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Dinheiro para empresas em crise: o papel da securitizadora

O mercado de capitais bateu recorde de emissões em setembro, captando cerca de R$ 57,1 bilhões, no melhor mês do ano. Segundo a Anbima, o volume foi 23% superior ao verificado no mesmo período no ano passado. Publicada recentemente, a notícia provocou uma onda de otimismo, e não foram poucos que evocaram a volta dos "bons e velhos tempos" da B3.

No entanto, o momento pede um pouco mais cautela na análise. Pesquisa publicada recentemente por um jornal econômico de grande circulação mostrou que as despesas financeiras de 214 empresas brasileiras de capital aberto quase dobraram de 2019 para 2023: de R$ 100 bilhões para R$ 197 bilhões. Entenda por despesas financeiras o dinheiro gasto para pagar as dívidas existentes.

Novo ciclo pode começar. Após duas quedas da taxa Selic, que foi de 13,75% ao ano para 12,75%, e a sinalização pelo Copom de novas reduções nos próximos encontros, um novo ciclo de baixa nos juros parece ter se instaurado na economia brasileira. A possiblidade de economizar no custo do dinheiro foi colocada na mesa. Emprestar dinheiro para empresas se reconstruírem passou a ser um negócio promissor.

O que isso significa para uma securitizadora? Alguns devem se perguntar o que significa, para uma securitizadora (instituição que antecipa valores a receber para companhias, transformando essas dívidas em ativos negociados com investidores no mercado), buscar mais recursos para uma empresa que já está devendo. Que papel exerce uma securitizadora que faz o seu trabalho segundo as melhores práticas, indo muito além de carimbar operações de grandes agentes do mercado, quando lida com um ativo em crise?

Primeiramente, é preciso que se diga que este é um momento apropriado para as casas que enxergam oportunidades onde outros podem ver só problemas. Cada operação de crédito tem as suas peculiaridades, assim como as empresas. Nenhuma é igual a outra, portanto as crises são diferentes entre si. Algumas companhias têm potencial de crescimento, histórico de ótimos resultados e estão inseridas em um setor em expansão.

Sabemos que, em pouco tempo, muitas dessas companhias terão recuperado a sua capacidade de pagamento, pelo caráter cíclico da economia e pelas peculiaridades de cada negócio. Nos projetos imobiliários, setor em que atuo mais frequentemente, às vezes é necessário tomar dinheiro para não deixar a obra parar, porque um canteiro parado, com muitos custos envolvidos, como o trabalhista, pode sair muito mais caro.

À securitizadora, cabe estar muito próxima da empresa e agir rápido. Executar as garantias da dívida na Justiça geralmente é adotado como último recurso. Porque, se o objetivo é fazer com que as empresas não quebrem e que o devedor pague aos investidores, renegociar tende a ser um caminho mais ágil e saudável. Um processo judicial decorrente de uma execução de garantia, por exemplo, pode fazer com que o período sem pagar salte de um ano para dez, em situações mais complexas.

No período em que a economia brasileira está atravessando, até mesmo empresas triple A (aquelas avaliadas como mais seguras) estão na mesa de negociações. Nunca se leu tanto a palavra "waiver" no noticiário quanto agora. O que poderia soar absurdo para os mais conservadores, emprestar dinheiro para que a empresa devedora volte a pagar com regularidade pode, sim, ser a solução.

Em todos os casos, a margem de lucro dos investidores pode aumentar significativamente. Waiver não é perdão de dívida. O valor que deixou de ser pago é incorporado ao saldo devedor acrescido de juros. Da mesma forma, as renegociações: a remuneração, como se sabe, aumenta conforme o risco.

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Antes que se pense que uma queda abrupta da taxa Selic poderia pôr um ponto final nas crises, é preciso destacar que o momento ainda é o de equilibrar os pratos. Afinal, uma diminuição radical dos juros poderia provocar uma desestabilização do câmbio e da inflação, prejudicando, isso sim, as empresas.

Opinião

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