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Investimento 'castiga' Bolsa quando ela não bate metas sociais e ambientais

Bolsa de Valores de SP é a primeira no mundo a emitir títulos atrelados a metas sociais - Amanda Perobelli/Reuters
Bolsa de Valores de SP é a primeira no mundo a emitir títulos atrelados a metas sociais Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Raphael Coraccini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/09/2021 04h00

A B3 (B3SA3) lançou na última semana títulos de dívida — Sustainability-Linked Bond (títulos atrelados à sustentabilidade, em tradução livre) —ligados a metas de diversidade que a empresa passa a assumir. A B3 é a primeira Bolsa de Valores do mundo a emitir um título dessa natureza. E caso ela não cumpra as metas que estabeleceu para si, ela vai "compensar" o investidor, dando um ganho extra.

Os especialistas ouvidos pelo UOL explicam que esse título lançado pela empresa que administra a Bolsa de São Paulo não é para todo mundo e tem algumas restrições importantes. Saiba quem pode acessá-lo, por enquanto, e quais são os potenciais do novo título ESG (práticas de governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês) da B3. Leia abaixo.

Compromisso com diversidade

Segundo a B3, os compromissos previstos estão atrelados principalmente à diversidade.

Uma das metas da Bolsa é atingir um percentual de 35% de mulheres em cargos de gerência, superintendência e diretoria até 2026. A outra meta diz respeito a criação, até 2024, de um índice de inclusão para estimular a diversidade nas empresas que operam na Bolsa de Valores.

"É importante que seja um índice que entregue essas demandas, ao mesmo tempo que tenha ativos líquidos, para que possam ser replicados por fundos, por exemplo", diz Cesar Sanches, superintendente de sustentabilidade da B3.

A remuneração desses títulos SLB, conhecidos como bonds (títulos de dívidas), será de 4,125% ao ano e pode aumentar para 4,375% caso nenhuma das metas seja entregue. Cada meta tem uma penalidade de 0,125% caso não haja o cumprimento.

A ideia é que essa penalidade incentive e Bolsa a cumprir as metas que se propôs. Para os analistas, isso aumenta a credibilidade da Bolsa.

Novo investimento ajuda a evoluir o mercado, diz analista

Marcella Ungaretti, analista research ESG da XP, destaca como aspecto positivo do novo investimento o fato de a B3 ter colocado duas metas claras e de uma delas ser um incentivo a outras empresas.

"Ao ser um bond da B3, tais metas implicam também uma evolução do mercado de capitais como um todo — evolução que vemos como extremamente importante", diz a analista.

Outro aspecto positivo dos títulos é gerar credibilidade da B3 com o mercado. Henrique Zimmermann, chefe da região Nordeste da assessoria de investimentos VLG Investimentos, diz que a inclusão de metas ESG na empresa indica boa governança para os investidores.

O Brasil já detém índices que avaliam aspectos relacionados a ESG, como o Índice de Governança Corportativa (IGC), índice de empresas com tag along diferenciado (ITAG), selo de Novo Mercado, Índice Carbono Eficiente (ICO2), Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

"Historicamente, empresas que participam desses índices tendem a ser mais longevas e seguras. São empresas mais organizadas e que estão se preocupando com seu papel na sociedade, já fizeram o dever de casa e possuem uma gestão diferenciada", afirma Zimmermann.

Títulos têm baixa rentabilidade, diz especialista

Empresas que emitem ativos ESG, normalmente estão em estágios mais maduros de desenvolvimento corporativo, é o que diz Laszlo Lueska, gestor da Octante Capital, empresa que administra patrimônio. Mas o analista critica a baixa rentabilidade dos títulos da B3.

"São ativos de renda fixa com menor rentabilidade quando comparado a ativos não ESG. Estamos falando de uma diferença de rentabilidade que pode variar entre 0,10% e 0,40% ao ano e com 0,25% ao ano a menos que um título semelhante que a B3 emitiria sem selo verde", afirma Lueska.

Para Renan Bento, analista de renda fixa da Guide Investimentos, as taxas relativamente baixas de rentabilidade, além da baixa liquidez, fazem do título pouco atrativo.

Novo investimento não é para qualquer um

Esses títulos de dívidas poderão ser comprados apenas por investidores institucionais qualificados e residentes no exterior, ao menos por enquanto. Ou seja, empresas com investimentos superiores a US$ 200 mil. Mas há a possibilidade de o investidor brasileiro pessoa física recorrer a esse investimento no futuro.

Ariane Benedito, economista da corretora CM Capital, explica que os títulos ESG, como os da B3, são geralmente reservados para investidores qualificados, mas que há uma gradual abertura desses ativos para o mercado.

"Pessoas físicas podem participar desse tipo de investimento através de fundos de ESG, compra direta em ações de empresas que estão nessa categoria ou via ETFs de índices de sustentabilidade negociados na Bolsa de Valores", diz Ariane.

Já Bento, da Guide, não é tão otimista em relação à disponibilidade do novo investimento para o pequeno investidor.

"Tendo em vista que a emissão é muito recente, não vemos no curto ou médio prazo este ativo disponível para o pequeno investidor", diz.

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