Mariana Londres

Mariana Londres

Siga nas redes
Reportagem

Fala de Lula sobre meta fiscal reduz espaço para corte de juros pelo BC

O Copom (Comitê de Política Econômica do Banco Central) volta a se reunir nesta semana para definir se mantém, eleva ou reduz a taxa básica de juros em meio a fortes reações provocadas pela fala do presidente Lula na sexta-feira (27) sobre a meta fiscal zero.

A tendência é que o comitê mantenha o corte de juros em 0,5 ponto porcentual nesta reunião, mas seja mais duro no comunicado após a decisão. O mercado olhará com lupa o texto, já que o Copom vinha sinalizando sobre o ciclo de redução ao dizer que o ritmo de cortes em 0,5 era esperado para as próximas reuniões.

Se o plural (próximas reuniões) for suprimido, será uma sinalização forte de que a autoridade monetária não está confortável com o atual balanço de riscos e que considera uma redução do ritmo para cortes de 0,25 mais cedo do que o mercado imaginava até agora.

Lula surpreendeu a todos ao dizer publicamente que a meta fiscal do país não precisava ser zero. Só que a meta de déficit zero, que na prática tira as contas do país do vermelho, foi estabelecida e defendida como prioritária pela equipe econômica, que, não por acaso, se sentiu desautorizada pelo presidente.

"Tudo o que a gente tiver que fazer para cumprir a meta a gente vai cumprir, mas o que eu posso te dizer é que ela não precisa ser zero. O país não precisa disso", foram as palavras exatas de Lula.

Mas por que a fala de Lula reduz o espaço para os cortes de juros?

A última ata do Copom, documento que explica a decisão sobre os juros e sinaliza os próximos passos da política monetária, foi clara ao falar da importância do atingimento das metas fiscais:

Por fim, o Comitê avalia que parte da incerteza observada nos mercados, com elevação de prêmios de risco e da inflação implícita, estava anteriormente mais em torno do desenho final do arcabouço fiscal e atualmente se refere mais à execução das medidas de receita e despesas compatíveis com o arcabouço e o atingimento das metas fiscais

A ata não fala textualmente de mudança de meta, mas alterar a meta descredibiliza o arcabouço fiscal recém aprovado. O texto segue falando das "metas fiscais já estabelecidas", e a meta fiscal que está estabelecida pela equipe econômica é a meta zero.

Continua após a publicidade

"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas".

O que mais o Copom levará em conta?

Com a inflação no Brasil surpreendendo positivamente, o BC vinha preocupado com o cenário externo, falando em comunicações oficiais da barra mais alta [maior dificuldade], com aumento das condicionantes necessárias para acelerar o ritmo de cortes dos juros.

No início de agosto havia a expectativa de que o BC poderia acelerar o ritmo de cortes, para 0,75 em 2024, mas a situação externa foi deixando esse cenário mais distante. Em 11 de outubro, no Marrocos, o presidente do BC teria dito em uma reunião fechada para investidores que seria mais provável uma queda de cortes para 0,25 do que aumento para 0,75.

Por que Lula falou em alterar a meta?

"Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a fazer corte de bilhões nas obras prioritárias do país", disse o presidente nesta sexta.

Continua após a publicidade

A meta zero obriga o governo a ser mais duro nos cortes no Orçamento 2024, e o presidente Lula não se mostra disposto a reduzir investimentos, especialmente de suas vitrines como PAC e Minha Casa Minha Vida.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes