Dividendos acima da Selic: saiba como ganhar salário mínimo investindo
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Como esperado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou ontem a Selic em 1 ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano. Este é o maior nível da taxa básica de juros desde agosto de 2016, quando também estava em 14,25%.
A principal dúvida agora é quando começará a queda dos juros. No seu comunicado, o Copom aponta para um novo aumento da taxa de juros em maio, mas em menor magnitude do que o atual. Já para as reuniões futuras, a autarquia optou por não dar projeções sobre ajustes e se limitou a falar que "a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
O último boletim Focus, que reúne a visão de mais de 100 instituições financeiras, aponta a Selic em 15% para o fim de 2025, enquanto Itaú e JPMorgan preveem 15,25%. Já instituições mais cautelosas, como a XP, estimam que a taxa pode chegar a 15,50% ou 16%, adiando cortes para 2026.
Juros altos impactam empresas de capital aberto, elevando custos financeiros e dívidas e afastando investidores. Levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que, com a Selic em 14,25%, apenas oito ações conseguem entregar um dividend yield (retorno em dividendos) superior à taxa básica de juros. Foram consideradas ações de índices como Ibovespa, IBRX100, IDIV e Small Caps, com dados até 17 de março.
A Elos Ayta também projetou quanto de dividend yield estas empresas podem entregar nos próximos 12 meses, por critérios quantitativos. Desta forma, as companhias precisam manter a política de distribuição dos últimos 12 meses e ter um lucro igual ou maior ao registrado no último ano. Também é importante não ter feito distribuições extraordinárias, que podem distorcer a projeção.
Vale fazer a ressalva de que juros elevados podem atrapalhar na manutenção desses lucros.
Também foi apresentada a mediana de dividend yield das ações nos últimos cinco anos ou desde o IPO (abertura de capital) para as mais novatas. O objetivo é mostrar qual é o verdadeiro padrão destas empresas ao remunerarem acionistas.
Confira abaixo as ações que pagam dividendos acima da Selic:
Como conquistar um salário mínimo com dividendos dessas ações?
Se você busca gerar uma renda extra com ações, é possível alcançar R$ 1.518 mensais em dividendos (equivalente ao salário mínimo atual) investindo em empresas que pagam acima da Selic. A simulação exclusiva foi feita por Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos.
Pode parecer distante, mas com R$ 76,18 mil acumulados, já é possível atingir essa meta. E se você ainda não tem nada guardado, não se preocupe: começar do zero é viável, desde que haja disciplina para investir e reinvestir os dividendos recebidos.
A simulação considera dois cenários: um em que o investidor aplica R$ 500 mensais em cada ação e reinveste os dividendos, e outro em que o aporte mensal é de R$ 1.000, também com reinvestimento. O critério utilizado foi a mediana de dividend yield dessas empresas nos últimos cinco anos ou desde o IPO, garantindo uma visão mais realista da rentabilidade.
No caso da Petrobras (PETR4), por exemplo, investindo R$ 500 por mês, seria possível atingir o primeiro salário mínimo em dividendos em 6 anos e 3 meses. Veja simulação para outras empresas:
À prova de balas
Diante da incerteza sobre os juros poucas empresas garantem a sustentabilidade dos dividendos nos próximos meses. Entre as oito analisadas, apenas quatro se destacam: duas de setores perenes e duas de commodities.
Uma delas é a CSN Mineração (CMIN3), que mantém forte geração de caixa, independente dos juros elevados. Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, explica que a companhia depende mais do câmbio e do preço do minério de ferro do que da inflação ou juros. "Os custos operacionais da CSN Mineração são todos em reais e 90% da sua receita é em dólar, funcionando como um hedge (proteção) natural", diz.
Sergio Biz, analista e sócio do GuiaInvest, destaca que a mineradora tem alavancagem negativa - de -0,82 vezes dívida líquida sobre Ebitda (lucros antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) - reduzindo o impacto da Selic. "Mesmo com juros altos e desaceleração econômica, por ser exportadora, a empresa não é afetada. Depende mais do minério de ferro", reforça.
Oliveira pondera que alavancagem negativa nem sempre é vantagem. Para ele, ter dívida não é algo ruim se bem administrada. Por exemplo, uma empresa poderia gerar o dobro do lucro com mais alavancagem, o conflito é quando isso vira algo insustentável como em companhias como Auren, Cosan e Simpar, onde o endividamento limitou investimentos e dividendos.
Se a Selic cair, a rentabilidade do caixa líquido de R$ 4,64 bilhões da CSN Mineração tende a recuar, mas sem impacto relevante na atratividade da empresa. Oliveira recomenda CMIN3 para o longo prazo como ação complementar na carteira, com dividend yield projetado para 2025 em 8,5% e preço justo de compra de R$ 6,11 para este ano.
Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, também vê potencial na mineradora, projetando dividend yield de 10% nos próximos 12 meses e preço-alvo (até quanto a ação pode valorizar) de R$ 7. No setor, porém, a Vale (VALE3) segue como favorita da casa.
Petrobras (PETR4)
Seguindo a lógica da CSN Mineração, a Petrobras (PETR4) também mantém dividendos competitivos independentemente dos juros. Se a Selic subir acima de 15%, Chinchila acredita que a petroleira seguirá entregando dividendos elevados, acima de 10%, devido à sua posição dominante no setor, forte produção e reservas comprovadas.
O analista afirma que a Petrobras gera fluxos de caixa robustos pela venda de petróleo e derivados, com demanda global e preços altos. "Mesmo com juros altos, a Petrobras continua rentável, pois os preços do petróleo impactam positivamente seus resultados", afirma Chinchila. A estratégia de otimização de custos fortalece essa capacidade de pagar bons dividendos. Para os próximos 12 meses, a Terra projeta R$ 75 bilhões em proventos, um dividend yield de 14,6% e as ações valorizando até o preço-alvo de R$ 48. A corretora recomenda compra.
Se os juros caírem antes do esperado, Gabriel Duarte, da Ticker Research, vê a Petrobras sendo beneficiada, pois a economia aquecida impulsiona a demanda por petróleo. Além disso, a empresa pagaria menos juros sobre suas dívidas. Duarte considera PETR4 uma boa opção para carteiras de renda passiva no longo prazo, com dividend yield estimado em 13% nos próximos 12 meses.
Oliveira, do VDA, destaca que, apesar do risco de interferência política, a Petrobras entregou fortes resultados nos últimos quatro anos. "A política de dividendos é clara, e a Margem Equatorial será um divisor de águas para uma nova fase da companhia", avalia. No entanto, ele alerta para a volatilidade do dólar e do petróleo, fatores essenciais para quem deseja investir na empresa no longo prazo. Nem tudo será cor-de-rosa.
As resilientes Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3)
Atuando em setores de receitas perenes, Cemig e Copasa sustentam seus dividendos independentemente dos juros.
Vanessa Naissinger, analista do setor elétrico e de saneamento da Varos Research, explica que a Cemig - que atua com geração, transmissão e distribuição - não sofre forte impacto dos juros, pois a demanda por eletricidade é estável. Nos segmentos de geração e transmissão, a receita é garantida por contratos de longo prazo, alguns reajustados pela inflação. Já na distribuição, há risco de inadimplência, mas as tarifas podem ser ajustadas para compensar custos.
A dinâmica da Copasa é semelhante, já que a demanda por água não varia com os juros e os custos podem ser repassados ao consumidor nas tarifas. "Historicamente, a Copasa não pagou dividendos elevados no passado devido a uma reestruturação na última década, que reduziu a geração de caixa e os dividendos", lembra Naissinger.
No entanto, com despesas sob controle e sem endividamento excessivo, os lucros de Cemig e Copasa tendem a se manter estáveis, mesmo com juros elevados.
Já diante de uma possível queda dos juros, as despesas financeiras diminuiriam, abrindo espaço para bons proventos nestas empresas. Apesar disso, Naissinger não recomenda as ações no curto prazo, por estarem caras, mas vê potencial para dividendos no longo prazo. Para Copasa, sugere a compra abaixo de R$ 20.
Duarte, da Ticker, estima dividend yield de 7% para Copasa e 8% para Cemig nos próximos 12 meses. Já Sergio Biz, do GuiaInvest, projeta 9% para Cemig em 2025 e entre 7,5% e 7,8% para Copasa neste ano. "A dívida da Copasa deve crescer devido a exigências regulatórias o que vai demandar mais investimentos, mas a empresa ainda terá capacidade de pagar dividendos recorrentes, mesmo que menores nos próximos anos", avalia.
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