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Se BC não sinalizar corte de juros, Lula vai querer nova meta de inflação
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Com a manutenção dos juros a 13,75% dada como certa nesta reunião do Copom, o presidente Lula e seus aliados examinarão com lupa o texto do comunicado atrás de um sinal para o corte de juros nos próximos meses, como alguns agentes de mercado já preveem. Se a sinalização não vier, as críticas aos juros altos por parte do Executivo vão continuar e aumenta a possibilidade de uma rediscussão da meta de inflação para o ano que vem.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, que já entendeu o modus operandi do novo governo, usou parte do seu tempo de fala aos senadores na semana passada para uma explicação antecipada sobre o comunicado: "As palavras da comunicação do Copom passaram a ser objeto político. Mas temos um padrão que não mudou, usado no mundo todo. O comunicado do Copom é muito técnico, e cada palavra faz muita diferença".
No primeiro comunicado do Copom sob Lula, uma das coisas que irritaram a equipe econômica foi o trecho que incluiu a nova regra de gastos do governo na lista de riscos para o cenário inflacionário, que levam o BC a manter os juros no patamar atual.
As palavras exatas eram: "A ainda elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais que implicam sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporadas nas expectativas de inflação e nos preços dos ativos".
Após a última reunião, o trecho foi alterado para: "A incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública".
O presidente Lula e seu entorno, incluindo neste caso o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressaram publicamente que tinham a expectativa de que o BC mostrasse mais confiança na nova regra de gastos apresentada pela Fazenda. Pelas palavras de Roberto Campos Neto no Senado, e diante das dificuldades do governo no Congresso, uma alteração radical na redação do comunicado do Copom não deve acontecer.
Outro trecho que será examinado de perto pela equipe econômica é o que fala do tempo em que o comitê pretende manter a taxa de juros no patamar atual para segurar a inflação. No último comunicado, de março, os diretores falam em período prolongado:
"Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação". No comunicado de fevereiro, o texto falava em período "mais prolongado do que no cenário de referência".
Meta de inflação
Diante do cenário mais provável, de que o Banco Central deve manter a mesma linha no comunicado desta quarta-feira, Lula e aliados devem elevar novamente a pressão sobre os juros, e cresce a possibilidade de o CMN (Conselho Monetário Nacional) rediscutir as metas de inflação para 2024 e 2025 na reunião de junho.
Caso o BC sinalize com uma queda de juros ainda em 2023, é possível que o CMN se restrinja a estabelecer a meta da inflação de 2026 em junho, sem rever as metas já estabelecidas para 2024 e 2025, de 3%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo (de 1,5% a 4,5%).
Crédito direcionado
Nas falas políticas de Lula desde fevereiro, são os juros altos no Brasil que impedem que as famílias saiam das dívidas, voltem a comprar, e a economia volte a crescer.
Durante a audiência no Senado na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, usou a sua apresentação para passar aos senadores, ao público e ao governo a sua análise de que a culpa dos juros altos no Brasil não é da Selic, estabelecida pelo BC, mas entre outros fatores, do alto volume do crédito direcionado (crédito mais barato, subsidiado, para determinados setores) concedido pelo governo.
"A potência monetária é o impacto das mudanças na taxa básica de juros. Quanto mais crédito direcionado, menos potência você tem. Não tem país no mundo que tenha tanto crédito direcionado como o Brasil, com 40%. É como a meia-entrada, ou como um tubo entupido. Isso explica por que o Brasil tem que subir mais os juros", disse Campos Neto.
O conceito da meia-entrada usado por ele é baseado na ideia de que, se quase metade do mercado de crédito tem empréstimos subsidiados, os demais (como os pequenos empresários) acabam pagando mais caro pelos juros dos seus empréstimos.
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