Entenda a relação entre risco e retorno no mercado de capitais

Nos últimos tempos, a Bolsa brasileira vem dando provas seguidas de resiliência, característica mais do que testada durante a pandemia e uma série de crises globais e locais, como a recente alta mundial da inflação. As duas últimas reduções da taxa Selic e a aprovação do novo arcabouço fiscal, no entanto, influenciam a confiança do investidor e sinalizam o início de um período de retomada e de recomposição das perdas.
Atualmente, o número de investidores pessoa física na B3 já ultrapassa a casa dos 5 milhões, com mais de R$ 5 trilhões investidos, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Ativos de renda fixa, como CDBs e Tesouro Direto, estão entre os preferidos do investidor pessoa física, seguidos pelas ações, os fundos multimercado e os fundos imobiliários (FIIs), que já reúnem mais de 2 milhões de investidores.
Entre as empresas, notamos um movimento de retomada, conforme evidenciado por um levantamento recente da Anbima. Segundo a Associação, entre os meses de janeiro e agosto foram captados R$ 229 bilhões no mercado de capitais brasileiro, com destaque para os resultados mais recentes, de junho a agosto, que totalizaram R$ 122 bilhões, recuperando-se de um início de ano mais lento. Entre os especialistas, a aposta é grande de que, assim como acontece em países como os EUA, o mercado de capitais em breve ultrapasse o sistema bancário como principal fonte de financiamento das empresas.
Esses acontecimentos comprovam o amadurecimento do investidor, que vem tendo cada vez mais acesso a informações de qualidade e já reconhece as vantagens da diversificação dos investimentos.
Outro ponto que reforça esse amadurecimento é a compreensão de que o mercado é cíclico, podendo sofrer variações e tempestades mais intensas no curto prazo. No longo prazo, todavia, o retorno tende a ser maior. É impossível afirmar categoricamente que uma aplicação vai gerar os resultados esperados e até mesmo os mais seguros dos títulos podem sofrer com alguma alteração que coloque em risco o valor investido. Por isso, é fundamental compreender e aceitar o risco de mercado para colher os benefícios.
A classificação dos investimentos em high yield e high grade é uma ferramenta poderosa para o investidor e muito utilizada no mercado de crédito. Ela analisa a relação risco e retorno potencial de cada ativo. De forma simplificada, podemos dizer que:
High yield são investimentos com alto potencial de retorno, mas com alto risco.
High grade são investimentos de baixo risco, mas com baixo potencial de retorno.
Tanto os ativos high yield quanto high grade acabam sendo uma boa alternativa de financiamento para as empresas. Eles podem ser uma ótima oportunidade para investidores, sempre levando em consideração o produto adequado para o apetite ao risco de cada investidor.
As duas categorias ajudam no financiamento de projetos com impacto real na sociedade por meio da geração de empregos e no desenvolvimento de comunidades locais, por exemplo. Enquanto o high grade costuma ser usado por empresas de maior porte, o high yield é a escolha de empresas menores ou que têm mais dificuldade em acessar meios de financiamento tradicionais, como aqueles oferecidos por bancos.
Existem, naturalmente, investidores dispostos a aplicar em ambos, a depender da sua propensão ao risco. Porém, é preciso atenção. Como o risco dos títulos high yield é maior, eles precisam oferecer uma promessa de retorno maior para convencer investidores a usar seus recursos para a compra desses papéis.
Por outro lado, uma análise atenta dos períodos de crise dos mercados globais mostra que essa classe de ativos mais arriscados pode ser uma forma interessante de surfar recuperações para aqueles que têm o perfil necessário. Levantamento feito pela Bloomberg mostra que, em crises como a da bolha da internet, em 2000, a falência do Lehman Brothers em 2008 e o crash do petróleo em 2016, a classe de high yield bonds nos EUA historicamente permaneceu entre os melhores retornos no período de recuperação. Ainda de acordo com o estudo da Bloomberg, o Yield to Worst —também conhecido como Yield to Call, uma medida do quanto um ativo de dívida pagaria em caso de resgate antecipado— tem se mostrado um bom indicador de como serão os retornos futuros em cinco anos.
Dados históricos mostram que os resultados efetivos nos EUA se mantiveram próximos dos retornos sugeridos pela medida Yield to Worst, mesmo em cenários de alta volatilidade no meio do caminho. Isso aconteceu, por exemplo, durante a crise financeira global de 2008, um dos períodos de maior turbulência econômica da história recente. Naquele episódio, se um investidor tivesse adquirido títulos high yield nos EUA em maio de 2007 com um rendimento máximo de 7,5% e mantivesse esse investimento pelos próximos cinco anos, ele teria 7,6% em retorno total anualizado —mesmo enfrentando uma redução de 36% no mercado durante esse período. Isso porque os títulos high yield oferecem um fluxo de rendimento que poucos outros ativos conseguem.
Os dados acima se referem ao mercado dos EUA, onde há uma maturidade maior de informações, mas podem oferecer uma sinalização importante para o mercado de dívida em outras regiões. Independentemente de onde o investidor estiver, uma regra segue a mesma: para compensar o risco de crédito mais alto, a dica é buscar informações e optar por uma estratégia de diversificação de ativos, além de manter a frieza diante de possíveis oscilações.
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