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Estrangeiros tiram R$ 18 bi da Bolsa; brasileiros deveriam fazer o mesmo?

Investidores gringos estão saindo da Bolsa; veja o que levou a mudança de humor dos estrangeiros - Getty Images
Investidores gringos estão saindo da Bolsa; veja o que levou a mudança de humor dos estrangeiros Imagem: Getty Images

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/05/2022 04h00

Após a entrada de R$ 68,4 bilhões em capital estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira (B3) nos três primeiros meses deste ano, abril foi marcado pela reversão dessa tendência e a retirada de R$ 7,7 bilhões. Em maio, o movimento é ainda mais claro: a saída dos estrangeiros em massa do país deixou o fluxo de dinheiro externo com um saldo negativo de R$ 10,2 bilhões. No total, a saída de dinheiro estrangeiro alcança R$ 17,9 bilhões até o momento em 2022.

Se no início do ano o Ibovespa estava acima dos 103.000 pontos, com uma perspectiva de retomada dos negócios passado o período mais difícil da pandemia, chegou ao pico dos 121.531,66 pontos em 1º de abril. De lá para cá, porém, despencou mais de 13% e opera acima de 105.000 pontos.

Mas o que levou à mudança de humor do investidor externo? Isso deve permanecer para os próximos meses? E quanto ao investidor brasileiro, o que fazer? Veja o que dizem os analistas consultados pelo UOL.

O analista de renda variável da Ativa Investimentos, Felipe Vella, afirma que, enquanto as grandes economias mantinham as taxas de juros próximas de zero, mesmo com o avanço da inflação, o Banco Central brasileiro iniciou um movimento de reajuste da Selic no final de 2021 para conter os preços.

Nesse meio tempo, economias mais sólidas começaram a adotar a mesma estratégia. No início de maio, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA), aumentou os juros em 0,5 ponto porcentual, para 1% ao ano, o maior aumento em 22 anos. Isso torna o mercado americano mais interessante.

Agora, o Brasil está chegando ao fim do seu ciclo de aumento de juros, enquanto países com riscos menores começam a elevar seus juros e se tornam mais interessantes. Então, o Brasil perde um pouco de vantagem sobre os demais.
Felipe Vella, analista da Ativa Investimentos

Ainda assim, o especialista declara que os juros brasileiros permanecem como os maiores juros reais do mundo —fator importante na relação risco versus retorno dos investidores.

Dúvidas sobre as commodities

Já a estrategista de ações da XP Investimentos, Jennie Li, afirma que a saída do dinheiro estrangeiro da B3 está relacionada às dúvidas gerais sobre a continuidade do crescimento dos preços das commodities (matérias-primas, como petróleo, minério de ferro, soja etc.).

Depois da alta no começo do ano, em função da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, matérias-primas como petróleo e minério de ferro começaram a se estabilizar como resultado dos lockdowns mais recentes na China para conter a pandemia de covid-19. A menor demanda no país asiático impacta diretamente as exportadoras brasileiras.

"Cerca de 30% a 40% das empresas listadas no Ibovespa são ligadas às commodities, que é um índice muito mais alto do que os principais mercados do mundo. Então, nós tivemos um fluxo mais forte [no início do ano] por conta disso. Depois, houve um fluxo negativo com o questionamento dessa tese", diz Jennie Li.

Para a estrategista de ações da XP, o cenário é muito mais "estrutural, e não conjuntural". "Com as incertezas quanto ao crescimento econômico da China, dúvidas sobre o conflito na Ucrânia, e também o sentimento negativo nos mercados por conta da retirada de estímulos monetários no mundo, há uma aversão a risco de forma geral que afeta a Bolsa brasileira", afirma ela.

Afinal, o brasileiro deve sair da Bolsa?

Para os analistas consultados pela reportagem do UOL, o entendimento é que, apesar da debandada de capital externo da B3, a Bolsa brasileira tem opções no momento com preços descontados. Em outras palavras, as ações estão com valores mais baixos do que realmente valem.

O sócio e chefe de análise da plataforma de investimentos Monett, Luiz Cesta, declara que, do ponto de vista de alocação de recursos, o investimento em Bolsa é fundamental para quem busca a valorização do patrimônio a longo prazo.

"A decisão em se ter mais ou menos deveria depender do rebalanceamento de carteira. Não me parece o momento de estar fora da Bolsa porque os resultados das empresas estão bastante satisfatórios, os múltiplos [relação de receita versus valor de mercado] estão baixos", afirma Cesta.

Na opinião de Felipe Vella, da Ativa Investimentos, a Bolsa também deve ser encarada como um espaço de diversificação dos investimentos. "Da perspectiva de alocação de capital, é necessário ter sempre uma fatia em renda variável", diz.

No entanto, em meio às incertezas, Vella fala que o momento atual requer foco em empresas mais defensivas. São exemplos os setores de energia elétrica, seguridade, bancos, saneamento básico e telefonia. "Mas não deixaria de ter alocação em renda variável. É um custo de oportunidade muito grande", afirma.

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