Refugiado que começou com frango fiado ganha R$ 1,2 mi com sanduba de R$ 10
Em meio às ruas movimentadas do Brás, região central de São Paulo, um ponto tem chamado a atenção: o New Shawarma. De segunda-feira a sábado, dezenas de pessoas disputam lugar no balcão do pequeno restaurante, de pouco mais de oito metros quadrados.
Aberta há cerca de um ano pelo refugiado sírio Eyad Abuharb, 26, a empresa faturou cerca de R$ 1,2 milhão em 2016, segundo ele. Abuharb começou o negócio comprando frango fiado, porque não tinha dinheiro.
O carro-chefe do restaurante é o sanduíche shawarma, típico da Síria e de outros países do Oriente Médio, que leva carne ou frango, pasta de alho, picles e batata frita, tudo dentro do pão sírio. A carne é marinada em um tempero especial durante uma semana.
O preço é camarada: R$ 10. São vendidos 200 shawarmas por dia, em média. Também vende outros itens, como falafel (bolinho frito de grão-de-bico), sujuk (sanduíche de carne picante), refrigerantes e sucos. Desde março, o restaurante também faz entregas na região do Brás.
A fama do local chegou até os ouvidos do chef Henrique Fogaça, jurado do programa MasterChef Brasil (Band). Depois de visitar a cozinha do New Shawarma e provar a iguaria, Fogaça convidou Abuharb para participar de um episódio do programa Rolê do Chef (canal TLC), em que ambos preparam um jantar com pratos da culinária síria para um grupo da comunidade árabe em São Paulo.
"Foi demais, o programa me deu muita exposição", diz.
Chegou a SP com US$ 100 no bolso
Abuharb aprendeu a fazer a especialidade em Damasco, na Síria, onde trabalhava como chef de cozinha. Ele conta que precisou deixar o país há dois anos e meio, por causa da guerra.
"Não queria ser obrigado a entrar no conflito e matar pessoas, por isso resolvi buscar asilo. O Brasil é um dos poucos países que aceitam refugiados. Consegui o visto e vim para cá", conta.
Abuharb chegou a São Paulo com US$ 100 no bolso. Logo procurou mesquitas e a comunidade árabe. Por meio dos contatos que fez, conseguiu emprego em um restaurante árabe, onde trabalhou por um ano, até juntar algum dinheiro.
80 kg de frango comprados fiado no açougue
Quando conseguiu o suficiente para comprar o espeto onde se faz o frango e a carne usados na shawarma, ele decidiu alugar um pequeno ponto no Brás.
"O problema é que faltava dinheiro para comprar os ingredientes principais”, diz. Abuharb foi ao açougue ao lado e pediu 80 quilos de frango fiado, com a promessa de pagar assim que as vendas engatassem.
No dia da inauguração, ele ofereceu shawarma de graça para os clientes na porta do restaurante.
É um hábito em meu país não cobrar nada no primeiro dia, para atrair a freguesia.
Deu certo. Abuharb conseguiu pagar o açougueiro em pouco tempo, e o negócio começou a deslanchar. A propaganda boca a boca ajudou. Em pouco tempo, começaram a se formar filas de clientes na porta do restaurante na hora do almoço.
Agora, faz parte de seus planos abrir um segundo ponto nos Jardins ou outro bairro “de bom poder aquisitivo”. "No Brás, já tenho boa clientela. Vai chegar o momento de crescer e ir para outros locais da cidade, onde o restaurante tenha chances de se tornar mais conhecido e atrair mais gente", diz. A nova empreitada ainda não tem data para acontecer.
Comidas rápidas e bem feitas têm mais chances de agradar
“No setor gastronômico, é importante manter os custos enxutos e oferecer um produto de qualidade a um preço bom”, diz Paulo Marcelo Tavares Ribeiro, consultor do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo). “Preparar apenas uma especialidade torna a parte operacional mais simples, facilitando o gerenciamento do estoque”, afirma.
Para Marcelo Neri, professor de gastronomia da Faculdade Anhembi Morumbi, acertar o público-alvo também é fundamental. “Em regiões comerciais, como o Brás, comidas rápidas e bem feitas, com algum toque especial, têm mais chance de agradar”, diz.
Onde encontrar
New Shawarma: www.facebook.com/newshawarmarestaurante/
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