e permite início de corte nos juros
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As expectativas do mercado para a inflação, também no caso dos números de abril, ficaram, mais uma vez, acima do resultado efetivo. O IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, medido entre o meio de um mês e o meio do seguinte), com alta de 0,57% sobre março, divulgado nesta quarta-feira (26) pelo IBGE, veio de novo abaixo das expectativas. A mediana das estimativas apontava elevação de 0,62%.
Erros de estimativas em exercícios de previsão são comuns no mundo da economia. O problema é quando as expectativas são usadas como elemento relevante em decisões de política econômica — no caso de previsões de inflação, para a definição da política de juros. É que o tem feito o Copom (Comitê de Política Monetária), colegiado que reúne os diretores do Banco Central, e que decide o nível da taxa básica de juros na economia.
Projeções versus realidade
Do ponto de vista da economia real, as altas de preços se encontram numa fase de moderação. Os preços no atacado estão em baixa, o que permite prever menores pressões no futuro próximo. O mesmo indica o recuo na média dos núcleos de inflação — medidas que retiram do cálculo movimentos não usuais nos preços —, refletindo perda de tração nos reajustes, em resposta ao esfriamento da atividade econômica.
Com o resultado do IPCA-15, a inflação, medida pela variação do indicador, avançou 2,56%, nos primeiros quatro meses de 2023. Já no acumulando em 12 meses, o recuo foi de 5,36% em março para 4,16% em abril, dentro da faixa de tolerância do sistema de metas, que, para este ano, fixou o centro da meta em 3,25%, com tolerância entre 1,75% e 4,75%.
Enquanto a inflação mostra trajetória temporária de recuo, o Boletim Focus, que organiza as projeções de uma centena de economistas de mercado, continua sinalizando alta de preços no ano. Com base em dados conhecidos até 20 de abril, para o Focus, a inflação, no fechamento de 2023, completando quatro semanas de altas, terá registrado avanço de 6,04%.
É possível que o Focus esteja superestimando as perspectivas de alta da inflação. Não seria primeira vez.
Levantamento do economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor do BC, em artigo publicado na segunda-feira (24), no jornal "O Estado de S.Paulo", traz alguns exemplos recentes:
Em fins de 2020, os economistas consultados para o Boletim Focus projetavam inflação de 3,3% em 2021. O resultado foi uma alta de 10,06%;
No início de 2022, as projeções para o fechamento do ano eram de 5,03%, mas depois foram aumentando até 8,9%. O ano terminou com inflação em 5,8%.
Marcha da inflação tende a ser mais benigna
A partir do que trouxe o IPCA15 de abril, Fábio Romão, economista da LCA Consultores, que detém larga experiência em acompanhamento de preços, projeta alta de 0,48% no IPCA do mês cheio, com novo recuo, para 4,05%, no acumulado em 12 meses. Essa tendência de queda se manteria até junho, voltando a subir partir de julho, mas em ritmo moderado.
A marcha da inflação, medida pelo IPCA, de acordo com a trajetória projetada por Romão, considerando o acumulado em 12 meses, é a seguinte:
De abril a junho, a alta de preços ficará no entorno de 4%;
De julho a setembro, subirá para a faixa de 5% a 6,5%; e
De outubro a dezembro, voltará a recuar, encerrando o ano nas vizinhanças de 6%, pelo terceiro ano consecutivo acima do teto do intervalo do sistema de metas.
Juros já podem começar a ser cortados?
Se esse cenário se confirmasse, seria suficiente para sustentar desde já o início de um ciclo de cortes na taxa básica (taxa Selic)? A resposta deveria ser positiva.
De acordo com seus comunicados, o BC já não mira mesmo a meta de inflação de 2023, mas trimestres à frente de 2024. Também está claro que as pressões inflacionárias entraram, como tudo leva a crer, numa etapa mais benigna.
A esses dois pontos, um importante terceiro aspecto reforça a oportunidade do início de um ciclo gradual de cortes nos juros na taxa Selic: o uso da política de juros para sustentar um mínimo de atividade econômica. Esta missão está descrita no conjunto de objetivos que o BC independente deve perseguir, mas tem se limitado a uma linha burocrática nos comunicados da instituição.
Mas será surpresa se a decisão na reunião do Copom, na quarta-feira (3) da semana que vem, for dar início a um ciclo de cortes dos juros básicos.
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