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Poupança ganha com aumento de juros; vale a pena investir agora?

Veja quanto vai render a poupança se a alta dos juros e desaceleração da inflação previstas pelos economistas se confirmarem - Getty Images
Veja quanto vai render a poupança se a alta dos juros e desaceleração da inflação previstas pelos economistas se confirmarem Imagem: Getty Images

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

12/05/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Rendimento da poupança depende da Selic, a taxa básica de juros
  • Selic voltou a subir, após quase cinco anos em queda, mas ainda é menor que inflação
  • Profissionais de mercado dizem em quais casos a poupança vale a pena

A poupança passou a render mais este ano com o aumento da taxa básica de juros, a Selic. Esse indicador é usado para determinar o rendimento da caderneta. Quanto mais alta a Selic, melhor o ganho da aplicação que já existe há 160 anos.

O aumento do rendimento da poupança ainda não é suficiente para a aplicação entregar ganho real ao aplicador. Isso porque a variação da caderneta ainda está perdendo da inflação. Mas a expectativa é de que a taxa básica de juros continue subindo até o fim do ano que vem e que a inflação desacelere nesse período.

Se essas estimativas se confirmarem, vai valer a pena deixar o dinheiro na poupança? Confira abaixo o que disseram os especialistas ouvidos pelo UOL.

Segundo dados mais recentes do Banco Central, o saldo atual das cadernetas no país soma R$ 1,02 trilhão. Em abril, essas contas receberam aplicações líquidas - ou seja, já descontando os resgates - de R$ 3,8 bilhões, depois de ficar no negativo por três meses. Mas no ano, o resultado de entradas menos saídas é negativo ainda em R$ 23,7 bilhões.

O aumento da Selic melhora um pouco o apelo da poupança junto ao investidor. E mesmo com o rendimento ainda baixo, a poupança é uma aplicação que está na cabeça dos brasileiros, existe há 160 anos e passa a sensação de tradição e segurança.
André Vilar, fundador e Ceo da Monis, fintech de investimentos

Por que a alta da Selic ajuda a poupança?

O rendimento da poupança é igual a 70% da taxa básica de juros, a Selic. Assim, com uma Selic de 3,5% ao ano, o rendimento da poupança atual é de 2,45% ao ano. Essa regra vale enquanto a Selic estiver abaixo de 8,5%. Se a Selic estiver acima de 8,5%, o rendimento passa a ser fixo e igual a 0,5% ao mês mais a variação da TR (Taxa Referencial), que hoje é zero.

Selic está em alta

Depois de bater 14,25% em agosto de 2015, a Selic começou a cair em outubro daquele ano, até atingir 2% em setembro de 2020. Ficou nesse patamar até março deste ano, quando voltou a subir. Está agora em 3,5%.

Segundo projeções da maioria dos economistas do mercado, a Selic vai continuar subindo até 5,5%, no fim deste ano, e depois, a 6,5% no fim do ano que vem.

Se essas projeções se confirmarem, a poupança fecha 2021 com rendimento de 3,85% e 2022 rendendo 4,55%.

E a inflação vai desacelerar

Para a poupança realmente dar ganhos ao aplicador, ela precisa bater a inflação.

A inflação oficial do governo usada para definir os juros é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que fechou abril com variação acumulada de 6,76% em 12 meses. Ou seja, está batendo com sobra a Selic.

Mas as projeções dos economistas de mercado são de que o IPCA feche 2021 com 5,06% e 2022 com variação de 3,61%.

Veja abaixo como fica o rendimento de R$ 1.000,00 aplicados na poupança por 12 meses, levando em consideração essas projeções de economistas de mercado, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central.

Com inflação e Selic atuais

  • Rendimento líquido: R$ 24,50
  • Ganho real descontando inflação: perda de R$ 43,10

Com inflação e Selic no fim de 2021

  • Rendimento líquido: R$ 38,50
  • Ganho real descontando inflação: perda de R$ 11,56

Com inflação e Selic no fim de 2022:

  • Rendimento líquido: R$ 45,50
  • Ganho real descontando a inflação: ganho de R$ 9,40.

Poupança vale a pena?

Levando em conta esses cenários, a poupança pode valer em alguns casos, dependendo da finalidade dos aplicadores, segundo profissionais de mercado.

Quanto maior forem os juros reais, mais atrativa fica toda renda fixa, incluindo a caderneta de poupança. Mas como os juros estavam muito baixos e como a inflação ainda está alta, eu diria que a poupança não ficou melhor, mas sim menos ruim.
Valter Police, diretor de planejamento financeiro da Fiduc, plataforma de planejamento financeiro

Segundo profissionais de mercado, a poupança hoje pode ser uma aplicação para:

  • Porta de entrada no mundo dos investimentos: para muitas pessoas que estão começando a poupar dinheiro, a poupança pode ser a porta de entrada, a primeira experiência. Como tem risco zero para aplicações até R$ 250 mil por causa do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), a poupança é uma forma da pessoa ir criando o hábito de juntar dinheiro;
  • Reserva de emergência: dinheiro com disponibilidade imediata para situações inesperadas e despesas que a pessoa não tinha planejado;
  • Redução de riscos: numa carteira de investimentos de longo prazo, uma parte do dinheiro pode ficar na poupança para equilibrar o risco da aplicação mais arriscada, como aquela que fica na Bolsa. Em momentos de volatilidade, a caderneta funciona como um amortecedor.

Poupança tem alternativas?

A poupança não é uma unanimidade entre os consultores financeiros. Há profissionais que, neste momento, preferem sugerir outras aplicações mesmo para reserva de emergência.

A verdade é que mesmo com a alta da Selic, ainda há produtos mais interessantes no mercado, como CDBs de liquidez diária, que rendem mais que a poupança, podem ser resgatados a qualquer momento sem perdas e também possuem a garantia FGC para até R$ 250 mil.
Laura Bartelle, sócia da 051 Capital gestão de patrimônio

O perfil do brasileiro padrão que aplica em poupança não é aquele que analisou diversas sugestões de investimentos, refletiu e pesou todas elas para só então optar pela poupança como melhor opção. A poupança é resultado da aplicação automática que bancos fazem para entregar algum rendimento, mesmo pequeno, ao correntista que ainda não decidiu o que fazer com o dinheiro que fica parado na conta corrente do banco.
João Beck, economista e sócio da BRA

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