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Dólar sobe a R$ 5,668, novo recorde, e Bolsa cai 5,45% após saída de Moro

Do UOL, em São Paulo

24/04/2020 17h03Atualizada em 24/04/2020 18h09

O dólar comercial fechou em alta de 2,54%, vendido a R$ 5,668, após a saída do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Com o resultado, a moeda bateu o recorde nominal (sem considerar a inflação) de fechamento desde a criação do Plano Real pelo terceiro dia seguido e fechou a semana com alta de 8,25%, a maior desde novembro de 2008, no auge da crise financeira global. Em 2020, o dólar acumula valorização de 41,25%.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, despencou 5,45%, a 75.330,61 pontos, fechando a semana com queda acumulada de 4,63%, após duas altas semanais. No ano, a Bolsa acumula queda de 34,86%.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

Tensão política por saída de Moro

O mercado estava atento ao cenário político, com a tensão em torno da exoneração do diretor-geral da Polícia Federal e da crise com a saída do ministro da Justiça, Sergio Moro.

O sentimento do mercado —já abalado pela virada na política fiscal, pela deterioração das expectativas para a economia e pelo intenso fluxo de saída de moeda- piorou na véspera com os rumores sobre a demissão de Sergio Moro.

O humor azedou de vez quando Moro confirmou sua saída nesta sexta-feira, acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferência política, abrindo uma crise política que pode colocar a condução da economia num rumo não esperado.

"A percepção do mercado seria de que o governo está perdendo o rumo político e o Executivo está se isolando, em meio aos problemas ligados à pandemia global, inclusive com o esvaziamento da pasta de Paulo Guedes", disse a Infinity Asset Management em nota.

Chamou atenção nesta semana o fato de o governo ter anunciado um pacote para retomar o crescimento após a crise do coronavírus sem a participação da equipe econômica.

"Isso mostra que o ministro da Economia está em atrito com a Casa Civil", disse Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset.

"Aos olhos do mercado, Paulo Guedes não teria mais seu cargo garantido 'para sempre'. Isso assusta os investidores", afirmou Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. "Acho que o cenário para o Brasil se tornou muito mais incerto e negativo até, no mínimo, termos uma visibilidade do que será este 'novo governo'."

Na avaliação do UBS, os fatores-chave de atenção ao mercado agora serão um "contínuo" apoio do presidente Bolsonaro ao ministro da Economia e a relação do governo com o Congresso.

Banco Central intervém

O Banco Central vendeu US$ 3,175 bilhões das reservas nesta sessão —US$ 2,175 bilhões em quatro leilões no mercado spot e mais US$ 1 bilhão em duas operações extraordinárias de swap cambial. Mas tamanho volume apenas conseguiu suavizar a alta da moeda, a mais intensa em mais de um mês.

Bolsa chega perto de 'circuit breaker'

O Ibovespa chegou a cair mais de 9,5% no pior momento desta sessão, após o pedido de demissão de Sergio Moro. Se a queda chegasse a 10%, o pregão seria automaticamente interrompido por 30 minutos pelo mecanismo chamado circuit breaker.

"Estamos vendo um governo se desfazer em meio a uma situação gravíssima de política internacional", afirmou Fernando Bergallo, da FB Capital.

"A troca do Ministro da Saúde em plena pandemia já pegou muito mal para o investidor estrangeiro. No momento em que o segundo pilar do governo, que emprestou a credibilidade para o Bolsonaro, sai do governo, você está perdendo outra perna desse tripé que não vai se sustentar sozinho", afirmou.

Recorde do dólar não considera inflação

O recorde do dólar alcançado hoje considera o valor nominal, ou seja, sem descontar os efeitos da inflação, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

Levando em conta a inflação nos EUA e no Brasil, o pico do dólar pós-Plano Real aconteceu no fim do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 22 de outubro de 2002. O valor nominal na época foi de R$ 3,952, mas o valor atualizado ultrapassaria os R$ 7.

Fazer esta correção é importante porque, ao longo do tempo, a inflação altera o poder de compra das moedas. O que se podia comprar com US$ 1 ou R$ 1 em 2002 não é o mesmo que se pode comprar hoje com os mesmos valores.

* Com Reuters

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