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Corte de juros reduz ganho da renda fixa; veja como ficam os investimentos

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

06/05/2020 18h27Atualizada em 23/07/2020 15h37

Resumo da notícia

  • Banco Central reduz taxa básica Selic de 3,75% para 3% ao ano, nova mínima histórica
  • Rendimentos da poupança e de fundos DI também ficam mais baixos
  • Bolsa pode ser beneficiada como aplicação, mas crise da covid-19 gera volatilidade

Os investimentos dos brasileiros voltam a ser afetados por um novo corte de juros no país. O Banco Central diminui a taxa básica, a Selic, de 3,75% para 3% ao ano, nova mínima histórica. Como essa taxa é a referência usada para determinar a variação de aplicações em renda fixa, como caderneta de poupança e fundos DI, o investidor vai receber ainda menos para cada real aplicado.

A Bolsa até deveria ser beneficiada pela queda da Selic, dizem profissionais de mercado. Isso porque a redução dos juros é uma das armas do governo para estimular a economia, diminuindo custos de empréstimos para quem quer consumir.

O problema é que as incertezas provocadas pela crise do novo coronavírus tornam as ações de empresas um negócio de risco maior. Tanto é que a Bolsa apresenta, em 2020, uma grande volatilidade, acumulando variação negativa neste ano —a pior aplicação em uma cesta de ativos selecionados.

Menor ganho na renda fixa, ainda porto seguro

Poupança: A caderneta tem o rendimento determinado por uma variação que deve representar 70% da Selic. Ou seja, se a Selic cai, o ganho nominal anual da caderneta também recua. No caso, vai diminuir de 2,63% para 2,10% ao ano.

Fundos DI: Esses fundos, que aplicam em títulos do Tesouro, rendem um pouco mais que a caderneta, ou seja, vão render mais perto de 3% ao ano. Mas essas aplicações pagam Imposto de Renda e ainda têm o custo da taxa de administração, cobrada pelos gestores.

Então, o ganho dos fundos DI será apenas um pouco maior que o da caderneta desde que o dinheiro fique parado por mais de seis meses. Isso porque a alíquota de IR diminui com o tempo —começa em 22,5%, para aplicações de até seis meses, caindo para 15%, na aplicação que ficar parada por dois anos. Sobre a taxa de administração do gestor, o fundo DI só vale mais que a poupança se a taxa for menor que 0,3%.

Aplicações que seguem o CDI continuam sendo o lugar para investidores conservadores, que mesmo com a queda dos juros continuam a procurar tranquilidade para os seus investimentos
Marcos Lyra, gestor da Daycoval Investimentos

Bolsa volátil serve para o longo prazo

Bolsa: Historicamente, a Bolsa tende a subir sempre que os juros recuam. Afinal, juros mais baixos reduzem o ganho das aplicações de renda fixa, tornando a aplicação em ações mais interessante. Além disso, juros mais baixos servem para estimular a economia, o que alimenta os lucros das empresas que têm ações e, portanto, de seus acionistas investidores.

O problema é que o Brasil atravessa essa crise econômica, e ainda predominam incertezas sobre quando o pior desse momento passará.

A queda dos juros por si só não resolverá os problemas do Brasil nem fará a Bolsa disparar,
Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos

Então, afirmam os profissionais de mercado, a Bolsa deve continuar sendo vista como uma aplicação de longo prazo, para o aplicador que não deve precisar desse dinheiro por um prazo de uns cinco anos.

Mesmo com o cenário difícil que estamos passando pelas questões de vírus e política, acredito que, com a queda dos juros, vamos ter uma Bolsa em alta no longo prazo,
Marcos Lyra, do Daycoval

Juros podem cair mais

A Bolsa como investimento de longo prazo também é opção porque a expectativa dos economistas é de que os juros vão seguir baixos e poderão até cair mais.

Para cortar mais os juros temos a justificativa da forte retração da atividade econômica e, por isso, uma inflação que segue baixa,
Marcelo Kfoury, economista e professor da FGV EESP

No curto prazo, os indicadores de inflação estão até negativos, além disso temos capacidade ociosa elevada. Não enxergo pressão no curto prazo,
Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, economista da ABBC (Associação Brasileira dos Bancos)

Profissionais de mercado alertam, entretanto, que o governo precisa sinalizar que o plano para tirar o país da recessão não vai virar um aumento permanente de gastos públicos. Se empresários e investidores locais e estrangeiros começarem a ver uma crise política no governo que mostre um risco maior de piora das contas públicas, a economia vai travar de vez.

Eu espero novos cortes de juros mais para a frente, em um cenário em que a crise da saúde começa a se resolver, a economia comece a se recurperar e o mundo político se organize ao redor de algumas reformas, incluindo ajuste fiscal. Agora se nada disso se confirmar, seja pelo lado da saúde, seja pelos ruídos no lado político, com uma piora das contas públicas, esse cenário de corte de juros vai ter que ser revisto,
Felipe Sichel, estrategista do banco digital Modalmais

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Correção nos percentuais de rendimento da caderneta de poupança, no quarto parágrafo, e do fundo DI, no quinto parágrafo