Investir em startup de cerveja, bike e energia solar pode render até 2.800%
Que tal ser sócio de uma fabricante de cervejas artesanais que está em pleno crescimento? Ou então de um sistema de compartilhamento de bicicletas numa grande cidade? Ou, ainda, participar de uma startup que criou um modelo de aluguel de painéis solares para quem não quer mais gastar com conta de luz?
É o caso da 3Cariocas, da Loop e da Solar21. Todas são jovens empresas atuando em ramos que crescem rapidamente e das quais você poderia, de fato, ter virado sócio, mesmo sem ter nenhum grande capital para isso. Elas são alguns exemplos dos projetos recentes que passaram pelas plataformas do chamado equity crowdfunding, ou financiamento coletivo de empresas.
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Trata-se de uma nova modalidade de investimento que permite aplicar diretamente em startups, tornando-se um pequeno sócio delas. Os investimentos mínimos são baixos, de R$ 500 a R$ 1.000.
O esquema lembra os sites de vaquinhas virtuais, mas é diferente porque transformando os investidores em acionistas.
Era mercado só para grandes investidores
Na prática, o equity crowdfunding democratizou o que, até então, só era acessível a grandes investidores ou empresas especializadas, como investidores-anjo, fundos e aceleradoras.
É um mercado que tem riscos enormes --incluindo o de perder tudo--, mas no qual os lucros podem ser grandes também.
Para se ter uma ideia, em 2017, uma das primeiras operações desse jovem mercado deu um retorno de quase 2.800% para quem investiu: foi o caso da BrewDog, uma cervejaria artesanal britânica que começou com uma barraquinha na Escócia em 2007 e embolsou US$ 264 milhões ao vender um naco de 22% para um fundo de investimento em 2017.
A aquisição significou um aumento no seu valor de mercado de 2.765% em relação a 2009, quando fez a primeira rodada de crowdfunding. Ou seja, uma pessoa que investiu US$ 1.000 na BrewDog em 2009 poderia revender sua parte por US$ 28.650 oito anos depois.
Investimento cresce 4 vezes em 1 ano no país
No Brasil, o equity crowdfunding teve as primeiras rodadas de investimento ainda em 2014, mas foi no ano passado, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) regulamentou a modalidade, que houve mais destaque ao modelo.
Segundo a Equity, associação das plataformas do setor no Brasil, o volume de investimentos em startups por financiamento coletivo cresceu quatro vezes em um ano: saiu de uma média de R$ 5 milhões ao ano antes da regulamentação da CVM (de julho de 2017) para R$ 20 milhões em julho deste ano.
O número de plataformas também cresceu: de três, no começo do ano, já são nove registradas hoje na CVM. Kria, EqSeed, StartMeUp e Urbe.me são algumas delas.
"É uma opção para pessoas que estão procurando retornos potenciais bem mais significativos do que o oferecido por investimentos tradicionais", disse Brian Begnoche, um dos fundadores da EqSeed, plataforma de equity crowdfunding do Rio de Janeiro. "Em um cenário de juros em queda, é mais uma opção para diversificar."
Como investir
Os investimentos são feitos de maneira bem similar à de plataformas de vaquinha virtual: as empresas apresentam seu perfil no site (o que fazem, onde atuam, quanto faturam, quanto crescem etc.), dizem quanto dinheiro querem levantar e para o que ele será usado.
Geralmente são startups já em operação e com algum sucesso, com dois a cinco anos de atividade, e não totalmente embrionárias. Os investimentos captados vão para consolidação e expansão.
Os interessados, então, se cadastram no site e reservam o quanto querem comprar daquela oferta.
A venda é feita em cotas, com valores predeterminados e que costumam variar de R$ 500 a R$ 7.000. Cada uma dessas cotas representa um pedaço proporcional de participação no capital da startup e que passa a pertencer ao investidor.
As ofertas podem ficar no ar por até seis meses. Se nesse período a startup não completa o valor que queria, o dinheiro dos investidores que chegaram a aplicar é devolvido integralmente, e a operação não é realizada.
Como se ganha dinheiro
Investir numa startup via crowdfunding é mais ou menos como comprar ações de uma companhia na Bolsa de Valores, que nada mais são do que frações de participação na companhia.
A diferença é que, na Bolsa, os investidores podem revender suas ações a qualquer momento no pregão (o chamado mercado secundário), caminho que ainda não existe no equity crowdfunding.
"Uma vez que você invista na empresa, o seu dinheiro fica preso lá, não tem liquidez nenhuma", disse Bernardo Pascowitch, dono do site de comparação de investimentos Yubb e diretor da ABFintech (Associação Brasileira de Fintechs).
As maneiras de embolsar lucro pelo equity crowdfunding hoje são:
- A empresa ser comprada: É este o grande filão. O negócio cresce e acaba adquirido por investidores ou empresas maiores. Quando isso acontece, todos aqueles que compraram alguma participação podem vender seu pedaço ao novo comprador, como aconteceu com os investidores da BrewDog.
- A empresa pagar dividendos: Conforme a startup cresce e ganha uma estrutura mais robusta, ela pode passar a pagar dividendos, que são parcelas do lucro total divididas proporcionalmente entre os acionistas. Mas isso leva tempo --não costuma acontecer antes de cinco anos após as primeiras rodadas de investimento. Também não é obrigatório. Os donos podem simplesmente reinvestir todo o lucro no negócio em vez de remunerar acionistas.
- Vender para um terceiro: Você pode revender diretamente seu pedaço para um familiar, um colega ou outro investidor que tenha interesse. Também é possível oferecer a venda de volta para a própria empresa, que pode ter interesse ou não.
Muito, muito risco
Na outra face da promessa de altos lucros, estão os riscos, que também são elevados e vários.
"É um mercado de risco. Toda startup é um processo de tentativa que não tem nada assegurado de que vai dar certo", disse o presidente da Equity, Adolfo Melito, que também é fundador da MyFirstIPO, outra plataforma recém-lançada.
Um dos riscos é o negócio não vingar e acabar fechando. Nesses casos, a perda é total: o dinheiro que você aportou provavelmente foi usado pela empresa em algum investimento, e ela não vai ter mais nada para devolver.
Os representantes do setor afirmam, porém, que as startups que emplacam suas propostas nas plataformas já são resultado de uma seleção bem criteriosa -as aprovadas são 1% das que se inscreveram", segundo Begnoche, da EqSeed.
O outro risco, até mais provável, acontece mesmo com a empresa que está dando certo: é o de ela não ser vendida nunca, ou pelo menos demorar muito até que isso aconteça.
Como ainda não há muitas maneiras de passar os papéis para frente, o capital que você deixou lá pode já ter até tê-lo transformado em um pequeno milionário, mas você fica sem ter como botar as mãos nele.
"A estratégia é investir em várias empresas, porque, de 15, duas ou três vão dar certo", disse Begnoche. "É que elas podem dar muito certo, e aí pagam todas as perdas com as outras."
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