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Dólar sobe 1,89% e vai a R$ 5,411 após fala de Haddad a banqueiros em SP

Do UOL, em São Paulo

25/11/2022 16h12

O mercado financeiro reagiu mal ao discurso promovido na tarde de hoje pelo ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), um dos nomes cotados para chefiar o Ministério da Economia no governo de Lula (PT), a uma plateia formada por banqueiros durante evento realizado na Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

O dólar comercial fechou com alta de 1,89%, sendo cotado a R$ 5,411. Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), que reúne as empresas mais negociadas, encerrou em queda de 2,55%, aos 108.976,70.

Segundo Haddad, o presidente eleito terá a reforma tributária como uma de suas prioridades e não tomará decisões sem dialogar com os demais Poderes e diferentes setores da sociedade.

Logo no início de seu discurso, Haddad deixou claro que falava em nome do presidente eleito. "Fui convidado pelo presidente da Febraban para participar. Declinei do convite na terça-feira, mas ontem recebi um pedido do presidente Lula para representá-lo neste evento. Estarei falando em nome dele, e não em meu próprio nome", disse.

A participação dele no evento foi vista como uma espécie de "teste" de seu nome para comandar a Economia — o PT quer formar uma dobradinha entre Haddad e o economista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real e membro da equipe de transição do governo petista. Neste arranjo, o economista ocuparia a secretaria-executiva da pasta ou o Ministério do Planejamento.

O mercado financeiro, no entanto, tem reagido mal a qualquer indicação de que Haddad será nomeado ao cargo, já que —aos olhos de investidores— é inclinado a flexibilizações das regras fiscais do país e tem pouca experiência técnica.

Conforme mostrou a colunista do UOL Thaís Oyama, desde a campanha, Lula tem dito que quer colocar na Economia um político com habilidade e suficiente trânsito no Congresso para conduzir uma agenda complexa que priorize o social mantendo a responsabilidade fiscal. Correligionários de Haddad, porém, não enxergam no ex-prefeito paulistano alguém com esse perfil e afirmam que ele não tem jogo de cintura.

Lula tem sido cobrado para anunciar o nome que chefiará sua equipe econômica. Escalado para ajudar na negociação da PEC da Transição, o senador Jaques Wagner (PT-BA) disse que a indicação de um ministro facilitaria as conversas em curso no Congresso.

Haddad será ministro? A jornalistas, após o almoço, Haddad negou que tenha sido convidado para ser ministro. "Quanto mais liberdade nós todos dermos ao presidente para ele compor sua equipe, melhor. Não cabe a nenhum de nós, colaboradores, nos insinuarmos, nos colocarmos, a gente se coloca à disposição do país. Quem compõe ministério é o presidente Lula", disse.

Virada de página. Ao longo de seu discurso, Haddad disse ainda que o país precisa virar a página da guerra que se estabeleceu entre Presidência e demais poderes e que as divergências devem ser sanadas com diálogo.

"Nós temos três esferas de poder e temos que saber conviver com elas. Não é cooptando, não é constrangendo que nós vamos conseguir os resultados que a gestão de recursos públicos exige de cada um de nós. Precisamos refazer o pacto federativo", afirmou.

Reconfiguração do Orçamento. O ex-ministro da Educação disse ainda que o orçamento público deve ser reconfigurado para dar mais consistência e transparência aos gastos públicos, com a colaboração do Congresso.

Na avaliação do petista, "qualquer pessoa minimamente versada em distribuição de renda" dirá que é preciso repensar diversos gastos no país. "Temos tarefa enorme de reconfigurar o Orçamento e dar a ele mais transparência", destacou, citando as áreas de Ciência e Tecnologia e Cultura.

Para Haddad, há "alguma coisa de muito errada que está acontecendo com desenho e execução do Auxílio Brasil". "O Bolsa Família acabou com a fome nesse país com transferência de renda da ordem de menos de 0,5% do PIB", disse. "Hoje tem programa de mais de 1,5% do PIB que não resolveu o problema."

Pedido por previsibilidade. Primeiro a discursar, o presidente da Febraban, Isaac Sydney, afirmou que "o Brasil precisa voltar a ter previsibilidade" e que o setor bancário contribuirá com a governabilidade.

"Independentemente do governo que sai e do novo que chegará, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável", disse Sidney.

"A pauta do setor não está vinculada a ideologias dos nossos governantes. Vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do País", complementou.

PEC da Transição. Haddad disse que o desfecho da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição será "dialogado". A minuta apresentada pela equipe de transição prevê uma autorização para que o governo gaste até R$ 198 bilhões fora do teto no ano que vem.

"Essa questão vai se resolver, ela tem de se resolver, ela vai ter um desfecho. O que eu vim dizer aqui é que esse desfecho vai ser dialogado com toda a sociedade", disse Haddad a jornalistas, depois do almoço.