'Comecei a investir na pandemia e comprei minha casa própria'
Dona de uma agência de relações públicas e formada em economia, Lúcia Furlan, 55, diz que não acreditava muito no retorno que investimentos podiam oferecer. Parecia algo longe para ela. Até que na pandemia começou a investir e, com isso, conquistou a tão sonhada casa própria.
A casa própria é o sonho de muitos brasileiros e pode estar mais perto de se tornar realidade com investimentos, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Para ajudar quem busca comprar um imóvel, confira abaixo possíveis estratégias.
"Passei a ver aquilo rendendo diariamente"
Lúcia mantinha uma prática que aprendeu durante a infância: primeiro assumia novos compromissos financeiros, depois trabalhava para liquidar a dívida. Por mais que tenha se graduado em economia, ela diz que nunca teve o hábito de poupar. Essa prática durou por anos e anos, até o início da pandemia de covid-19, em 2020. "Era uma forma de ter um incentivo para pagar", declara.
Quando veio o período de isolamento para evitar maiores níveis de contágios da doença, todos os seus colaboradores da agência passaram a fazer home office. Lúcia logo percebeu que o gasto do aluguel do escritório era desnecessário e devolveu o imóvel.
Pegou a quantia que antes era destinada ao aluguel da empresa e à gasolina do carro para locomoção até o trabalho, e começou a investir por incentivo do filho. Também vendeu o carro e aplicou o dinheiro.
Todo o valor foi investido em um banco digital que prometeu rentabilidade de 100% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário; ou seja, um título emitido para que bancos façam empréstimos entre si a uma taxa que acompanha de perto a taxa básica de juros —a Selic). A economista passou a ter lucros acima da poupança.
Eu não acreditava muito, sempre fui mais cética em relação aos investimentos. Mas comecei a guardar todo o dinheiro que usava para o aluguel e passei a ver aquilo rendendo diariamente.
Lúcia Furlan, 55, economista que conquistou a casa própria ao investir
Pagamento à vista
Com o tempo, ela buscou a ajuda de um assessor de investimentos e migrou de instituição. Começou a fazer investir em títulos públicos pelo Tesouro Direto. Mesmo com o potencial maior de ganho na renda variável, ela seguiu o seu perfil de risco, considerado conservador.
"A renda fixa é onde eu me sinto mais confortável. Qualquer outra aplicação eu não me sentiria tão bem", afirma Lúcia.
Durante um ano, a economista guardou o dinheiro como se fosse um compromisso financeiro assumido. Depois, resolveu vender o apartamento onde morava e adquirir um novo. Para isso, inteirou a venda com os rendimentos dos investimentos e conseguiu comprar um novo imóvel —algo que, até então, parecia um sonho muito distante.
Na compra do apartamento, o investimento na renda fixa mais a rentabilidade representaram 50% (metade) do valor total. Ela conta ter obtido um desconto de cerca de 20% na aquisição, porque fez uma oferta para fechar o negócio à vista.
"Eles pediram um valor e eu fui negociar. Fiz uma proposta ousada, porque o valor do apartamento era maior do que o que eu tinha. Pela forma de pagamento [à vista], eles aceitaram", diz ela.
Disciplina é fundamental
Para Mayra Lima, assessora de investimentos da Guide Investimentos, para cumprir à risca a meta de adquirir a casa própria é preciso incluí-la no hábito do dia a dia e evitar boicotes. "Um jeito de buscar a poupança desse valor [para pagamento à vista] é encarar como um valor a ser pago, como uma responsabilidade", afirma.
Segundo Gustavo Raposo, CEO da fintech de bem-estar financeiro Leve, para a compra de um bem de alto valor, como um imóvel, é preciso pensar no médio e longo prazo. Assim, vale dividir o objetivo em pequenas conquistas para manter o hábito de poupar no dia a dia.
"Uma boa dica é definir o valor que a pessoa precisa para a compra do imóvel e quando ela precisará. A partir disso, vale traçar as metas mensais e anuais de economia", declara.
Além disso, outra orientação é fixar o quanto a meta representa em relação à renda mensal daquela pessoa ou família. Assim, será possível entender se o objetivo pode ser alcançado em um cenário realista, segundo Raposo.
Mas Marcelo Milech, planejador financeiro pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), diz que é necessário, em uma etapa anterior, colocar os gastos mensais em uma planilha e compreender a capacidade daquelas pessoas em economizar.
"Sabendo disso [quanto dá para economizar], é preciso que a família tenha uma reserva de emergência, que são os gastos suficientes entre seis meses a 12 meses das despesas mensais. A partir daí, começa a etapa de estabelecer uma poupança para pensar em investir ou na casa própria", diz Milech.
Renda fixa ou renda variável: qual a melhor opção?
Para Mayra, da Guide Investimentos, ao fazer a diversificação do patrimônio entre a renda fixa e a renda variável, o investidor pode diluir o risco ao máximo e elevar a rentabilidade. Para definir a escolha entre os diferentes tipos de produtos, ela aconselha observar o horizonte daquele investimento.
"O primordial é entender se a pessoa que está pensando em comprar essa casa tem um perfil que aceita tomar mais risco. E se tiver, ponderar o tempo, como três anos ou cinco anos [para resgate do dinheiro]", declara.
Para a especialista, três pontos devem ser considerados: o valor do imóvel, a capacidade limite para poupar e a taxa de retorno do investimento escolhido.
Para Raposo, da Leve, o mais recomendado para este tipo de objetivo são os produtos de renda fixa, como CDBs e o Tesouro Direto —em um momento como o atual, em que a taxa básica de juros está em 10,75% ao ano, esses ativos se tornam mais atrativos.
No entanto, se o prazo para a compra da casa própria for mais longo, como dez anos, a renda variável pode ser mais interessante. "É importante escolher investimentos atrelados à taxa de juros e à inflação, diversificando em [investimentos] pré e pós-fixados, e também ativos indexados ao IPCA, com vencimentos compatíveis com o prazo planejado para adquirir aquele bem", diz.
Ele indica poupar ao menos 20% da renda total para os investimentos.
Como calcular a poupança necessária?
De acordo com a planejadora financeira Eliane Habib Tiburski, o investidor precisa guardar pelo menos 20% do valor do imóvel —percentual exigido pelos bancos como valor de entrada.
Assim, ela descreve algumas situações:
Se a pessoa deseja comprar um apartamento no valor de R$ 1 milhão, é preciso guardar no mínimo R$ 200 mil. E, para guardar esses R$ 200 mil, a pessoa terá que poupar R$ 3.697 por mês durante quatro anos (48 meses).
Caso o valor total da casa própria seja de R$ 500 mil, é preciso poupar R$ 100 mil (20%). Para isso, pelos cálculos, é necessário guardar R$ 1.848 mil por mês durante os mesmos 48 meses.
Observação: as contas foram realizadas considerando remuneração mensal líquida do investimento de 0,5% ao mês —cerca de 6,17% ao ano líquido de Imposto de Renda, ou uma taxa nominal de 8,22% ao ano.
Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.