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Privatização da Eletrobras permitirá compra de ações com FGTS; vale a pena?

Eletrobras passará a ofertar ações na B3 e em Nova York; entenda se vale investir - Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Eletrobras passará a ofertar ações na B3 e em Nova York; entenda se vale investir Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/02/2022 04h00

Após muitos debates, a privatização da Eletrobras (ELET6) parece ter voltado à tona. Em janeiro, a empresa anunciou que pretende registrar, já no segundo trimestre, os pedidos para uma oferta global de ações. No Brasil, a ideia é distribuir ações na B3, a Bolsa de Valores brasileira, e permitir a compra até com o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Nos Estados Unidos, ofertar ADRs, que são recibos de ações negociadas nas Bolsas norte-americanas.

Com o registro de oferta pública global, o investidor deve adquirir mais ações da Eletrobras? Será um bom momento para quem pensa em começar a investir na companhia? Especialistas entrevistados pelo UOL respondem a essas dúvidas logo abaixo.

Por que aderir à oferta pública global?

O chefe de análise de ações na Órama Investimentos, Phil Soares, explica que além de ser listada na Bolsa onde é realizada a abertura de capital (processo chamado de IPO, que é quando a empresa estreia no mercado de ações), ela também pode estar presente em outras Bolsas de Valores mundo afora.

O ADR é um certificado que representa determinada ação de uma companhia de capital aberto no exterior, assim como a BDR (Brazilian Depositary Receipt). Portanto, não se trata de ação em si, mas de um certificado ou título que representa aquele ativo.

Mas, ao invés da empresa ser listada originalmente em um país estrangeiros —a exemplo do que ocorre no Brasil com as BDRs de gigantes de tecnologia como Google e Apple ou do próprio Nubank—, ela está presente no Ibovespa e tem o seu certificado oferecido por corretoras locais de outros países.

Assim, a Eletrobras ampliará sua gama de acionistas, atraindo também investidores americanos de olho na empresa brasileira e transformando-se de estatal para companhia privada.

A privatização da Eletrobras

O processo de privatização da Eletrobras se dará por uma oferta primária de ações (IPO) por meio de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Nela, o governo federal deixará de ter 72,33% das ações com direito a voto que tem hoje e passará a ter 45% —deixando, assim, de ser o acionista majoritário e, então, principal responsável pela companhia.

Cruz declara que os investidores brasileiros ficam mais tranquilos com a ideia do governo ter menos poder de interferência na Eletrobras.

Se as pessoas entendem que corre-se o risco de novos tropeços na Eletrobras por conta da condução da política econômica, o preço da ação cai muito. Quando é retirado o poder de interferência do Governo na empresa, esse risco diminui, e o mercado vê como uma tendência positiva.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

No processo de privatização (ou desestatização), os antigos acionistas terão prioridade para a compra das novas ações. Se esse acionista optar por não participar, ele terá uma fração menor na participação total da companhia.

Vale investir na Eletrobras mesmo em ano de eleições?

Com a desestatização, o plano do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é que trabalhadores possam usar até 50% do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) —a partir de R$ 200— para comprar ações da Eletrobras. A expectativa é de que cerca de R$ 6 bilhões do fundo sejam destinados para este fim.

Conforme o plano, os aposentados e empregados da estatal —e das respectivas subsidiárias da estatal— terão prioridade na compra de até 10% das ações ofertadas.

Mas os analistas consultados pelo UOL têm diferentes visões sobre a Eletrobras ser um bom negócio de investimento neste momento —mesmo com o plano de aproveitamento do FGTS.

Phil Soares, da Órama, diz que a estatal tem investimentos de "extrema qualidade", com atuação nos segmentos de geração e transmissão, que são mais atrativos. Assim, ele entende que vale a aposta. "O processo de simplificação da estrutura da Eletrobras envolveu a venda de diversos negócios menores que não eram lucrativos, como as distribuidoras regionais de energia", diz.

Por outro lado, Gustavo Cruz afirma que a empresa até está na carteira recomendada da RB Investimentos, mas que a perspectiva para a companhia ainda é "nebulosa" para 2022. Por conta das eleições, ele declara que o melhor no momento é evitar os papéis da estatal.

A tendência é que a Eletrobras, Petrobras e outras estatais sofram mais em ano eleitoral por conta de possíveis interferências de uma troca de comando que leve a companhia para outra direção.Se o investidor já tem [Eletrobras na carteira], não precisa sair. Mas, ao longo do semestre, é interessante se desfazer de posições em estatais.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos

Gustavo Akamine, da Constância Investimentos, concorda com Cruz. Para ele, ao mesmo tempo em que os papéis estão com preço abaixo do que realmente valem, ainda há riscos e incerteza quanto ao processo para levantar recursos. "A Eletrobras enfrenta uma série de desafios para finalizar esse processo de capitalização", afirma.

Os analistas reforçam que o momento exige cautela por outra razão: as possíveis discussões a respeito da perda de ativos como a hidrelétrica de Itaipu e investimentos futuros na usina nuclear de Angra 3.

Eles declaram, ainda, que, ao investir no exterior, o investidor deve levar em conta as variações do dólar e os custos com a taxa de corretagem.

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