Como o temor de recessão nos EUA afeta o bolso dos brasileiros
No dia seguinte à "segunda-feira sangrenta", de derretimento dos mercados globais, a avaliação de integrantes da equipe econômica do governo e de gestores é de que o temor de recessão nos EUA traz instabilidade, com turbulências à vista (como a de ontem), mas também potenciais efeitos positivos, como a redução da pressão inflacionária no Brasil.
O resultado dessa equação, se mais positiva ou negativa para o Brasil, vai depender do tamanho da recessão nos Estados Unidos. Em um cenário de recessão leve nos EUA, as consequências devem ser:
- Aumentam as apostas de um corte de juros maior e mais cedo do que o esperado pelo Fed (Banco Central dos EUA).
- O efeito esperado de uma redução dos juros americanos é uma desvalorização do dólar globalmente (porque deixa de ser tão interessante investir nos títulos americanos).
- No Brasil, o dólar mais "barato" reduz a pressão nos preços (já que há consumo de produtos e componentes importados no Brasil), e, consequentemente, a inflação.
- A desvalorização global do dólar também tende a reduzir o preço das commodities, deixando os alimentos mais baratos no Brasil.
- Se a inflação de fato ficar mais controlada no Brasil em função dos efeitos acima, o Banco Central brasileiro tende a afastar a possibilidade que entrou na mesa de aumento da taxa básica de juros brasileiros, mantidos na última reunião do Copom em 10,5% ao ano. A ata do Copom divulgada nesta terça-feira diz que o BC brasileiro não hesitará em subir os juros em caso de piora do cenário para a inflação.
Cenário externo
Não é de hoje que a equipe comandada pelo ministro Fernando Haddad acompanha de perto a economia americana e espera o potencial efeito positivo da queda dos juros americanos no Brasil. Desde o ano passado, Haddad mantém conversas com interlocutores nos EUA, como o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que previa uma redução na pressão dos juros americanos na metade deste ano.
O cenário otimista do time econômico brasileiro era que o ciclo de cortes do juros no Brasil pudesse se manter até o início do corte dos juros americanos, o que não ocorreu, já que as pressões inflacionárias nos EUA e o mercado de trabalho aquecido por mais tempo atrasaram o início de cortes por lá. A avaliação no Brasil é que, mesmo com o cenário de inflação sob controle por aqui, os juros americanos são um marcador importante porque podem ser uma espécie de piso para o juro real brasileiro.
Dólar pressionado
Do lado negativo, mesmo em cenário de recessão leve nos EUA, o temor global deve trazer turbulências no curto prazo, o que causa picos no dólar no Brasil, fazendo a moeda americana se aproximar dos R$ 6.
O dólar pressionado é politicamente sensível. A equipe econômica tem conseguido convencer o presidente Lula e as alas mais desenvolvimentistas do governo até agora da importância do ajuste pelo lado das despesas (revisões e pente-fino) para conter o dólar e o mau humor do mercado. É importante que essa agenda, de ajuste na despesa, ganhe tração.
Riscos
Já uma recessão forte nos EUA traria efeitos negativos para o Brasil. A relevância da economia norte-americana nas relações comerciais no mundo tende a gerar um efeito negativo em cascata.
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