O jeito infalível de ganhar dinheiro é pagar R$ 0,50 e levar R$ 1, mas dá?
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Na verdade, não apenas é possível, como é isso que os bons investidores fazem —suas análises indicam que um determinado bem (ou ativo) vale mais, só que não é hoje, mas, sim, em um futuro que pode ser próximo ou distante.
Vou dar um exemplo mais claro:
Você deve ter ouvido falar no último mês que o Corinthians fez uma proposta para quitar o financiamento de seu estádio com a Caixa Econômica Federal? Pode ler aqui, caso não tenha ouvido.
A proposta tem por base um item interessante, que é a utilização de uma carteira de precatórios. Um precatório, em versão simplificada, é um título de dívida do governo (ou da própria Caixa, que é do governo, nesse exemplo) que já transitou em julgado, ou seja, sobre o qual não restam contestações.
Só que tem um detalhe importante: como o governo não tem o dinheiro para pagar, os credores detentores desses títulos entram em uma fila, que pode levar anos até o recebimento. Muitos credores não podem ou não querem esperar tanto tempo e, assim, vendem seus ativos para investidores, recebendo à vista, mas por um valor menor, com desconto. Para quem investiu, é só esperar para receber um valor maior no futuro.
Nessa operação, os rumores indicam que o clube de futebol comprou algo em torno de R$ 300 milhões e vai pagar algo entre R$ 30 milhões e R$ 90 milhões. Então, ofereceu para a Caixa os R$ 300 milhões, fazendo um grande "acerto de contas".
Quem não gostaria de comprar R$ 300 por R$ 90 ou mesmo R$ 30? Mas, de tão bom, você pode estar pensando: isso existe mesmo? Esse mercado existe faz tempo e vem crescendo muito, tendo hoje em dia até opções para investidores de varejo. Os grandes "tubarões" como Family Offices (escritórios que cuidam dos investimentos de clientes muito ricos) e fundos de investimento especializados já investem para seus clientes há muitos anos, nesses mesmos moldes.
É preciso cuidado, no entanto, para entrar nesse tipo de investimento alternativo. Entender quem é o ente emissor do título e como vem funcionando a fila para pagamento, além de conhecer o próprio titular do ativo. Para isso, é fundamental ser assessorado por um bom escritório de advocacia, que conheça o título, seu histórico, suas características e o fluxo de pagamentos com as regras do ente devedor em questão.
Essa é uma forma bastante rentável também para os bancos e factorings ganharem dinheiro em operações chamadas de "antecipação de recebíveis". Pense em quem tem as máquinas de cartões de crédito. Os comerciantes fazem as vendas, mas só receberão o dinheiro em 40 dias ou, muitas vezes, de forma parcelada. O que o banco faz? Oferece o dinheiro à vista, mas com um desconto e, a partir daí, fica com os títulos para receber mais no futuro.
Embora não seja o nosso foco aqui hoje, isso também é verdade para outros tipos de investimento, como ações, em que se investe com a perspectiva de comprar algo que valerá mais no futuro do que hoje. Mesma coisa em CDBs, títulos do Tesouro e assim por diante. O mercado de investimentos reside nesse conceito, de comprar algo hoje, que valerá mais no futuro.
Voltando para o mercado de recebíveis, quando falamos em fundos de investimento, eles são estruturas jurídicas que fazem exatamente isso: os gestores profissionais varrem o mercado na busca de títulos com essas perspectivas.
Comprar R$ 1 por R$ 0,50. No caso desses títulos, podemos falar mais especificamente dos FIDCs, que são os Fundos de Investimento de Direitos Creditórios. Nesse caso, eles investem no mercado de recebíveis, como duplicatas, precatórios e outros títulos com essas características, pagando com desconto e aguardando o vencimento para receber o valor integral. Esses fundos, até há bem pouco tempo, só estavam disponíveis para investidores qualificados e profissionais, mas agora estão disponíveis para qualquer investidor (a depender dos títulos que possuir na carteira, alguns ainda são apenas para investidores mais abastados).
Desta forma, novas oportunidades se abrem para os investidores, com possibilidades de retorno bastante interessantes, mas que só valerão a pena para quem tem o perfil de risco que permita esperar o tempo necessário, abrindo mão da liquidez. Ah, e é fundamental estar sempre muito bem assessorado para a correta compreensão dos riscos envolvidos e, além disso, de como esses ativos se juntam à carteira de cada investidor.
Boas festas, boas escolhas e um ótimo 2024!
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