Urânio, hidrogênio, propósito social: investimento sustentável vale a pena?
A sustentabilidade e o bem-estar da sociedade têm ganhado cada vez mais espaço na carteira de investimentos dos brasileiros, principalmente após os debates da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP26, em Glasgow (Escócia).
Entre as alternativas estão fundos de energia, ETFs e ações. Apesar de os investimentos sustentáveis ainda serem algo recente no mercado de capitais no Brasil, já se começa a observar uma diversidade de opções a partir de R$ 100.
Os fundos atrelados ao conceito ESG (Environmental, Social and Governance), de empresas que atendem a critérios de sustentabilidade ambiental, social e de governança, estão entre as opções para o investidor brasileiro. Mas há, ainda, outras formas de aplicar o dinheiro.
Roberto Agi, head da Alta Vista Private, explica que se podel aderir à sustentabilidade na hora de investir de duas formas: por meio da renda fixa (quando se empresta dinheiro para a empresa) ou classe de ações (em que o investidor se torna sócio). É possível investir tanto em uma empresa que tem a preocupação de causar um impacto ambiental positivo, como em companhias que têm aí sua atividade fim, seja na geração de energia limpa ou resolver algum problema ambiental.
Fundos ligados à energia
Recentemente, foi lançado o primeiro Fundo de Investimento em Participações (FIP) de créditos de carbono do Brasil, popularmente chamado de FIP Carbono, que captou R$ 51 milhões de 60 cotistas em quatro meses.
Já o fundo de urânio, lançado em janeiro, teve valorização superior a 23% apenas em outubro. No ano, a alta chega a 69%.
Há ainda fundos ligados a fontes limpas de energia (como hidrogênio) e índices, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE B3. Ou ainda, a opção de investir em empresas que têm na sua estratégia de negócios a preocupação com iniciativas sustentáveis, mesmo que suas atividades não estejam atreladas diretamente a esse propósito.
Investidores mais focados em propósitos sustentáveis
Por enquanto, explica Felipe Monteiro, head de gestão de patrimônio e investimentos alternativos da Vitreo, a escolha por produtos atrelados à sustentabilidade ainda se concentra nas mãos de fundos ou investidores com um patrimônio elevado (acima de R$ 1 milhão). Mas a expectativa é de que um novo público — mais jovem — domine, aos poucos, esse mercado.
"Há uma mudança geracional em curso. Quem investe hoje [em produtos sustentáveis] ainda busca primeiro a rentabilidade. Mas conforme as gerações Z e millennium avançam em termos de patrimônio, a expectativa é que elas busquem cada vez mais ativos segundo seus propósitos", disse Monteiro.
Nelson Muscari, coordenador de fundos da Guide Investimentos, lembra que essas são gerações que querem ganhar dinheiro com propósito, por isso a tendência é que busquem cada vez mais "empresas sustentáveis que fazem diferença no micro e macro ambiente".
Quanto investir em empresas sustentáveis
Para quem vai começar a investir em negócios que estejam vinculados ao tema da sustentabilidade, Monteiro, executivo da Vitreo, sugere um aporte inicial de 1% do patrimônio, podendo estabilizar entre 5% e 10% com o passar do tempo.
"É importante sempre buscar opções não correlacionadas para a carteira. Por exemplo, não investir apenas em ativos atrelados ao carbono ou à água, mas sim buscar uma diversificação para minimizar os riscos", afirma.
Muscari, da Guide, propõe que a fatia do patrimônio do investidor nesses ativos não passe de 5%. Para o especialista, é possível buscar alternativas em empresas de diferentes setores que adotem boas práticas no seu dia a dia — como a redução das emissões de CO2, a melhora da eficiência da cadeia de produção com o objetivo de reduzir o uso de recursos naturais.
Cuidados
Quem acompanha de perto o avanço do ESG no mercado de capitais garante que empresas sustentáveis tendem a gerar negócios mais perenes, já que reduzem uma série de riscos socioambientais e de governança. Mas ainda não há consenso na hora de comparar o desempenho de empresas que seguem ou não a cartilha da sustentabilidade, segundo o executivo da Vitreo.
"Hoje, o desempenho entre elas é pelo menos igual. No longo prazo, acredito que os resultados de quem atende ao conceito ESG serão muito promissores, mas ainda é difícil de quantificar", disse Monteiro.
Como essa classe de ativos ainda é recente, Roberto Agi, da Alta Vista Private, acredita ser difícil mensurar resultados. "Temos uma amostra muito pequena ainda, e o prazo ainda é curto para fazer comparações, por isso qualquer tentativa de separar quem tem carimbo ESG pode incorrer em erro", afirmou.
O head da Alta Vista Private alerta para que os investidores tenham atenção antes de qualquer decisão, para não embarcarem no chamado "greenwashing" — quando empresas se apropriam do conceito ESG, mas apenas como ação de marketing. Por isso, é importante saber qual é a tese de investimento (o que a empresa está buscando de resultado para o fundo) e quem é o gestor do fundo.
Agi lembra que há casos de empresas do setor de petróleo que, apesar de fazerem parte de uma atividade danosa ao meio ambiente, estão listadas em fundos ESG, por isso é tão importante avaliar bem a proposta de investimento antes de bater o martelo.
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