Da periferia, grafiteiro Kobra recebe consultoria internacional; veja dicas
Criado na periferia de São Paulo, no bairro do Campo Limpo (zona sul), o grafiteiro Eduardo Kobra, 39, possui murais com suas obras espalhados por todo o mundo, dos EUA ao Japão. Para gerir sua carreira internacional, ele conta com o apoio de uma equipe estrangeira, sediada em Los Angeles, nos EUA, em parceria com o também renomado artista de rua francês Mr. Brainwash.
Mas, antes de chegar até aqui, ele precisou enfrentar muitos desafios, entre eles, apreensões por pichação na adolescência e até a rejeição dos pais, que não aceitavam seu trabalho. Agora, ele usa as lições aprendidas durante sua trajetória para inspirar outros empreendedores.
Kobra foi um dos palestrantes do Fórum Panrotas, evento da indústria do turismo realizado nos dias 15 e 16 de março, em São Paulo. Veja abaixo seis dicas do artista para superar as dificuldades e construir uma trajetória de sucesso:
1. Lute por seu objetivo
"Apesar das dificuldades de acesso a educação e conhecimento na periferia, eu fui na contramão do que o local me impunha. Eu vi amigos irem para o crime e para as drogas, mas não me desviei do meu objetivo de trabalhar com arte de rua", afirma Kobra.
O artista diz que começou a pintar em 1987, com cal e pigmentos, pois não tinha dinheiro para tinta em spray. Foi apreendido por pichação algumas vezes durante a adolescência, até que os pais o expulsaram de casa por não aceitarem a atividade. Ele passou a oferecer pinturas em troca de itens para sua sobrevivência, como roupas e até alimentos.
2. Divulgue seu trabalho
Kobra fazia dos muros da cidade uma forma de divulgação do seu trabalho, o que lhe rendeu um convite para fazer desenhos para o extinto parque Playcenter. "Os desenhos não eram autorais, eu tinha que seguir o tema proposto pelo parque. Mas isso me possibilitou desenvolver outros projetos paralelos."
Se antes a divulgação era restrita aos muros da cidade, hoje está também nas redes sociais, o que ajuda a impulsionar a carreira internacional do artista.
3. Não desista, mesmo com dificuldades
Um dos projetos paralelos foi o muro da memória, na avenida 23 de Maio, em São Paulo. Feito em 2009, representou a grande virada na carreira do artista, pois gerou repercussão nacional e internacional e convites para outros trabalhos. Mas não foi fácil executá-lo.
"Foi um ano de negociação até conseguir autorização da prefeitura. Eles liberaram o mural por apenas 30 dias, mas esse foi o tempo que eu levei para fazê-lo. Não tive nenhum suporte, pintava na calçada estreita, ao lado do trânsito intenso de ônibus, correndo risco. Mesmo assim, não desisti. Por causa da boa repercussão, a prefeitura resolveu mantê-lo."
4. Cerque-se de pessoas competentes
À medida que a carreira internacional avançava, Kobra fechou uma parceria com o artista de rua francês Mr. Brainwash para aumentar suas possibilidades. Ele tem equipes em Los Angeles e em São Paulo que administram os murais e cuidam da organização dos materiais, que é mais difícil e demorado que a pintura em si, segundo ele.
"São pessoas competentes, que respondem por mim. Preciso delas para ter o trabalho com a qualidade que desejo", afirma.
5. Trabalhe da forma correta
Anos atrás, Kobra foi diagnosticado com intoxicação por metais pesados devido a inalação de tinta, mesmo mal que matou o artista Candido Portinari.
"No começo, eu não trabalhava de forma adequada, não usava máscara, e hoje sofro os efeitos físicos disso", diz.
6. Tenha um propósito
Kobra faz um trabalho focado em memórias, pois é fã de história. Ele também chama atenção para questões sociais em seu trabalho, como desemprego, crianças desaparecidas, respeito aos animais etc. "Quero ocupar as cidades não só pela estética, mas para passar uma mensagem", declara.
Ele conta que, convidado a pintar em Moscou, na Rússia, teve que trabalhar com a polícia acompanhando e dando palpite no mural, indicando, inclusive, quando ele deveria parar. Para concluir o trabalho como desejava, teve que negociar com os policiais, dizendo que eles poderiam apagar a obra na sequência se não gostassem do resultado final, o que não aconteceu.
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