Vale recupera parte dos R$ 71 bi perdidos em 1 dia com Brumadinho; e agora?
No dia 25 de janeiro, o rompimento de uma barragem da Vale mudava para sempre a vida de Brumadinho (MG), com grandes danos ambientais e centenas de vítimas. Para a mineradora, foi o início de um período de crise. Em um único dia, perdeu R$ 71 bilhões em valor de mercado. Foi condenada a pagar indenizações às famílias atingidas e viu a produção de minério de ferro despencar no período.
Hoje, seis meses depois, a empresa de mineração já recuperou boa parte do valor de mercado perdido: a ação da Vale, que valia R$ 56,15 antes da tragédia, já está cotada novamente na casa dos R$ 50 por papel. Ainda há dúvidas e indefinições sobre as demais punições que a empresa deve enfrentar. Dessa forma, quais as perspectivas para as ações da Vale?
Ação pode chegar a R$ 68, diz corretora
Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, mesmo com a dúvida em relação ao ressarcimento dos prejuízos causados, a perspectiva da Vale no Ibovespa, o principal índice de ações do país, é boa, e os papéis podem ultrapassar o patamar pré-Brumadinho ainda neste ano.
"O consenso do mercado, em média, seria da ordem de R$ 62 por ação", disse Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos. "Apesar de não sabermos o efeito de Brumadinho, como analista eu posso ficar mais tranquilo porque, financeiramente, a Vale tem uma gordura relativamente grande para qualquer ressarcimento que precise realizar", afirmou ele.
Para a corretora XP, o preço-alvo da ação é de R$ 68, já que a empresa "está focada em chegar a acordos com partes e autoridades" e isso "colocaria um fim às incertezas operacionais e legais remanescentes, permitindo que a empresa se concentre em seus negócios e que as ações sejam negociadas de volta aos fundamentos", afirmou a empresa em seu último relatório divulgado.
Preço de minério de ferro em alta ajudou
"Apesar do ocorrido, a Vale é uma grande oportunidade agora, já que a ação vai voltar a patamares anteriores ao acidente, pois o minério está alto e, no segundo semestre, a empresa vai ter um faturamento muito forte, com uma geração representativa", disse Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Corretora.
O minério de ferro, responsável por grande parte do faturamento da Vale, teve seguidas altas de preço no mercado externo, fazendo com que a receita da empresa não sofresse tanto, apesar da queda na produção.
Além da redução na oferta da companhia brasileira, as concorrentes da Vale, principalmente mineradoras australianas, também tiveram problemas e não conseguiram suprir o mercado da matéria-prima. O preço da tonelada do minério passou de cerca de US$ 65 para US$ 120 no primeiro semestre.
Riscos: indenizações e economia da China
Para os especialistas, o risco de indenizações pós-Brumadinho afetarem o caixa da Vale não são tão grandes, mas a empresa depende de uma "ajudinha" da economia mundial. O preço do minério de ferro tende a cair e, caso a economia da China apresente novos sinais de desaceleração, o preço pode ir bem abaixo.
"Esse preço do minério não é sustentável. Quando o preço voltar, e a produção voltar com as empresas australianas, esse preço tende a voltar a patamares próximos de Brumadinho, e a geração de caixa vai diminuir", disse Legat. O minério de ferro é muito utilizado na produção de aço, que, por sua vez, tem grande mercado nas construções chinesas.
Assim, caso haja uma condenação forte da empresa em relação à tragédia, com indenizações mais altas do que o mercado imagina, combinada com novos dados sobre a economia mundial, com foco especial na China, as análises de alta das ações podem ser revistas.
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