BC demora para subir juros e alta deve prejudicar retomada, dizem analistas
O Banco Central (BC) aumentou os juros da economia de 4,25% para 5,25% ao ano, decisão já esperada por analistas do mercado financeiro. Foi a maior alta em 18 anos, mas o que surpreendeu foi o tom do BC no comunicado da reunião que decidiu pela elevação da taxa para o maior patamar desde 2019. Nela, o BC disse ver piora no quadro da inflação e sinalizou que deve subir os juros de novo, com a mesma intensidade, na próxima reunião, levando a taxa para 6,25% ao ano.
Caso essas expectativas sejam cumpridas, os juros devem chegar a um patamar restritivo até o final do ano e impactar o crescimento da economia, que mal se recuperou da pandemia. Vale lembrar que o BC sobe a taxa na tentativa de conter a alta dos preços. Mas esse avanço mais acelerado dos juros coincide com um momento de novas incertezas sobre a pandemia da covid-19 e de retomada mais consistente das atividades. Veja abaixo o que economistas e analistas dizem sobre alta dos juros.
Preços subiram além do esperado
"Fortes pressões inflacionárias recentes, provenientes da crise hídrica, com impactos nos preços da energia, além da questão climática, que deve afetar preços dos alimentos no curto prazo, recomendavam atuação mais firme do BC", afirmou Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.
Para Thomás Gilbertoni, analista da Portofino, a decisão do BC de aumentar os juros foi necessária, pois a alta dos preços está indo muito além das projeções. A meta para a inflação de 2021 é de 3,5%, mas o mercado financeiro prevê quase o dobro disso (6,8%) até o final do ano. "O comunicado do BC veio mais duro do que se imaginava. Antes não era comentada a elevação de juros acima do patamar neutro", afirma Gilbertoni. No patamar neutro, quando os juros são de até 7% ao ano, a taxa não chega a desestimular o crescimento da economia, explicam os economistas.
"O atual balanço de riscos [sobre a inflação] indica que a taxa Selic pode chegar a um patamar acima do neutro, ou seja, podemos ter uma taxa mais restritiva ao fim de 2021", diz relatório do Banco Inter, assinado pela economista-chefe, Rafaela Vitória.
Para a economista da Toro Investimentos Paloma Brum, o Comitê de Política Monetária (Copom) demorou para responder à inflação de forma eficaz.
"O Copom está relativamente atrasado para manter a inflação sob controle, por isso, precisa realizar uma normalização [subir os juros] mais acelerada da Selic, o que já começou após a última reunião [do comitê]", diz.
Preocupação com os gastos do governo
Além da inflação, o Banco Central deixou claro que os próximos ajustes nos juros da economia também devem refletir preocupações com o nível de endividamento do governo.
A recriação do Ministério do Emprego e Previdência, a possibilidade de atrasar o pagamento de precatórios (dívidas judiciais do governo) para turbinar o Bolsa Família em ano de eleição presidencial e a lentidão na votação de reformas consideradas importantes, como a tributária, agravou a preocupação com as contas públicas.
"O BC está sozinho tentando matar no peito a inflação, pois deixa claro que não pode contar com a ajuda da política fiscal", afirma Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
"O BC pondera que a continuidade das reformas são essenciais para o ajuste das contas públicas e, se não houver isso, a taxa de juros estrutural da economia pode se elevar", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Decisão tem impacto imediato na renda fixa
Quando os juros sobem, os investimentos em renda fixa também ficam mais rentáveis, mas o ganho real dessas aplicações continua sendo prejudicado pela inflação. A poupança, por exemplo, paga 70% do CDI, taxa que acompanha a Selic e passa a ser de 5,15%. Mas a rentabilidade real da aplicação continua negativa.
Em comentários feitos após a decisão do Copom, a analista de renda fixa da XP, Camila Dolle, explicou que a alta dos juros deve ter impacto negativo para títulos de curto prazo e positivo para vencimentos mais longos.
"A relação entre juros e preços de títulos é inversa. Se a gente tem uma redução de expectativa de juros lá na frente, esses títulos [mais longos] tendem a se valorizar. No curto prazo, como a expectativa é de elevação dos juros, eles tendem a se desvalorizar", diz Camila.
Essa é a dinâmica da marcação a mercado e afeta quem vai vender o título antes do vencimento. Mas se o investidor mantiver a aplicação até o final do seu prazo, vai receber a rentabilidade que foi combinada quando comprou o papel.
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