Acordo avança, e mudanças no Perse tendem a ser aprovadas na Câmara
Avançou nos últimos dias o acordo entre o governo e o Congresso para reduzir o programa de socorro ao setor de Eventos, o Perse. Ainda há pontos em debate, como a criação de gatilhos caso o limite financeiro de R$ 15 bilhões para a manutenção do programa seja excedido e sobre o número de atividades que terão isenções mantidas, entre outros pontos.
Se houver ajustes nesses pontos o projeto de lei deve ser aprovado entre hoje (23) e esta quarta-feira (24) no plenário da Câmara dos Deputados. Depois, segue para o Senado.
No início da negociação com o Congresso, como contei aqui, a proposta da Fazenda era reduzir o programa para pequenas empresas e limitar a R$ 8 bilhões ao ano.
O que é o Perse?
Em função dos prejuízos durante a pandemia, o Perse isentou as empresas do setor de eventos do pagamento dos seguintes tributos: PIS, Cofins, CSLL e IRPJ. Os tributos tiveram as alíquotas reduzidas a zero por cinco anos, até o início de 2027.
No final do ano passado, o governo tentou, por meio da medida provisória 1202, encerrar o programa já neste ano com a volta dos pagamentos (para Pis/Cofins e CSLL após noventena e para IRPJ no ano seguinte), alegando que a renúncia fiscal estava além do programado e havia empresas que não precisavam mais das isenções, além de fraudes.
O setor e o Congresso foram contrários à tese do governo. Também houve discordâncias sobre os números. Até o trecho ser retirado da medida provisória e o governo apresentar um projeto de lei, que será votado nesta semana.
As principais mudanças no projeto que devem permitir a aprovação foram as seguintes até o momento. Veja ainda quais pontos ainda estão em aberto:
- Limite de R$ 15 bilhões: Do lado do governo, foi crucial haver um limite financeiro, para os próximos anos, além de uma definição para o término do programa (pelo texto atual, ele termina em 2026). Do lado do Congresso, essa questão também é vista como positiva, pois garante um volume definido de recursos para o setor nos próximos anos.
- Revisão em 2025: O texto atual do relatório prevê que se o programa estiver fora dos R$ 15 bilhões, o governo poderá enviar um novo projeto de lei no segundo semestre de 2025 propondo o ajuste proporcional das alíquotas ou a expansão de benefícios para adequar o custo fiscal nos exercícios seguintes. Este ponto ainda está em debate porque o governo queria que o texto trouxesse gatilhos para serem acionados caso os limites sejam extrapolados. A tendência é que o texto, após negociação, traga os gatilhos.
- Relatório de acompanhamento do programa: Entrou no relatório essa demanda dos parlamentares, que a Receita publique a cada dois meses um relatório de acompanhamento do benefício contendo os valores do benefício fiscal agrupados por CNAE.
- Faturamento nulo de 2017 a 2020: Este ponto do relatório assegura que empresas que não faturaram antes da pandemia participem do programa de socorro, reduzindo as fraudes.
- Habilitação prévia das empresas para se beneficiar do programa: O governo havia proposto habilitação prévia para todas as empresas, mas elas ficaram restritas às empresas do lucro real. Também foi incluído o prazo de 30 dias para que a Receita responda sobre o pedido de habilitação.
- Impostos isentos em 2024: Do lado dos setores e do Congresso, foi importante que a volta do pagamento dos impostos só aconteça em 2025. As empresas alegam que já se preparam para 2024, algumas contraíram empréstimos, levando em conta que os impostos estariam zerados. A proposta inicial do governo (a primeira, da MP 1202) era que o programa fosse encerrado já em 2024.
- Empresas do lucro real e presumido: Também do lado dos setores e do Congresso, foi importante a inclusão das empresas do lucro real no programa. O governo queria que essas empresas ficassem de fora, mas algumas das maiores empregadoras do setor, como a CVC, são do lucro real. De acordo com o texto atual, essas empresas terão que optar entre o benefício do Perse ou de prejuízos fiscais acumulados durante a habilitação prévia. Elas também voltam a pagar IRPJ e CSLL já em 2025.
- Quais empresas podem participar: O governo queria reduzir o número de empresas que podem se beneficiar das isenções de impostos de 44 para 12. Essa definição é feita por CNAE (Classificação Nacional das Atividades Econômicas usada pela Receita). A relatora manteve as 44, mas esse ponto está atrelado ao limite de R$15 bilhões e ainda pode ser alterado.
- Autorregularização: Permite que os contribuintes que usufruíram indevidamente do benefício fiscal possam aderir à autorregularização em até 90 (noventa) dias após a regulamentação da lei.
Próximos passos
Conversei com a relatora do Perse, a deputado Renata Abreu (Podemos/SP), e ela disse que todos os pontos ainda estão em debate em podem ser alterados. Nesta terça-feira o assunto será debatido na reunião dos líderes da Câmara, e se houver acordo, o texto irá à votação.
Para a deputada, os pontos cruciais do relatório são o limite de R$ 15 bilhões para o programa e as alterações nas cobranças apenas em 2025. "Estamos buscando segurança jurídica e justiça tributária".
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