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Fundos de games ficam mais acessíveis para investidor comum; vale a pena?

Rejane Aguiar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/04/2021 04h00

O universo dos games pode parecer brincadeira de adolescente ou passatempo de adultos aficionados em tecnologia, mas já tem muita gente ganhando dinheiro com eles — e isso inclui os investidores do mercado financeiro.

Não é à toa: esse mercado movimenta cerca de US$ 160 bilhões por ano no mundo, segundo dados da Newzoo, plataforma de estatísticas do setor. Esse valor é maior do que as indústrias do cinema e da música somadas —aproximadamente US$ 50 bilhões e US$ 20 bilhões, respectivamente, segundo o banco Goldman Sachs.

As opções de investimentos nesse segmento, antes restritas àqueles que têm mais recursos, chegam com força ao investidor comum. Gestoras independentes e até a área de investimentos de grandes bancos oferecem fundos temáticos de games. Mas será que vale a pena investir nesse setor? Quais cuidados os investidores precisam ter? Confira o que dizem os especialistas ouvidos pelo UOL antes de investir.

Demanda maior por diversificação impulsiona setor

A popularização dos games como ativos financeiros no Brasil é resultado da combinação de demanda dos investidores — que, com os juros em queda, precisam encontrar boas alternativas de diversificação — com a flexibilização da regulamentação, obra da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o órgão regulador do mercado.

Desde o ano passado, os BDRs (Brazilian Depositary Receipts), recibos negociados no Brasil que representam ações listadas em bolsas no exterior, podem estar nas carteiras de qualquer investidor. Essa permissão facilitou a estruturação e a diversificação dos fundos de games, já que não há papéis na Bolsa brasileira de empresas essencialmente desse setor.

Gestoras independentes, como Vitreo, Warren e XP, já montaram fundos de games, e agora têm a companhia da BB DTVM, gestora de recursos do Banco do Brasil, que recentemente lançou um fundo. O Itaú também já oferece um produto com essa temática.

Esses fundos podem comprar, na Bolsa (B3), BDRs de companhias do segmento de games como Bilibili, Sony, Take-Two e Disney, além das indiretamente ligadas a esse universo, como Apple, Intel, Microsoft e TSMC. A depender do regulamento, podem também comprar ações de companhias de games no exterior.

A aposta nesse setor é de fato promissora. Apesar de movimentar cifras enormes, metade do mercado ainda está concentrada nos Estados Unidos e na China, mas outros países asiáticos também têm bastante relevância —ou seja, há ainda muito espaço para outros países desenvolverem o setor. A pandemia também foi fator que acelerou o crescimento desse mercado e abre novas oportunidades para as empresas.

Setor de games atua em vários segmentos da economia

Parte da grande força do setor está no fato de estender seus tentáculos a muitos segmentos da economia, de tecnologia de animação a processadores, de hardwares a plataformas de streaming. Estas, aliás, têm sido um dos destaques, com alguns jogos ao vivo sendo acompanhados por centenas de milhares de espectadores — que pagam pela atração.

Vinícius Vieira, head de gestão de fundos ativos da BB DTVM, afirma que está em curso uma mudança geracional. A geração Z, das pessoas que nasceram a partir de 1996, começa a ser economicamente ativa e é grande consumidora de games.

Por essa lógica, o cenário pode favorecer receitas crescentes por um longo período, o que é bom para as empresas e para os investidores. "A indústria de games é uma das que mais crescem no mundo, o céu é o limite", acrescenta Rodrigo Knudsen, portfolio manager da gestora Vitreo. Para ele, a ideia é que o investidor, dessa forma, diversifique sua carteira com ativos internacionais e também com câmbio.

Câmbio é primeiro ponto de atenção dos investidores

O câmbio é, justamente, o primeiro ponto de atenção dos investidores antes de entrar em um fundo de games. Alguns fundos têm proteção contra a oscilação da moeda — ou seja, os ganhos são em função dos preços dos ativos. Já outros estão expostos à variação cambial, o que significa que o cotista tem como rendimento a variação dos ativos mais as oscilações do câmbio. A escolha deve ser feita de acordo com o grau de resistência a risco do investidor.

Vale também observar se o objetivo do fundo conversa com o perfil, a tolerância à volatilidade e aos riscos atrelados aos ativos, prazos, possibilidades financeiras e o quanto o investimento nesse ativo representará do patrimônio.
Paula Sauer, professora de finanças e planejadora financeira

A planejadora financeira Viviane Ferreira lembra que o investimento em fundos de games é, como acontece com qualquer outro fundo de ações, de longo prazo —ou seja, para resgate em pelo menos cinco anos.

Além disso, esses fundos podem não ter grande liquidez. Ou seja, se precisar resgatar os recursos o investidor tem que esperar um pouco. Por isso recomendo que as pessoas só invistam nesse tipo de fundo se antes já tiverem a reserva de emergência em ativos mais líquidos.
Viviane Ferreira, planejadora financeira

Crescimento do mercado pode deixar os fundos caros

Outro ponto de atenção é a hora de entrar ou sair de um ativo. O investidor precisa confiar na capacidade do gestor de avaliar a hora de entrar e sair de certa ação ou BDR. Esse aspecto é muito importante no setor de games, ressalta Viviane Ferreira, já que seu crescimento pode acabar deixando as empresas muito "caras" na Bolsa. "Se os preços estiverem muito altos, o potencial de ganho pode não ser muito grande", diz.

Vale, ainda, comparar as taxas de administração considerando o tipo de gestão — ativa, com seleção de ativos, ou mais passiva, com compra de ETFs (fundos de índices).

Mais um cuidado está relacionado a um aspecto emocional, relevante quando se fala de games.

É preciso que o investidor separe a afinidade com o produto ou serviço dos fundamentos da empresa e dos riscos não diversificáveis associados ao investimento. Uma coisa é investir no produto, outra coisa é investir na empresa. Nas finanças comportamentais, esse comportamento é chamado de 'heurística do afeto': ao avaliar algo de que gostamos, tendemos a minimizar seus riscos e custos e exagerar seus benefícios.
Paula Sauer

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