Previdência privada cresce, cliente topa risco, mas tem de evitar taxas
Resumo da notícia
- Patrimônio da previdência privada passa de R$ 1 trilhão na crise
- Juros baixos estimulam busca por mais rentabilidade, com mais risco
- Não movimente seu dinheiro para outro fundo sem conferir taxas
- Veja se tendência de busca por risco deve continuar em 2021
A previdência privada cresceu no Brasil durante os últimos 12 meses, período marcado pela crise econômica provocada pela pandemia de covid-19. Além de haver mais investimentos em previdência, os aplicadores também aceitaram mais riscos para tentar ganhar um pouco mais, diante dos juros baixos. Mas mudar seu plano exige cuidados para não pagar muitas taxas.
Desde o fim de março do ano passado, os fundos de investimento dessa categoria captaram um total de R$ 40 bilhões líquidos - ou seja, já descontados os resgates. Isso elevou o patrimônio do setor para mais de R$ 1 trilhão pela primeira vez, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) até quarta-feira (7).
Esse avanço da previdência privada foi conquistado graças aos fundos de ações, multimercados e balanceados, que investem parte da carteira em Bolsa e outros ativos de renda variável. Mesmo com a forte volatilidade dos mercados ao longo de 2020, esses produtos captaram R$ 61 bilhões líquidos ao longo dos últimos 12 meses. Essas entradas compensaram com folga as saídas dos fundos de renda fixa, que tiveram saques de R$ 20,9 bilhões no mesmo período.
Profissionais do setor dizem que a busca por fundos de previdência que aplicam em Bolsa e renda variável vem ocorrendo desde 2017, quando a taxa básica de juros começou a cair até o nível mais baixo na história, apenas 2% ao ano, derrubando os ganhos das aplicações tradicionais de renda fixa, como títulos do governo. Nessa situação, o aplicador de longo prazo precisou assumir mais risco para garantir a renda no futuro.
O destaque maior ficou com os fundos multimercados, que podem aplicar o dinheiro dos investidores tanto em renda fixa como em renda variável.
Desde que o país começou a conviver com taxas muito baixas, não há mais investimento extremanente conservador entregando rendimento de dois dígitos. Isso exige maior diversificação. O fundo multimercado é um meio termo, entre a renda fixa e a renda variável porque pode aplicar nas duas categorias, que permite que o investidor possa ir assumindo riscos gradativamente.
Mauro Guadagnoli, superintendente comercial da Brasilprev
Fundos de pensão também crescem
Depois de cair 60% no primeiro trimestre, o Ibovespa iniciou uma reação para encerrar o ano nos níveis pré-crise, subindo nesse percurso mais de 70%. Essa recuperação da Bolsa ao longo de 2020 foi importante para que os fundos de previdência fechados também continuassem captando recursos e elevando patrimônio.
Esse segmento fechou 2020 com patrimônio de R$ 1,01 trilhão (mesmo valor da previdência aberta). O crescimento foi de 6,4% em relação a 2019. Desse total, 72,6% estão em renda fixa, ante 72,9% em 2019.
O desempenho do setor em 2020 permitiu ainda uma melhora na saúde financeira dos produtos de previdência privada. Os fundos de pensão atingiram o superávit de R$ 7,6 bilhões em 2020 -o maior desde 2013 (R$ 16,8 bilhões). Ou seja, o patrimônio e as contribuições desses planos são suficientes para cobrir todos os compromissos atuais e futuros.
Os números de 2020 impressionaram. Mas o sistema ainda está muito carregado em renda fixa. E com os juros ainda muito baixos, tivemos sim uma movimentação maior na renda variável, com destaque para os fundos multimercados. Mas agora com a alta da Selic no radar e os juros de longo prazo subindo por causa de incertezas com relação à economia e com os problemas fiscais, acredito que esse movimento deve perder força pelo menos este ano".
Luis Ricardo Martins, presidente da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar)
Cenários para 2021
A volta da alta dos juros e as incertezas sobre a economia brasileira este ano e em 2022 podem desacelerar a migração de dinheiro da renda fixa para a renda variável, mas não interromper o fluxo, tanto na previdência aberta como na fechada, dizem profissionais do setor.
Para 2021, a expectativa é que o Ibovespa ainda permaneça oscilando por causa de incertezas que continuam dominando o cenário. Diferentemente do início de 2020, quando sequer havia certeza sobre se e quando haveria vacinas contra a covid-19, há vacinas e a imunização já está acontecendo. Mas o ritmo desse processo e a segunda onda de contaminação muito mais grave que a primeira preocupam a todos.
Incertezas intensificam volatilidade e pode sim levar clientes a terem maior conservadorismo. Mas esse conservadorismo hoje é diferente do que a gente falava alguns anos atrás. Mesmo numa visão conservadora, não dá para ficar 100% em renda fixa pós fixada.
Mauro Guadagnoli, superintendente comercial da Brasilprev
Antes de movimentar o dinheiro
Nesse ambiente ainda de incertezas e com os juros ainda muito baixos, profissionais de mercado ressaltam que o aplicador de previdência privada deve lembrar que esse tipo de investimento é focado no longo prazo. Por isso, a recomendação é não cair na tentação de movimentar o dinheiro de um fundo ou de um plano para outro sem antes checar eventuais penalidades para esse tipo de troca.
Ainda que um outro produto esteja oferecendo um retorno maior, a movimentação por meio da portabilidade pode ter custos, como taxas de saída.
Há casos em que o custo para movimentar dinheiro em produtos de previdência privada acaba levando uma boa parte do rendimento acumulado em um período. Por isso, é preciso checar com cuidado antes de tomar uma decisão.
Márcia Silva, gerente de desenvolvimento de negócios em investimentos da Sicredi Vale do Piquiri Abcd SP/PR.
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